2018-07-16

Processadores gráficos



Em tempos guardava mais fotocópias do que as que tinha capacidade ou disposição para ler. Agora acontece-me algo semellhante com endereços de sítios que julgo serem interessantes mas que depois ou não vejo ou demoro bastante tempo até os ver.

Foi o que aconteceu com esta apresentação de  Jensen Huang, fundador e CEO da empresa americana NVIDIA que costuma ser o fabricante das interfaces gráficas dos PCs que tenho comprado. Já guardei o link há tanto tempo que não me lembro porque o fiz. Vi agora a apresentação, datada de Out/2017 e bastante longa de quase duas horas, mas interessante, com mais de 1 milhão de visitas, tratando-se dum evento (em Mar/2018 já ocorreu outro) promovido por este fabricante de interfaces gráficas. Quem não tiver tempo (ou disposição) para ver o video poderá talvez recorrer a este power-point .

A miniaturização dos transistores que possibilitou os sucessivos aumentos de performance dos microprocessadores nos últimos 40 anos parece ter chegado ao fim e a continuação desse aumento de performance parece agora depender mais do aumento de eficácia do software bem como da exploração de vários processadores em paralelo, técnica que tem sido comum nos processadores gráficos de alta performance.


As técnicas mais recentes de IA (Inteligência Artificial) parecem ter dado também mais frutos, a primeira onda de IA nos anos 70 e 80 do século passado era mais um argumento de marketing do que propriamente uma realidade.

Uma das técnicas que tem obtido bons resultados tem sido o “adversarial training” em que por exemplo colocam dois programas a competir em que um tenta imitar obras por exemplo de Picasso e outro tenta descobrir falsos Picassos. No fim de cada sessão de treino quer um quer outro dos programas melhorou a sua performance, um a imitar melhor, o outro a detectar imitações.

Mostraram uma plataforma de realidade virtual em que pessoas em locais diferentes podiam aceder a um mesmo modelo de carro, com sensações tácteis quando “tocavam” no carro virtual. Fez-me lembrar o que chamavam “sensation motrices” no avião Concorde, em que os flaps eram comandados por sinais eléctricos que controlavam servomotores. Nos aviões clássicos quando o piloto mudava a posição dum flap, se o avião ia mais depressa o piloto sentia uma maior resistência pelo que tinha maior dificuldade em mudar rapidamente o flap. Pensou-se que seria prudente introduzir uma resistência “sintética” na alavanca de comando para evitar que em velocidades altas o flap mudasse a sua posição de forma brusca.

Tenho notado no “Google Images” que, embora acerte muitas vezes no tipo da imagem que buscamos, quando procuro o nome duma flor ele tem-me dito que se trata duma flor vermelha, isto nos seus dias melhores. Na demonstração, o software identificava com enorme rapidez as flores que lhe eram submetidas.

Achei também interessante e potencialmente útil o sucesso na procura de palavras ou frases na banda sonora de um dado filme, extendendo a possibilidade até agora apenas existente para palavras ou frases em textos às instâncias que existem como sons em filmes ou gravações. A aplicação desta busca a comunicações telefónicas parece um bocado assustadora pois torna mais fácil a aplicação de escutas de uma forma maciça onde anteriormente tal exigiria imensa mão-de-obra ou melhor, orelha-de obra. Por outro lado, sem este reconhecimento eficaz de palavras ditas será impossível ter tradutores automáticos, embora me continue a parecer que esta parte do reconhecimento de palavras ditas é várias ordens de grandeza mais simples do que chegar ao significado do que foi dito e encontrar uma forma equivalente noutra língua.

A investigação e desenvolvimento de veículos automóveis sem condutor é outro dos objectivos onde existem actualmente grandes investimentos e a computação gráfica é claramente uma ferramenta essencial neste domínio.



Achei graça que dentro do pacote CUDA, uma  plataforma de computação paralela criada pela NVIDIA exista referência à linguagem FORTRAN, a linguagem de programação em que escrevi os meus primeiros programas, nos finais dos anos 60 e que embora não seja actualmente das mais populares, tem uma base instalada de cálculo científico tão grande que continua a ser bastante usada.

Confirma-se assim um artigo que li há muito tempo na revista Sientific American, certamente no século XX, em que diziam que a linguagem FORTRAN continuava a ser usada se bem que com algumas transformações que a tornavam dificilmente reconhecível para os seus utilizadores pioneiros, concluindo: “não sabemos como serão as linguagens de programação de computadores que serão usadas no século XXI mas estamos convictos que uma delas se chamará FORTRAN”!


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