2010-12-01

A greve geral de 24/Nov e o consumo de energia eléctrica

Face à diferença de números das diversas fontes sobre a adesão a uma greve geral e à dificuldade quer na compilação quer na verificação desses números é sempre difícil saber o que se passou ao nível nacional, para além do impacto verificável na diminuição dos transportes colectivos, que foi muito significativo nesta greve.

Existe contudo um indicador bastante interessante da actividade produtiva que é o consumo de energia eléctrica. A unidade mais comum para os consumidores domésticos é o kWh (kilowatt hora), a quantidade de energia consumida por um aparelho com a potência de 1 kW permanentemente ligado durante uma hora. Exemplos de dispositivos com potência de 1 kW serão pequenos aquecedores de ambiente, ferros de engomar, chaleiras eléctricas, etc. 1000 KWh são 1 MWh (megawatt hora). 1000 MWh são 1 GWh (gigawatt hora). O consumo de Portugal continental num dia útil típico de Novembro anda à volta dos 150 GWh.

Existem muitos factores que influenciam o consumo de electricidade de uma dada área. Entre os mais importantes está a temperatura, nas zonas de desconforto do frio ou do calor, a duração do dia e a luminosidade e se se trata de um Sábado, de um Domingo ou de um dia útil. A importância destes factores vai variando com o tempo e os estilos de vida, por exemplo a adopção do aquecimento central com caldeira a gás nas casas de cada um diminui a influência do frio do Inverno no consumo de electricidade e o uso de aparelhos de ar condicionado aumenta o consumo nas temperaturas elevadas no Verão. Em muitos empregos no sector dos serviços a actividade principal cifra-se em consultar e introduzir dados num computador, actividade com um consumo de energia semelhante à causada pela navegação na Internet no PC da nossa casa.

Mas permanece uma diferença significativa entre os dias úteis e os do fim-de-semana, como se pode constatar nesta tabela



em que se constata uma diferença de cerca de 30 GWh (cerca de menos 20%) entre um Domingo e um dia útil normal. Um Sábado tem um valor intermédio, bem como a segunda-feira que, embora com um valor muito mais elevado que um Sábado, é inferior a um dia útil do meio da semana . De 20 a 25/Nov/2010 a temperatura média variou pouco de uns dias para os outros, pelo que as diferenças de consumo entre o dia da greve geral (24/Nov) e os dias úteis adjacentes, que foi de 3.5 GWh, é directamente utilizável sem necessidade de compensações. Estes valores do consumo diário de energia eléctrica estão disponíveis no site da REN aqui.

Faz pouco sentido avaliar a dimensão duma greve geral comparando a quebra do consumo nacional como uma percentagem do consumo de um dia normal. Num dia de greve geral continua a haver iluminação pública, as pessoas continuam a acender as luzes em casa durante a noite, vêem TV, usam os PCs, continuam com os frigoríficos e arcas ligadas, etc. Existem também processos industriais com elevado grau de automatização que continuam a funcionar correndo apenas o risco de não serem reactivados em caso de avaria que em muitos casos são bastante improváveis. Parece-me assim mais razoável comparar a quebra do consumo devido a uma greve geral com o consumo de um Domingo. Neste caso foi um pouco mais de 10% (3,5GWh de quebra para uma diferença de 30GWh entre o dia da greve e o Domingo mais próximo). Claro que é abusivo inferir desta redução de 10% que a adesão à greve foi de 10%, porque a realidade é muito mais complexa do que o consumo diário de energia eléctrica. Mas dá uma medida de alguma modéstia do impacto desta greve na actividade produtiva típica de um dia útil.

Para amenizar este texto longo junto ainda os diagramas de consumo no dia 23/Nov/2010,



e o diagrama de 24/Nov/2010, dia da greve



Em ambos os dias houve períodos em que exportámos energia (quando a mancha colorida está acima da curva preta grossa que representa o consumo) e outros em que importámos (cor beige). Durante a noite fez-se alguma bombagem, como é habitual. Estes diagramas estão disponíveis aqui.

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