Quando nos anos 70 do século passado se fez o desassoreamento da foz do rio Arade, formando um canal navegável de maior profundidade até à cidade de Portimão, acharam que o melhor destino da areia e lodo escavados do fundo seria o areal da Praia da Rocha que ficaria com uma dimensão como não havia memória nos frequentadores dessa praia.
Essa dimensão viabilizou a construção de muitos prédios de dez a vinte e tal andares, alguns deles substituindo vivendas de dois pisos com um pequeno jardim, criando este skyline que fotografei em Agosto/2008 e que deve ter crescido em altura desde então.
Com a dimensão que a praia tinha antes dos anos 70 os veraneantes de todos estes prédios não caberiam no espaço então existente.
Antes da colocação da areia, nas marés vivas de Setembro existiam sempre alguns dias em que o mar chegava à base das arribas, inundando o espaço ocupado pelos toldos acompanhado pelos gritinhos dos desprevenidos tentando salvar sapatos, toalhas e roupa da água invasora. Nessa altura não era preciso proteger os inexistentes telemóveis.
Depois das obras ficou um deserto de areia, a atravessar antes de chegar ao toldo ou ao local onde se fixa o chapéu de sol. Entretanto, sobre o deserto instalaram um passadiço sobre estacas paralelo à costa, ao longo de toda a praia, que facilita o acesso aos restaurantes concessionados. Foram entretanto surgindo diversos equipamentos temporários durante a época estival, designadamente uma ou duas discotecas e outros de carácter desportivo.
No dia 30/Abril/2022 fui surpreendido por uma instalação de numerosos campos para algum torneio de voleibol de praia:
E dois detalhes da mesma imagem:
Agora é tudo mais em grande do que na minha juventude. Fiz uma contagem baseado nas fotos e pareceu-me que foram montados mais de 50 campos de vólei.
As "Construções na Areia", a que dei o título deste post, eram uma iniciativa patrocinada pelo jornal Diário de Notícias em diversas praias de Portugal, em que jovens faziam uma pequena escultura de areia, numa área de aproximadamente um metro quadrado, havendo depois 3 prémios e várias menções honrosas.
Parece-me que agora montaram tantos campos de vólei como antes havia concorrentes para o concurso de Construções na Areia na Praia da Rocha. E é positivo que aproveitem o "deserto" para estas actividades desportivas, estendendo a utilização da área para períodos fora da época estival, sem perturbar o acesso à beira-mar.
3 comentários:
Muito bem!
Curta e elucidativa reportagem.Excelentes fotos
Beijinhos
Interessante. Pois é, “construções na areia” pode ter mais que um significado. O tal “skyline” é, infelizmente, uma realidade, durante muitos anos não se controlou minimamente a construção desenfreada de prédios em muitas partes do Algarve. O modelo era fazer autênticas cidades à beira mar alterando completa e exageradamente as características dos locais. Hoje, em algumas partes do Algarve há mais controlo, mas mesmo assim a construção continua a avançar demasiado. Claro que temos que ter presente que licenciar construção nova dá grossos pingues às autarquias (algumas delas, e apesar disso, fortemente endividadas e uma ou outra com programas de recuperação financeira geridos pelo governo…); enquanto esse círculo vicioso não for controlado não há nada a fazer. Conclusão: se queremos um Algarve de qualidade, há que gerir melhor o desenvolvimento urbanístico e não ceder a certos interesses. Seremos capazes? Tenho dúvidas, já cá ando há muitas décadas, mas mantenho a esperança de que as coisas possam melhorar…
Isto do Skyline tem muito que se lhe diga ... O da Praia da Rocha, o de Armação de Pêra, ou o de Quarteira, talvez tenham a ver com as construções na areia de então... Poderão ser a reinterpretação feita pelos Construtores Civis, a partir das fotos ampliadas daqueles concursos, e em betão, que na sua composição também inclui areia. Só que não será da praia por causa do salitre...
A.Rocha Lobo
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