2017-12-31
2017-12-30
Plantas em Lisboa
A imagem de cima foi tirada no Parque das Nações, no jardim Garcia da Orta em 7/Mai/2017. Lembrei-me de a colocar aqui para mostrar a exuberância destas plantas que associamos à s regiões tropicais.
No programa "Grande Entrevista" da RTP o António Mega Ferreira contou que quando Santiago Calatrava veio a Lisboa apresentar o esboço preliminar para a Estação do Oriente passou antes uma ou duas semanas em Lisboa para sentir o ambiente da cidade como preparação para o projecto.
Na apresentação que fez depois à administração da Expo98 mostrou dezenas de imagens com as árvores de Lisboa, concluindo que agora lhe parecia inevitável que a Estação devia ser constituida por uma floresta de árvores estilizadas, como acabou por acontecer.
Os assistentes ficaram algo surpreendidos pois é lugar comum dizer que faltam espaços verdes em Lisboa constatando que afinal sempre existem e ficaram rendidos ao projecto.
Lembro-me duma escritora portuguesa uma vez ter dito que em Lisboa só existiam pedras, seria um momento de pior disposição ou a deformação profissional de alguém que precisa de chamar a atenção dos leitores usando hipérboles.
Aqui ao lado mostro uma pequena inflorescência que fotografei nos Olivais Sul em 4/Jun/2017, não sei o nome desta planta. Ao procurar no Google Images já obtive imagens de inflorescências visualmente parecidas a esta mas ainda diferentes.
A árvore em flor que segue é uma foto de 25/Jun/2017 tirada na Rua Cidade de Benguela, no tempo quente uma pessoa acaba por sair mais de casa e fotografar as plantas
E finalizo com uma imagem do Campo Pequeno, em 28/Set/2017, já no início do Outono mas ainda muito Verão
2017-12-29
Sapiens, Parte I : A Revolução Cognitiva
Gostei muito de ler o livro Sapiens de Yuval Noah Harari, professor de História na Universidade Hebraica de Jerusalém. O subtítulo História Breve da Humanidade é adequado (ou melhor, merecido) pois consegue, nas suas cerca de 500 páginas da versão em português, uma síntese notável do que o Homo Sapiens tem realizado.
O livro divide-se em 4 partes intituladas “A revolução cognitiva”, “A revolução agrícola”, “A unificação da humanidade” e a “Revolução científica”.
Mais do que um resumo do livro refiro os pormenores que mais me impressionaram.
Para começar a constatação que o Homo Sapiens é a única espécie do género Homo, todas as outras se extinguiram ou foram extintas, sendo o Sapiens o principal suspeito.
Depois, a continuação do aprofundamento do estudo da Pré-História, através das técnicas de datação e de identificação de ADN de vestígios que vão sendo descobertos nos mais variados locais do planeta.
Vão-se acumulando evidências, já referidas por Jared Diamond, do papel do Sapiens nas extinções das megafaunas americana e australiana, iniciadas quando chegou a estes continentes. Estima-se que há 70000 anos existiriam cerca de 200 géneros de grandes mamíferos terrestres com mais de 50 quilos. Quando se iniciou a revolução agrícola há 12000 anos não existiriam mais do que 100.
A “revolução cognitiva” que se desenvolveu entre 70000 e 30000 anos atrás, refere-se à criação do que actualmente se considera a Cultura de uma comunidade, com as suas crenças, práticas, lendas e mitos, tendo estas últimas segundo o autor um papel crucial viabilizando a cooperação de grandes grupos de seres humanos, dando-lhes uma vantagem decisiva sobre as outras espécies. Por exemplo os chimpanzés raras vezes conseguem constituir grupos com mais de 50 elementos, a partir desse valor o grupo torna-se instável e parte-se em dois ou mais subgrupos.
A transmissão da Cultura é muitíssimo mais rápida do que a incorporação de características inatas através do ADN, possibilitando adaptações muito rápidas a alterações do meio envolvente, quer no tempo quer no espaço.
O autor mostra bastante simpatia pelo estilo de vida dos caçadores recolectores que, pelos exemplos das comunidades ainda existentes, possuíam um conjunto importante de conhecimentos sobre as plantas e os animais que lhes permitiam viver sem precisar de trabalhar tanto como os agricultores que lhes sucederiam.
Este texto já vai longo, vou deixar o resto para outro(s) post(s).
2017-12-27
Balões bomba japoneses
Através deste obituário do soldado americano Clarence Beavers do jornal Expresso tomei conhecimento da existência de uma unidade do exército americano que teve como uma das tarefas apagar incêndios florestais, sobretudo na Califórnia, causados por balões incendiários lançados pelo Japão durante a segunda grande guerra.
A notícia tem aspectos muito curiosos, começando pela capacidade do Japão explorar a existência de correntes de jacto (jet streams), que são correntes de ar que ocorrem entre os 9 e os 12 km de altitude, com velocidades que podem atingir 160km/h e que entre os 30 e 60 graus de latitude sopram de oeste para leste, para bombardear os EUA.
A existência destes ventos afecta bastante os tempos de viagem intercontinentais, por exemplo da Europa para a América do Norte ou para o Extremo-Oriente. Tendencialmente as viagens para leste são mais breves para igual distância (ou gastam menos combustível) mas como estas correntes de ar são instáveis criam incerteza na hora de chegada ao destino.
