2010-10-24

Geometria em Alqueva

A quantidade de opiniões sobre a aflição económica de Portugal é de molde a monopolizar as atenções, eu próprio sucumbi a comentar alegadas vantagens da saída do Euro e, já agora, refiro a propósito que o Reino Unido, que não renunciou à soberania que lhe proporciona a libra, está também em grandes apuros.

Mas este blogue faz-se a propósito de imagens e de pensamentos que elas suscitam, pelo que vou mostrar algumas que tirei numa visita recente à central do Alqueva. Começo pelo lago visto da barragem



numa atmosfera que não se costuma associar ao Alentejo.

Dentro da central fiquei mais uma vez fascinado pela elegância das linhas geométricas simples e não resisti a fazer várias alterações na fotografia dos topos dos dois geradores reversíveis, de forma a sublinhar essa simplicidade:



Chamou-me a atenção o desenho geométrico “ligando” os dois geradores, que apresento um pouco mais detalhado,



onde sobressaem os quadrados entrelaçados que já referi neste post.

Gostei muito deste arco dando para a nave principal da central



e deste contraponto entre o poliedro no topo do gerador e um arco em forma de ferradura que faz lembrar influências da arquitectura islâmica.



O recurso ao tijolo parece decorativo, tudo aquilo deve estar suportado em cimento armado, mas as linhas brancas delimitando os tijolos lembraram-me este tecto magnífico da entrada num caravanserai em Meybod no Irão:

6 comentários:

Helena Araújo disse...

Ao olhar para estas fotografias (então aquela iraniana, que fotografia linda!) lembrei-me de um comentário de uma amiga minha, médica, sobre os hospitais portugueses e outros que ela conhece na Europa. Nuns, chão de mármore e granito polido; nos outros, chão de linóleo. Mas, em compensação, portas automáticas para as macas passarem com mais conforto para o doente...
Uma outra amiga minha, francesa, comentava que os alemães "não têm erotismo" na construção civil. É certo: por exemplo, nas autoestradas uma ponte é uma ponte - um tabuleiro para ir com segurança de A para B. Enquanto que na França as pontes nas autoestradas são sempre uma surpresa e uma graça.
Sem ter opinião formada, pergunto-me se era mesmo necessário o Estado gastar dinheiro nesses tijolos, e se não bastava ter deixado o betão à vista? Por outro lado, não será um empobrecimento se um país se concentrar apenas na funcionalidade e perder a noção da estética?

jj.amarante disse...

Helena, os Portugueses têm uma grande tradição decorativa com um zénite provável no barroco. Eu gosto de linhas simples e de soluções minimalistas, quando a beleza vem da adequação da forma à função. Mas também aprecio decorações. Que podem ser muito funcionais, como nas magníficas estações da linha vermelha do metro de Lisboa que são uma alegria para a vista e que têm cumprido muito bem a função de evitar em boa medida os grafittis.

Nas grandes obras costuma-se usar um critério de percentagem, para deixar algum espaço à decoração. Esta decoração em tijolo é uma percentagem muito menor na obra de Alqueva do que usar mármore polido num chão de hospital, que me parece uma má ideia.

Mas mesmo os alemães têm as suas fantasias, não me vai dizer que era necessário ter pessoas a passear na cúpula transparente do Parlamento Alemão.

DL disse...

Surpreendente. A central aceita visitas do público?

Helena Araújo disse...

Fantasias?
Modernices!
;-)

Foi coisa de americano. Esta globalização...

Há-de reparar nas obras mais terra-a-terra. Pontes nas auto-estradas, por exemplo.
Quando morava no sul da Alemanha, perto da Alsácia, surpreendia-me sempre a diferença entre a leveza e a graça de umas, e a robustez e funcionalidade das outras.

jj.amarante disse...

DL, obtive esta informação da EDP:
«As visitas aos aproveitamentos hidroeléctricos são concedidas (durante a semana) a estabelecimentos de ensino, entidades oficiais, e grupos organizados de "carácter não lucrativo".
Visitas particulares individuais não podemos considerar.
Para pedir visitas aos aproveitamentos a maneira mais simples é por mail para o phtm.edpproducao@edp.pt ou para o fax 249381384
»
Talvez organizar uma visita de estudo dum grupo universitário...

Anónimo disse...

Amaranteamigo

Também gosto de linhas simples e de soluções minimalistas. Mas, há sempre um mas, por vezes também me encantam os floreados, sobretudo em pedra, como é o caso do Manuelino. Barroco, não é comigo.

Amigo

Chego aqui por intermédio do nosso Amigo Seixas da Costa do DUAS OU TRÊS COISAS e estou muito satisfeito por te ter encontrado. O teu blogue é muito interessante, e bem escrito. O que, para mim, que sempre ganhei a vida a produzir prosa tão honesta quanto possível, (sou jornalista e dizem que também escritor, dizem…, e aos 69 anos não me sinto velho) é motivo acrescido de satisfação.

Espero que me retribuas a visita e deixes comentários na Minha Travessa. E, já agora, que te tornes meu (per)seguidor. Não é pedir muito… Obrigado

Abs

NB – Peço-te desculpa, mas tenho de referir que este é um texto base, ainda que com algumas apreciações individuais e específicas. Infelizmente não sou dono do tempo, e a sê-lo seria uma chatice… Para que não haja dúvidas. Mas, é sincero.