Na edição do jornal Expresso de 25/Jan/2014, na entrevista ao banqueiro António Horta Osório, à pergunta “Portugal vai conseguir pagar a dívida?” o entrevistado respondeu: “O importante não é pagar a dívida, mas que a dívida se mantenha dentro de rácios razoáveis em relação à riqueza criada. Enquanto os privados devem pagar as dívidas ao longo do seu ciclo de vida, as empresas e os Estados, que não têm um ciclo de vida, não precisam de o fazer. Têm é de pagar o serviço da dívida”.
Não notei nesta semana que passou nenhum alarme sobre estas afirmações.
Já o mesmo não se passou quando, nos finais de 2011 apareceu esta notícia, por exemplo no Correio da Manhã em 7/Dez/2011:
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O ex-primeiro-ministro José Sócrates comentou em Paris a crise na Europa, durante uma conferência com colegas universitários da Sciences Po, onde estuda Ciência Política. "Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos Estados são por definição eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei", disse.”
"Claro que não devemos deixar crescer a dívida muito, porque isso pesa depois sobre os encargos. Todavia, para um país como Portugal, é essencial financiamento para desenvolver a sua economia. É assim que eu vejo as coisas", concluiu Sócrates. A palestra teve lugar a 3 de Novembro numa sala do campus universitário de Poitiers, cidade onde há um pólo da Sciences Po.
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Houve um clamor de vozes criticando a irresponsabilidade do ex-primeiro-ministro por alegadamente defender a ideia que as dívidas não são para se pagar.
É curioso como algumas técnicas da disciplina de Retórica, já conhecidas no tempo do império romano, como atesta o título deste post, continuam a ser usadas passados milénios e ainda têm algum efeito, quando já desde essa altura se sabe que algumas delas e esta especificamente não passa de uma falácia, o argumento é rejeitado não pelo seu conteúdo mas porque foi usado por um “inimigo”.
A wikipédia tem uma entrada “Argumentum ad hominem” onde explica a estrutura lógica:
• O autor X afirma a proposição P;
• Há alguma característica considerada negativa em X;
• Logo, a proposição P é falsa.
Daí fui dar a esta entrada sobre “The Art of Being Right” onde encontrei este quadro de Paolo Veronese com o título “Aracne ou a Dialéctica”
1 comentário:
Os argumentos, ainda para mais se políticos, não têm apenas o seu conteúdo "facial" (lógico, se quiser). A sua interpretação deriva, em parte, do seu locutor.
Já agora, Sócrates referiu a irresponsabilidade de deixar crescer muito a dívida. Com toda a certeza isso terá tido efeito
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