Diziam que um balão destes demorava 3 dias a percorrer a distância desde o Japão até à costa oeste dos EUA. No Google Earth vi que da ilha mais ao norte do Japão até ao norte da Califórnia são 7200km, até Los Angeles 8000km. Dividindo 7200km por 3 dias dá 2400km/dia, com uma velocidade média de 100km/h o balão conseguiria fazer a viagem em 3 dias.
Os balões eram de hidrogénio e causaram alguns incêndios na costa Oeste. Contudo os jornais americanos contactados pelas autoridades, após uma ou duas notícias sobre balões misteriosos, autocensuraram-se com grande êxito provocando o abandono do programa por parte do Japão pois os estragos provocados pelos balões não eram visíveis nos jornais.
A seguir mostro uma foto de um destes balões, recuperado pela Marinha dos EUA, com uma figura humana ao lado dando a escala
Curiosa também a existência de uma espécie de apartheid no exército americano, com unidades compostas exclusivamente por negros. Pensei que em Portugal não existia esta situação mas depois constatei que na "metrópole", no início da última guerra colonial, os negros que existiam eram os cabo-verdianos que tinham começado a vir trabalhar para as obras para substituir a mão-de-obra que emigrara para França. Assim, os batalhões mobilizados para a Guiné-Bissau, onde eu estive durante um ano, eram formados na metrópole e não me lembro de ver pessoas de cor.
Na Guiné existiam os "Comandos africanos" unidades militares compostas por guineenses e possivelmente cabo-verdianos, provavelmente enquadradas por oficiais da metrópole.
Se Portugal fosse um Estado Unitário, como nos queriam fazer crer na disciplina de "Organização Política e Administrativa da Nação", os jovens recrutas de todo o Império deveriam ir prestar o serviço militar obrigatório em sítios diferentes da terra em que tinham nascido, como se fazia dentro da metrópole. Não faço ideia das regras seguidas em Angola, Moçambique etc., mas sei que não havia mistura significativa de colónia para colónia, muito menos para a metrópole.
É também curioso notar como o Pacífico não é uma separação tão grande como parece à primeira vista, que a primeira arma de alcance intercontinental foram estes balões japoneses e que próximo do Japão se situa a Coreia do Norte, que pretende ameaçar os EUA, desta vez com mísseis de alcance intercontinental.
E ainda que a Califórnia tem tido neste ano incêndios de proporções enormes devido principalmente a alterações climáticas cuja principal responsável tem sido a nação americana.
2017-12-24
Feliz Natal
Esta época natalícia é propícia para se revisitar obras de arte envolvendo a Nossa Senhora e o Menino Jesus
Desta vez mostro uma representação da Senhora e Menino dum mosaico bizantino do século VI existente na Angeloktisti em Chipre, de autor desconhecido
e o mesmo tema 1500 anos depois, numa interpretação de George Kotsonis
Desejo a todos os leitores deste blogue um Feliz Natal e um Bom Ano Novo 2018.
2017-12-23
Trabalhar muito menos
Os leitores regulares deste blogue sabem que considero que os horários de trabalho em Portugal são excessivos e que é um erro tremendo tentar aumentar a produtividade aumentando o número de horas que se trabalha. Como já disse noutra ocasião, aumentar o numero de horas de trabalho por semana é o caminho para o beco sem saída pois uma semana tem 168 horas (como diriam os ingleses “tem 168 horas, tem 168 horas”). Pode-se e deve-se ter flexibilidade para enfrentar picos de trabalho mas a produtividade deve ser aumentada aumentando a eficácia com que se realizam as tarefas.
Existem muitas formas de aumentar a eficácia, uma forma simples é aumentando o investimento, um trabalhador com melhores ferramentas de trabalho e com formação adequada à tarefa que desempenha terá maior produtividade. É sobretudo por este motivo que os trabalhadores de países com maior produtividade são mais produtivos
Outra forma é inovar a forma como se trabalha e para esse fim é necessário ter algum tempo disponível para pensar em formas de melhorar a execução das tarefas que se desempenha ou descobrir novas aplicações mais proveitosas para as capacidades que se foram adquirindo nas tarefas actuais.
Recentemente li um artigo da BBC intitulado “The compelling case for working a lot less” e fiquei satisfeito de esta ideia ir fazendo o seu caminho, se bem que muito mais devagar do que deveria.
Termino com esta imagem, tirada em 26/Dezembro/2014, num momento em que me dedicava a contemplar o crepúsculo evoluindo suavemente à Beira-Tejo, ao pé da ponte Vasco da Gama.
2017-12-16
Hydrofoils
Hydrofoils talvez em português se deva dizer "hidroasas", trata-se de embarcações cujas asas imersas, quando em movimento, fornecem sustentação para elevar o casco até uma posição fora de água, diminuindo assim consideravelmente a resistência ao movimento. Não gosto do termo brasileiro "hidrofólio".
Como habitualmente a versão inglesa da entrada na Wikipédia é muito mais completa do que a portuguesa. A história do uso destas asas submarinas em embarcações remonta a 1906, com um protótipo italiano construído por Enrico Forlanini a atingir a velocidade de 68 km/h no lago Maggiore no norte de Itália. Alexander Graham Bell também se interessou por esta novidade tendo feito alguns protótipos.
Além de aplicações desportivas e militares os hydrofoils têm tido aplicação no transporte de passageiros em águas pouco agitadas para distâncias de algumas dezenas de quilómetros como por exemplo nas carreiras entre Macau e Hong-Kong onde percorrem os 60 km de distância numa hora.
Boa parte dos barcos usados nesta ligação foram produzidos pela Boeing, com a designação de Jetfoils, como este TurboJet hydrofoil Cacilhas no porto de Hong Kong, visto de um ferry dessa cidade
e fotografado por Daniel Case (Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=29524510).
