A minha escolha do Egipto como referência para mostrar que era possível mudar a sociedade portuguesa de meados do século XX além de acidental (era a primeira civilização de que se falava na disciplina de História) é irónica pois nesta civilização as mudanças foram muito lentas.
Por exemplo, é impressionante a permanência das formas dos baixos relevos e das pinturas ao longo de centenas de anos, embora eu admita que esta frase soe mal a especialistas treinados em ver as diferenças que provavelmente foram sendo introduzidas na arte egípcia ao longo do tempo.
Claro que a originalidade, a mudança e a evolução são importantes mas por vezes podemo-nos esquecer da importância que também tem a cópia.
A utilização de elementos repetidos quer com fins decorativos, como nesta avenida processional com várias estátuas de carneiros representando Amon, o deus Sol, no seu templo em Karnak
quer com fins estruturais como neste conjunto de colunas idênticas num dos átrios do mesmo templo
continua a ser utilizada ainda hoje, estabelecendo ritmos sofisticados como nesta parte da Cidade das Artes e das Ciências de Valência projectada por Santiago Calatrava,
ou paredes móveis de grande dimensão como esta
neste edifício que faz lembrar uma joaninha
O ADN, cuja estrutura de dupla hélice está representada por este modelo espacial estilizado no átrio de outro edifício da Cidade das Artes e das Ciências serve precisamente para assegurar a reprodução de características que a selecção natural mostrou serem vantajosas
Por vezes esquecemo-nos que grande parte da força da vida reside precisamente na força da cópia.
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4 comentários:
Belíssimo panegírico, jj.
Gosto muito. Não posso deixar de notar, a cópia interessa ao sistema mas não ao elemento, que perde importância pela repetição. Ou estou errada?
Obrigado io. Fuckitall, há uma tensão entre o desejo de ser igual e o de ser diferente. Ser igual não é só bom para o sistema, também apresenta vantagens para o elemento. Continuo o tema no post das montras de roupa que segue.
A replicação, ie a cópia, é o elemento estruturante da informação genética, e por conseguinte da vida, tal como a conhecemos. Mas é também, e por isso, a sua dimensão de continuidade, conservadora. O erro na cópia é a mutação, o elemento desestruturante, fonte de mudança e de variabilidade. À escala do indivíduo, o «elemento», pode ser terrivelmente perturbador (daí o senso comum considerar que há mutações nocivas) mas à escala biológica, o «sistema», é fonte de evolução.
Ora isto são coisas que passam pela cabeça da gente das ciências à antiga, nos humanismos à moderna importam mais os jogos de palavras.
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