2011-09-03
Confiança
Nestes tempos em que se constata ser perigoso confiar nas promessas que nos fazem, lembrei-me desta imagem duma obra da artista inglesa Tracey Emin
que foi acompanhada por este texto
«
O exercício do poder sobre alguém começa sempre assim. Confia em mim, que quer dizer, confia-te a mim. Eu nunca consigo confiar em quem pede a minha confiança. E se tento, perco-a de vista. E se confio, é porque já confiava. Confiar faz parte dos actos livres e gratuitos, governados por uma vontade que não se deixa modelar pelas ponderações do que é mais adequado fazer. No exercício do poder sobre os outros é preciso ter isso em conta. Na submissão ao poder dos outros sobre nós é escusado omitir a reserva nas conversas com os botões. É uma terrível perda de tempo o tempo de vida que se leva a perceber que se faz sempre o que se quer. Pior ainda é o custo da sabotagem da nossa vontade. Lá para a frente podem receitar-nos uns ansiolíticos para vivermos mais confortáveis com isso.
»
mostrando uma saudável desconfiança por quem começa uma intervenção por “Confia em mim”.
Na altura lembrei-me do Epiménides um filósofo cretense famoso pelo paradoxo com o seu nome dizendo: “Todos os cretenses são mentirosos”. Trata-se de uma frase cuja veracidade é impossível de provar, principalmente por ser auto-referente.
Se o Epiménides fosse vivo, ao ler o texto acima produziria possivelmente outro paradoxo dizendo: Confia em mim, não deves confiar em pessoas que começam frases dizendo “confia em mim”.
Agora que li este aviso
«
...As pessoas são boazinhas, partem do princípio de que eu também sou e confiam em mim. Não deviam. Tenho sangue a correr-me nas veias e o meu coração é tão vulnerável a arritmias como qualquer outro.
»
duma pessoa dizendo que não devemos confiar nela, interrogo-me se podemos confiar nela que não devemos confiar nela.
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