Mas interessei-me agora pelos hydrofoils ao receber este vídeo intitulado "The America's Cup AC75 boat concept revealed"
A Taça América (America's Cup) é uma regata de barcos à vela que se realiza de 4 em 4 anos desde 1851. O detentor da taça, vencedor da última regata, tem o direito de especificar as características dos barcos que irão participar na próxima regata. Os barcos com essas características pertencerão a uma classe que neste caso foi designada AC75, AC para "America's Cup" e 75 porque as embarcações terão 75 pés de comprimento (23,86m). O filme descreve as especificações da classe AC75 que será usada na 36ª prova a realizar em 2021 em Auckland, na Nova Zelândia.
Durante muito tempo, de 1958 a 1987, os barcos desta prova tinham um comprimento de 12 metros, de 1992 a 2007 usaram-se barcos de 25 metros. De então para cá as características dos barcos para esta competição têm tido especificações diferentes em cada 4 anos, tendo sido especificados catamarans havendo agora um regresso ao monocasco. Ao longo de todo esse tempo, quando vejo imagens da prova, acho sempre os barcos lindíssimos.
Depois de ver este filme chamou-me a atenção outro sobre windsurf usando hidrofoil que se pode ver aqui
e depois ainda estes para surfar as ondas
Trata-se de protótipos, não é certo que os hidrofoils se generalizem.
2017-12-09
Kindred Spirits, Irlandeses e Tribo Choctaw
Li neste artigo da BBC de Jun/2017 “Sculpture marks Choctaw generosity to Irish famine victims” o significado deste monumento feito pelo artista Alex Pentek, construído em Midleton, Cork council, Irlanda, fotografado por Andrew Foley,
intitulado Kindred Spirits, um termo da língua inglesa para designar um par de pessoas (neste caso um par de povos) que formaram uma ligação especial pela partilha de uma experiência traumática que os juntou.
Em 1847 a tribo Choctaw vivendo nos EUA enviou uma contribuição monetária para aliviar o sofrimento dos irlandeses dizimados pela fome, provocada por sucessivas colheitas falhadas de batata, principal alimento dos irlandeses pobres, que matou 1 milhão de pessoas e levou 2 milhões a emigrar, grande parte para os EUA.
A tribo tinha sido obrigada pelas autoridades americanas há cerca de 16 anos a abandonar as suas terras, tendo que o fazer a pé numa viagem de mais de 1600km onde boa percentagem morreu. A tribo Choctaw sentiu empatia pelas provações por que estavam a passar os irlandeses e quis ajudá-los.
Segundo ainda o artigo da BBC, “O governo britânico, que na altura governava toda a ilha, não forneceu ajuda, em parte devido à doutrina económica de laissez-faire e em parte devido à crença que a fome tinha sido enviada por Deus para melhorar a Irlanda, segundo Charles Trevelyan; o administrador britânico encarregado da ajuda”.
Este episódio é frequentemente referido nas escolas irlandesas mas não existia ainda um monumento a comemorar esse gesto de solidariedade.
Outras fomes catastróficas foram estudadas por Amartya Sen no livro “Poverty and Famines, An Essay on Entitlement and Deprivation” que eu referi aqui de onde extraí este parágrafo:
«
Uma das teses interessantes de Amartya Sen é que nas democracias não se morre à fome porque os governantes têm pressões fortes para não deixar morrer os seus eleitores. Que isto sirva de consolação às pessoas que se sentem um bocado cansadas dos defeitos dos regimes democráticos.
»
Deixo ainda outra foto do mesmo monumento, fotografado por Brian McAleer
2017-12-03
Como fazer o nó dos atacadores dos sapatos
Vi algures uma referência a este vídeo sobre como apertar os atacadores dos sapatos:
Tenho dificuldade em seguir exactamente os movimentos da construção do nó mas pareceu-me que eu fazia o nó do tipo "fraco". Assim, inverti o movimento que fazia anteriormente e pareceu-me que tinha passado a fazer o nó do tipo "forte".
Andei durante alguns dias com os sapatos e parece-me que o novo nó demora muito mais tempo a desfazer-se do que o que eu anteriormente fazia.
Vivendo e aprendendo, mesmo que muito tarde, como aconteceu no meu caso.
2017-11-26
2017-11-24
O juiz Neto de Moura e a separação dos poderes legislativo e judicial
Tem sido muito criticado o acordão do TRP (Tribunal de Relação do Porto) em que foi relator o juiz Neto de Moura, datado de 11.10.2017, assinado também pela juíza Maria Luísa Arantes e que pode ser encontrado neste link: https://jumpshare.com/v/XmGPjJyBg6mJMdehLjp8 .
O acordão trata das agressões a uma mulher que foi sequestrada e agredida por um ex-amante que depois convocou o ex-marido que por sua vez a agrediu com uma moca com pregos.
O caso fora julgado em tribunal de 1ª instância, que condenara os dois arguidos a penas suspensas de prisão, de pagamento de multas e de uma injunção para que cada um dos arguidos não contactasse a vítima, de cuja decisão recorreu o Ministério Público para o TRP. O TRP manteve a decisão da 1ª instância sem alterações.
Encontrei esta imagem de “Moca com pregos” na internet
Na petição intitulada “Essa Mulher Somos Nós”encontra-se contestação, com a qual concordo, à parte mais polémica do acórdão que continha o texto seguinte:
«
Por outro lado, a conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente.
Ora, o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem.
Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte.
Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte.
