Estava eu tão entretido a falar de sinos, de campanários, de chamadas para a oração pelos muezzin e de minaretes quando os suíços se lembraram de fazer um referendo sobre a proibição de construir minaretes na Suíça.
Já disse aqui, a propósito da eventual realização de referendos em todos os estados da União Europeia, com o objectivo de chumbar o Tratado de Lisboa, que tenho uma antipatia genérica por referendos, talvez por a Constituição do Estado Novo de 1933 ter sido aprovada por referendo, mas também por as respostas costumarem ser muito limitativas da opinião dos votantes.
Exagerando um pouco, os referendos lembram-me aquelas sessões dos tribunais dos filmes americanos em que o advogado exige à testemunha que lhe responda exclusivamente com um sim ou um não, para uma pergunta do género: nesse dia estava com uma camisa branca ou uma azul?
O referendo suíço não deveria ter sido feito.
O Lutz tem um post que me parece muito equilibrado sobre o referendo suíço, pelo que vou em frente e passo a falar de um sino que não é cristão.
Trata-se dum sino enorme existente em Pequim, construído no tempo do imperador Yongle, terceiro da dinastia Ming, reinando de 1402 a 1424 e mostrado na foto acima.
Dos dados deste sino, apresentados num cartaz no local de que tirei uma foto que apresento aqui ao lado, destaco o peso de 63 toneladas. Não resisto a chamar a atenção que neste caso as medidas no texto em ideogramas estão todas referidas a metros, não sendo usado um sufixo (equivalente ao "c" de "cm") para expressar os submúltiplos.
Fui consultar a Wikipédia, como tantas vezes já referi neste blogue, sobre o tema dos sinos pois, embora o sino me parecesse grande, eu não tinha qualquer sensibilidade ao que era um peso de sino.
Constatei na entrada "bell (instrument)" que não referia este sino especificamente, referindo contudo que o maior sino operacional está em Myanmar e pesa 90 toneladas.
O Big Ben, nickname do sino enorme usado em Londres para anunciar as horas, cujo peso em Inglaterra só foi ultrapassado pelo de um sino na catedral de S.Paulo, pesa "apenas" 16 toneladas, aproximadamente um quarto do peso deste, tendo sido fabricado em 1856, portanto 400 anos mais tarde.
A manufactura, o transporte e a colocação numa torre de sinos destas dimensões constituíam certamente grandes desafios aos engenheiros da época. Este sino destinava-se a marcar as horas.
No Ocidente não se terá explorado tanto o aumento da dimensão do sino, tendo-se evoluído para os carrilhões, conjuntos de sinos em que cada um dá a sua nota. Lembro-me de ver numa igreja inglesa um aviso de que iria haver uma reunião dos membros da associação de tocadores de sinos do sudoeste da Inglaterra. Em Portugal optaram a certa altura pela facilidade da electrónica, que tocava automaticamente sem necessidade de tocadores de sinos (humanos) a toda a hora, com tanto sucesso que apressaram a saída de uma lei para a prevenção do ruído. Conforme se constata aqui, os sinos das igrejas deixaram de tocar de noite em Portugal (entre as 22 e as 7 horas) desde o ano de 2001 e não ouço muitos durante o dia. Na realidade, actualmente, a utilidade social dos sinos para marcar horas desapareceu.
No Ocidente a igreja usou portanto a função socialmente útil de marcação das horas para lembrar aos habitantes, além das horas, a presença da igreja, associando-se de tal forma a este dispositivo que levou os muçulmanos a associar sinos com terras cristãs.
Tendo alguma curiosidade pelo que haveria na net sobre "islamic bells" fiz essa pesquisa no Google e fui dar a este site que diz ser "supervised and developed by Ministry of Awqaf and Islamic Affairs, Doha-Qatar". Traz aqui esta fatwa (espécie de conselho ou decreto religioso) onde a propósito de uma pergunta sobre se será apropriado ter sinos em casa, diz que "Angels do not go along with those people who have a dog or bell.".
Para finalizar deixo aqui uma imagem no crepúsculo da muito bela torre de sinos de Xian, localizada no centro da cidade. Não cheguei a visitar a torre cujos sinos, embora mais antigos, são muito menores do que o sino de Pequim acima mostrado.
2009-12-04
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2 comentários:
Tem graça que pensei justamente isso há dias: o jj amarante a falar de minaretes e os suiços numa de referendo. Estou consigo: também não nutro nenhum afecto por referendos. E mais uma vez obrigada pelos seus belos textos com as sempre magníficas imagens.
io, com a minha tendência para divagar não estou normalmente sincronizado com a actualidade mas às vezes há coincidências... Ainda bem que continua a gostar das imagens e dos textos.
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