Ainda não foi há muito tempo que a lei penal (Código Penal de 1886, artigo 372.0) punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando sua mulher em adultério, nesse acto a matasse.
Com estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher.
Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o acto de agressão, como bem se considerou na sentença recorrida.
Por isso, pela acentuada diminuição da culpa e pelo arrependimento genuíno, podia ter sido ponderada uma atenuação especial da pena para o arguido X.
»
Fui-me documentar na Wikipédia sobre “Adultério” onde diz na secção “História”:
«
O adultério, como "acto de se relacionar com terceiro na constância do casamento", é considerado uma grave violação dos deveres conjugais por quase todas as civilizações de quase toda a história, sendo que algumas sociedades puniam gravemente a cônjuge adúltera e/ou a pessoa com quem praticava o acto, sendo ambos passíveis de morte.
Historicamente e originalmente a prática de adultério é o crime praticado pela esposa em relação ao marido. Hoje em dia, embora tal discriminação não exista mais nas novas leis dos países ocidentais, ou tenha perdido sua eficácia sociológica, na prática do dia a dia a conduta continua a ser vista de forma diferenciada do original conceito.
»
e na secção “Actualidade”:
«...
Em Portugal no actual Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro a palavra adultério não é mencionada numa única passagem.[6] Já no actual Código Civil faz-se apenas referência ao adultério aquando da existência de heranças e respetivos testamentos e é referido no art.º 2196.º que é nula a disposição a favor da pessoa com quem o testador casado cometeu adultério.
»
Trata-se de mais uma confirmação de que a infidelidade da mulher casada foi legalmente punida com maior rigor do que a do homem.
Foi entre outras também por essa razão que o legislador suprimiu a palavra “adultério” no Código Penal constituindo uma indicação clara que ela deve deixar de ser considerada relevante nos julgamentos de crimes.
Alegar a importância do adultério como atenuante num julgamento em Portugal em 2017, após a retirada da palavra “adultério” do Código Penal representa assim um desrespeito pela lei portuguesa em vigor.
Espera-se que os juízes não se refiram em acórdãos a leis revogadas. Referir leis revogadas é uma forma de dizer que se entende que ainda poderiam/deveriam estar em vigor. Referir leis e costumes de outros países é uma violação do âmbito territorial da aplicação da lei.
O genocídio, a escravatura, o racismo, o machismo, estiveram consagrados em leis noutras épocas e noutros países mas de acordo com a lei em vigor em Portugal todas estas actividades são actualmente intoleráveis.
Poder-se-ia dizer que existe uma analogia dos juízes com os diplomatas. Um diplomata de um país representa no estrangeiro a posição que o seu país tem sobre variados assuntos e não a sua opinião pessoal. Ao juiz compete julgar de acordo com a lei em vigor no país onde exerce a sua função e não segundo a sua opinião pessoal.
Há assim neste caso uma invasão pelo juiz da função do legislador, criando incerteza sobre se o tribunal se rege pelas leis actuais do país ou se o julgamento decorrerá tomando em consideração as leis doutras épocas e doutras terras pelas quais o juiz nutre preferência ou sente a necessidade de referir. Essa ponderação de leis de outras épocas, de outros países e de várias religiões terá lugar nas considerações do legislador ao criar a lei pois a legislação deve ter em conta o contexto espaço-temporal em que é definida mas ao juiz compete julgar segundo o consenso da comunidade que lhe outorgou o poder de julgar. Caso as suas convicções sejam inconciliáveis com a lei vigente em casos específicos poderá pedir escusa. E se as considerações são figuras de retórica sem consequência na decisão final será preferível que se omitam, quer para poupar tempo a quem tem que ler o acórdão não sendo relator quer para evitar intranquilidade pública como a que se verificou neste caso concreto.
A gravidade deste caso só pode ser julgada por quem tenha capacidade para aferir se estas considerações do juiz afectaram a decisão sobre o caso em julgamento. Mesmo que não tenham tido impacto na decisão final o juiz deveria ser notificado que opiniões pessoais contra a lei existente, mesmo que sejam citações de leis revogadas, de leis de outros países ou de normas religiosas, não têm lugar em acórdãos.
A juíza que segundo a própria “assinou o acórdão após leitura em diagonal” foi negligente, não nos tendo protegido do erro do colega.
Notas de rodapé:
Achei interessante este doc de alunas de direito da Universidade Nova:
“Os deveres pessoais dos cônjuges”
Googlei (Código Penal) e apareceu-me este link com uma versão consolidada em pdf :
Codigo_Penal_Consolidação_105737277_18-01-2017.pdf
https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/105737277/201701182138/exportPdf/normal/1/cacheLevelPage?_LegislacaoConsolidada_WAR_drefrontofficeportlet_rp=indice
e o mesmo para Código Civil:
Codigo_Civil_Consolidação_107065833_02-11-2017.pdf
https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/107065833/201711021032/exportPdf/normal/1/cacheLevelPage?_LegislacaoConsolidada_WAR_drefrontofficeportlet_rp=indice
Por curiosidade procurei, com a ferramenta de busca, no ficheiro do código Penal as palavras adulterio, adultera, adultero, com e sem acento agudo e confirmei com facilidade a inexistência destas palavras, conforme tinha lido na Wikipédia.
Por outro lado, no Código Civil, localizei imediatamente, num pdf de 428 páginas, a única instância de “adultério”, na página 408, no Artigo 2196º, conforme correctamente referido na Wikipédia.
É fácil propalar boatos na net, que não foi aqui o caso, mas é também fácil fazer verificações!
2017-11-23
Infarmed
É inacreditável a decisão de mudar o Infarmed de Lisboa para o Porto, sem nenhuma razão plausível além duma alegada necessidade de descentralizar e imediatamente a seguir ao insucesso da candidatura da cidade do Porto para albergar a Agência Europeia do Medicamento.
O Partido Socialista enchia a boca a dizer que as pessoas não são números, são pessoas e agora decide sem razões funcionais perturbar as vidas das famílias das pessoas que trabalham no Infarmed.
Os administradores e os expatriados "saem da sua zona de conforto" com confortos adicionais que mais do que compensam essa saída, confortos que são impossíveis de garantir aos trabalhadores do Infarmed.
A retórica de que as pessoas estão primeiro dá lugar à arbitrariedade do príncipe, que quer, pode e manda. As razões da mudança não são políticas, são arbitrárias, porque é essa a ordem de quem manda.
A descentralização deve ser feita criando as novas instituições fora de Lisboa e não mudando extemporaneamente instituições em funcionamento sem razões ponderosas.
O governo de António Costa começa a dar múltiplos sinais de desnorte, iniciou a curva descendente.
2017-11-18
Umberto Eco e a influência dos jeans no pensamento
Tenho andado a reler esta colecção de ensaios, numa edição da Difel de 1986 que comprei nesse ano. Agora andei à procura no Google deste livro e apareceu-me no sítio do WOOK uma sinopse de que transcrevo o início:
«
Umberto Eco, conhecido em Itália e em todo o mundo pelos seus trabalhos sobre estética e semiótica e pelo seu romance O Nome da Rosa é também um incansável estudioso dos modos e modas do nosso tempo.
Viagem na Irrealidade Quotidiana é uma colectânea de textos retirados de três livros recentes: «Sette Anni di Desiderio», «Costume di Casa» e «Dalla Periferia dell' Impero»...
»
Constato que é raro eu reler os livros que tenho em casa mas tenho relutância em separar-me deles e de longe em longe vou realmente à procura de um pequeno trecho de um ou outro livro, que pertencem na esmagadora maioria à categoria de ensaios. Do Umberto Eco li ainda o romance histórico “O Nome da Rosa” de que gostei muito embora tenha tropeçado em muitas citações em Latim que presumo ainda ser ensinado no ensino secundário em Itália. Não consegui passar das primeiras páginas do “Pêndulo de Foucault” mas comprei mais algumas colecções de pequenos ensaios publicados em revistas e jornais de grande circulação.
Como eu esperava este livro não se encontra actualmente disponível, julgo ser a sina destas colecções de pequenos ensaios, ainda mais num mercado pequeno como o português. Presumo que esta colectânea resulta de três livros por muitas vezes este tipo de ensaios focar aspectos específicos do país onde foi escrito. Dir-se-ia que um em cada três ensaios seriam exportáveis pois de 3 colecções obteve-se apenas uma.
Como já tinha lido o livro há uns 30 anos tinha alguma curiosidade em verificar a minha reacção a uma segunda leitura. Constatei que tinha uma memória vaga do que lera na altura, sem a parte desagradável da sensação de “déjà vu”. Constatei ainda que também há 30 anos as pessoas tinham a sensação de viverem experiências nunca vistas, à semelhança do que acontece actualmente. Longe de mim dizer que a mudança não existe mas por vezes o que parece uma novidade é essencialmente o mesmo que se passou há uns anos, décadas ou mesmo séculos.
Aprecio o sentido de humor do Umberto Eco e as suas descobertas dos significados dos objectos, modas e hábitos do quotidiano em que vivemos. Não seria forçoso que um estudioso da semiótica, que observa os significados dos fenómenos culturais, conseguisse atingir o grande público mas é o caso deste autor.
Tive dificuldade em encontrar na Internet textos do Umberto Eco. Desta “Viagem na Irrealidade Quotidiana” seleccionei um pequeno ensaio de 4 páginas sobre a influência do uso de calças tipo “jeans” na forma de pensar de quem as veste, um dos meus favoritos, intitulado “O Pensamento Lombar”, publicado no Corriere della Sera em 12 de Agosto de 1976.
2017-11-09
Fonte de Fabrice Hybert em Lisboa
Nas voltinhas de bicicleta no Parque das Nações no Passeio dos Jacarandás passei por esta fonte que me chamou a atenção
Googlei este detalhe da imagem
e fui dar a este sítio onde consta que se trata de uma escultura de Fabrice Hybert intitulada "69 homens de Bessines", localizada em N 38°46'48" W 9°5'39". De 10 buracos espalhados pelos corpos (olhos, nariz, boca, orelhas, mamilos, pénis e ânus) saem jactos de água de vez em quando como se constata na próxima imagem
2017-11-03
António Damásio nos Olivais
No passado dia 31 de Outubro de manhã António Damásio deslocou-se à Escola Secundária nos Olivais que tem o seu nome para apresentar o seu novo livro intitulado "A Estranha Ordem das Coisas".
A sessão teve lugar no ginásio da escola que estava completamente cheio, com alunos, professores e público em geral. António Damásio falou da importância dos sentimentos na vida dos seres humanos, cuja importância tem sido por vezes menosprezada por alguns pensadores, tema de que trata este seu novo livro.
No regresso a pé à minha casa (os Olivais são um mundo!) apreciei este caminho protegido pelas sombras das árvores na rua Cidade de Luanda, com os ciprestes do cemitério dos Olivais ao longe, a lembrar a referência que António Damásio fez à inutilidade da procura actual da imortalidade biológica.
No dia seguinte reparei neste "grafiti" na rua Cidade de Moçâmedes, com a praça Cidade São Salvador (praça das maminhas) ao fundo. Na "street view" do "Google Maps", actualmente mostrando imagem capturada em Fevereiro de 2015, esta placa ainda não tinha a inscrição.
Fiquei a pensar que "Amo, logo existo" é uma transformação da frase de Descartes " Penso, logo existo" directamente inspirada pelo livro de António Damásio "O Erro de Descartes" e talvez também pelas suas passagens pelos Olivais.
2017-10-31
Tiago Oliveira no Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais
Tiago Martins de Oliveira foi empossado no dia 24/Out/2017 como presidente da Estrutura de Missão para a instalação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.
Trata-se dum engenheiro florestal , doutorado em gestão de risco de incêndio e também bombeiro. Trabalha para a Afocelca, cujo site informa que “A AFOCELCA é um agrupamento complementar de empresas do grupo The Navigator Company e do grupo ALTRI que com uma estrutura profissional tem por missão apoiar o combate aos incêndios florestais nas propriedades das empresas agrupadas, em estreita coordenação e colaboração com a Autoridade Nacional de Protecção Civil - ANPC.”
No meio do ruído sobre o perigo dos eucaliptos tenho-me informado que as áreas de floresta geridas pelas companhias de celulose têm consistentemente ardido muito menos do que os minifúndios onde cresce a maioria da floresta portuguesa. No ano de 2017 a área de eucaliptos das celuloses mais uma vez ardeu menos do que a floresta do resto do país.
Foi assim com satisfação que tomei conhecimento da nomeação de Tiago Oliveira para a missão acima referida, uma pessoa rara que alia o gosto pela acção no terreno como bombeiro ao estudo de métodos e processos inovadores para minimizar as áreas ardidas da floresta e que tem tido sucesso na sua actividade de prevenção e combate aos fogos florestais, ao contrário do que se passa na maioria da restante área da floresta portuguesa.
Depois foi com surpresa que soube das reservas (das quais discordo) do Bloco de Esquerda e também de Vital Moreira à nomeação de uma pessoa por ter trabalhado para entidades privadas no combate aos incêndios.
À visão maniqueísta de que os gestores públicos são incompetentes, preguiçosos e corruptos e de que os gestores de empresas privadas são competentes, trabalhadores e honestos, corresponde a visão simétrica de que os gestores públicos são competentes, eficazes e dedicados à causa pública enquanto os que trabalham para os privados só pensam no lucro, no luxo e estão a soldo de interesses inconfessáveis.
Esta visão do mundo que o divide de forma clara entre o Bem e o Mal adquiriu o adjectivo “maniqueísta” devido a uma filosofia religiosa dualística criada por Maniqueu, um cristão persa do século III que deve ter sido influenciado pelo Zoroastrismo também nascido na Pérsia.
Os seguidores de Zoroastro mantinham um fogo aceso nos seus templos e dizem que este
que eu fotografei e já mostrei aqui arde ininterruptamente há mais de 1500 anos, presumo que sem causar danos.
A visão dualista simplificada da realidade é inadequada em muitas situações. Não se pode dizer à partida se públicos ou privados são todos bons ou todos maus. Até mesmo nos fogos existem uns que são bons e outros que são maus.
2017-10-27
Desemprego na Catalunha e em Portugal
Ao observar as multidões que se manifestam nas ruas da Catalunha pela independência tive um pensamento ingénuo: então esta gente toda não tem mais nada para fazer?
Googlei (taxas de desemprego na Catalunha) e cheguei logo a este ficheiro pdf, gentilmente escrito em português com as cifras (em Portugal diríamos mais "números") da Catalunha muito bem apresentadas:
onde se constata que a taxa de desemprego em 2015 era de 18,6% sendo o desemprego jovem (menos de 25 anos) de 42,3%, sendo em Espanha de respectivamente 22,1 e 48,3%. A manutenção destas taxas de desemprego em Espanha durante anos e anos à volta dos 20% sem uma mudança de regime são para mim muito difíceis de compreender.
Como comparação em Portugal temos estes números que obtive no Pordata aqui (carregando depois em (ver tabela completa):
Em Portugal ocorreu um quebra de série em 2011 em que foram introduzidos novos critérios de cálculo para diminuir o valor da taxa. Presumo que o critério actualmente usado não seja muito diferente do catalão, talvez o Eurostat harmonize algumas estatísticas. Nos valores de Portugal constata-se que em 2015 a taxa de desemprego dos menores de 25 anos era 32%, um número elevado mas muito abaixo do 42% catalão.
Em Portugal, quando a situação se degrada, emigramos. Na Catalunha às vezes declaram a independência. Ambas são soluções más.
2017-10-25
O jornal Expresso e a chamada luta política
O jornal Expresso tem-se vindo a tabloidizar. De uma forma geral todos os jornais o têm feito, talvez se sintam na obrigação de tornar os títulos mais chamativos de leitores, a quem dizem frequentemente que estão aqui para os informarem de forma séria e isenta, evitando os sensacionalismos.
No passado sábado o Expresso titulava na primeira página em letras muito grandes que o IPMA avisara com 72 horas de antecedência que o dia 15/Outubro seria o mais perigoso do ano. Logo a seguir informava ainda em letras destacadas que o “Alerta foi ignorado pelas autoridades”.
Claro que no corpo dos textos informava depois que as autoridades tinham mobilizado mais 882 operacionais do que seriam os efectivos na fase D (fase com menos efectivos do que a fase C que acaba no fim de Setembro) mas que não existiam tantos aviões como na fase C. Descrevia depois mais um conjunto de medidas adicionais que as autoridades tinham tomado, desmentindo assim o subtítulo chamativo da primeira página de o alerta ter sido ignorado, numa técnica que se vem tornando monótona de ser tão usada.
Fui verificar qual a contribuição cívica que o jornal Expresso dera na sua penúltima edição em 14 de Outubro de 2017 e constatei que não havia qualquer referência na primeira página à perigosidade do dia seguinte, o dia 15/Outubro.
Já em Julho deste ano o jornal Expresso chamara para a primeira página uma notícia que insinuava que o governo estaria a esconder o número de mortes do incêndio de Pedrógão Grande, insinuação que ainda ocupou o jornal durante algum tempo para se constatar depois que a polémica não tinha qualquer fundamento.
Embora o jornal continue a publicar opiniões de diversos quadrantes do espectro político a sua tomada de partido nas suas partes mais destacadas é cada vez mais evidente.
Constato assim que a luta política acaba por reflectir o espírito da população em geral e em especial dos jornalistas, abusando de figuras de retórica para vencer o adversário em vez do uso de argumentos sólidos que conduzam a discussão para melhores decisões.
Nota-se também no jornal, fora da luta política, um menor cuidado em alguns artigos como é referido aqui, a propósito duma notícia sobre a visita do papa Paulo VI a Fátima, ou aqui, sobre uma tradução errada que não foi corrigida na edição seguinte.
Este post já vai longo, para não prolongar os queixumes mostro uma combinação dos Whacks e X-balls que já referira nestes 3 posts
2017-10-23
O Egoísmo Altruísta, por Adolfo Mesquita Nunes
2017-10-20
Cobertura de Lisboa pelo Metropolitano
Tentando fugir aos frequentes engarrafamentos dentro da cidade de Lisboa tenho tentado usar o metropolitano com maior frequência. Quando está bom tempo tenho considerado razoável usar o Metro quando existe estação a menos de 1km a pé do local-objectivo. Actualmente é fácil quantificar essa distância no Google Maps.
Para fazer uma ideia da cobertura de Lisboa pelo Metropolitano pensei em colocar círculos transparentes com um raio de 1 km e centro sobre cada estação neste mapa disponível no site do metropolitano
e o resultado foi este
Depois achei que embora fosse claro que a Beira-rio entre 1km depois de StªApolónia e o Parque das Nações, Alcântara, Belém, Restelo, Ajuda, Lapa e parte do Campo de Ourique estivessem fora dos círculos, além de outras zonas periféricas pensei usar este mapa de Lisboa onde se vêem ruas e parques mas onde faltam algumas estações de metro
e colocar os círculos de 1 km de raio como já fizera com o mapa do metropolitano
Se existissem eléctricos rápidos (imunes a engarrafamentos de outros veículos) à beira-rio a ausência de Metro seria menos grave.
2017-10-18
Incêndios em Portugal e noutros sítios
Em Portugal precisamos de fazer muita coisa para evitar repetição das catástrofes provocadas pelos incêndios deste ano. Já temos os relatórios e desastres de grandes proporções que possibilitam adoptar leis e procedimentos que antes seriam considerados impossíveis.
Mas mais uma vez nos convencemos que somos o único país onde existem estes problemas. Por exemplo na Califórnia a situação tem sido como descrita neste artigo breve do Economist: Why the North American forest is on fire.
Vê-se agora a sabedoria do António Costa. Se tivesse demitido logo a
ministra agora precisaria também de demitir o sucessor. Assim evitou uma
mudança apressada e a nova equipa só será testada na próxima temporada de fogos.
Mesmo assim eu aconselharia alguma calma na nomeação do sucessor dado que ainda falta o Verão de S.Martinho.
2017-10-17
Bicicletas de Lisboa
A EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa, E.M. S.A.) além de tratar dos parquímetros em Lisboa, iniciou um programa de instalação de bicicletas urbanas partilhadas em que me inscrevi.
Começaram pelo Parque das Nações onde instalaram várias "docas" com bicicletas para serem usadas por aderentes. No site gira-bicicletasdeLisboa explicam os detalhes. É preciso descarregar uma aplicação para o telemóvel, aderir ao programa, pagar (com Multibanco ou Paypal) uma taxa anual, mensal ou diária, carregar um saldo e começar a usar. Em cada "doca" existem bicicletas clássicas e eléctricas, selecciona-se uma usando a aplicação, tira-se do sítio, usa-se e volta-se a colocar na mesma ou noutra doca. Actualmente só existem docas no Parque das Nações.
As bicicletas são aparelhos notoriamente difíceis de armazenar em apartamentos de prédios pois estão cheios de protuberâncias que exigem imenso espaço, difícil de encontrar sobretudo em andares habitados há muito tempo e que se foram enchendo ao longo dos anos seguindo a lei do horror que a Natureza tem pelo vazio.
Além disso a cidade de Lisboa está cheia de montes e vales pelo que era necessário uma bicicleta com apoio eléctrico para tornar viável a sua utilização por ciclistas nem profissionais nem atletas amadores. Subi ontem a rua Cidade de Pádua com uma destas bicicletas eléctricas e fiquei muito satisfeito com a moderação do esforço necessário para vencer esta rua tão íngreme.
Estas bicicletas resolvem portanto os dois problemas que referi: não ocupam espaço em casa e não requerem esforço desagradável para vencer as colinas de Lisboa. E o selim é confortável.
Deixo uma imagem da bicicleta devolvida à doca após a minha primeira utilização.
2017-10-14
Federica Mogherini sobre acordo com Irão
Aqui está essa comunicação, em inglês, sem legendas.
Não me lembro de ter assistido a declarações formais deste teor de altos responsáveis da União Europeia sobre intervenções do presidente dos E.U.A. É possível ou mesmo provável que se tornem mais frequentes.
2017-10-10
Pavão
Este é o milésimo post deste blogue que já existe desde Março/2008. Pareceu-me adequado fazer um post sobre pavões, pavoneando assim a minha longevidade como bloguista.
Na terceira idade regressa-se à juventude e vejo-me assim a fazer uma redacção sobre o pavão, se bem que na sua elaboração tenha tomado contacto com avanços científicos na explicação da iridescência que dão um ar mais adulto a este texto.
De vez em quando vejo pavões na Quinta Pedagógica nos Olivais. Além do espectáculo sempre deslumbrante da exibição da cauda dos pavões, aprecio o seu comportamento tranquilo, o que me leva a fotografá-los com alguma frequência. Neste post selecciono algumas das muitas fotos que tenho tirado.
Nestas duas primeiras imagens mostro a comunidade que existia em Novembro/2014, 2 machos e 5 fêmeas. O grupo parecia coexistir de forma despreocupada
ocasionalmente com segregação por sexos, 2 machos por um lado e 5 fêmeas por outro
com zoom para as fêmeas
Uma das características que aprecio nos pavões é o silêncio e a discrição com que que se movem. De repente notamos que estão vários pavões à nossa volta sem que tenhamos sido avisados por ruídos vários da sua chegada.
Na foto seguinte, de Maio/2015 esta fêmea aproximou-se bastante da cadeira da esplanada e comeu um pedacinho de chocolate de um gelado que caíra no chão.
Aproximou-se lentamente, mantendo (difícil não antropomorfizar...) um ar altivo, com aqueles penachinhos na cabeça a fazer lembrar um diadema.
As cores das pavoas são muito mais discretas do que as dos pavões mas mesmo assim o pescoço tem uma cor verde muito bonita. Na consulta das entrada da wikipédia sobre pavões, na versão em português e na versão mais completa em inglês constatei que muitas das penas dos pavões são iridescentes, à semelhança do que acontece com muitas outras aves, com borboletas, conchas marinhas, alguns insectos e outros materiais, como por exemplo as opalas.
A iridescência é uma propriedade de objectos cuja côr varia conforme o ângulo de observação dos mesmos. A côr é obtida através de estruturas nanométricas (dimensão entre 1 e 100 nanómetros) designando-se por “coloração estrutural”.
Os físicos Newton e Robert Hooke já tinham notado que as cores iridescentes dos pavões eram criadas por coloração estrutural e não por pigmentos.
São as interferências ópticas (reflexões de Bragg) causadas pelas nanoestruturas periódicas existentes nas bárbulas das penas
Por André Cattaruzzi - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=40852338
que causam as cores iridescentes das penas dos pavões. Depois do Lorde Rayleigh se ter interessado pelos cristais fotónicos em 1887 o assunto foi retomado em 1997 por Eli Yablonovitch tendo desde essa altura sido objecto de grande actividade de investigação, dadas as importantes aplicações industriais que se prevêem no domínio da óptica.
No artigo da wikipédia sobre iridescência encontrei referência a este artigo intitulado “Coloration strategies in peacock feathers” fazendo parte de uns “Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America”, da autoria de 8 autores chineses trabalhando na Universidade Fudan em Xangai. O facto de terem usado o microscópio electrónico no estudo das estruturas existentes nas penas do pavão dá uma explicação para este assunto ainda não estar completamente estudado.
Felizmente estes chineses ainda publicam artigos em inglês, um dia destes é possível que as revistas de física mais importantes sejam publicadas em mandarim. Seria bom que por essa altura pelo menos o pinyin fosse preferido em relação aos ideogramas.
Ainda no mesmo ano, em 29/Nov/2015 16:16 tirei esta foto de 4 pavoas sobre um telhado da Quinta Pedagógica.
Já tinha visto pavões a voar para ramos altos de árvores mas fiquei surpreendido com esta posição sobre telhado.
Fui verificar à Wikipédia onde diz que os pavões são aves da floresta que nidificam e se alimentam no chão mas repousam empoleirados nas árvores.
Ou então em sítios altos de difícil acesso como optaram estas pavoas. Fui ver a que horas foi o sol posto na data da foto, foi às 17:16, provavelmente as pavoas já tinham comido que chegasse e foram preparar-se para passar a noite. Não me lembro de ver galinhas ou galos em sítios tão altos.
Na internet vi uns filmes curiosos em que mostram perus selvagens, que pernoitaram em ramos de árvores, voando para um sítio sem árvores ao nascer do sol. É possível que existam filmes semelhantes para pavões.
A seguir mostro 3 imagens de Fevereiro/2016 de pavões a alimentar-se no prado verde da quinta do Contador-Mor, adjacente à Quinta Pedagógica
Achei graça a este Pavão empoleirado em cima dum “Jogo do Galo”, em Março/2016, confirmando uma atitude Zen que deve ser uma das características que aprecio nos pavões
e termino naturalmente com um pavão exibindo a sua cauda maravilhosa
Será fácil encontrar fotos de leques de pavão melhores do que esta. Normalmente o fundo da fotografia perturba a cena e a iluminação desta cauda é fraca. Por exemplo aqui tem uma foto interessante e outras aqui.
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