2010-10-30

M.C.Escher: a procura do infinito na simetria central

Os leitores desculparão o título aparentemente pomposo mas é uma forma simples e exacta de descrever a procura por Escher de formas de representação do infinito em desenhos organizados à volta de um ponto central.

As figuras com simetria central adequam-se naturalmente à forma circular como o prato do post anterior


e como neste exemplo de pássaros estilizados em que o infinito se situa na periferia do círculo.

Além da complexidade do preenchimento da superfície, colocar o infinito na periferia do círculo parece-me bastante estranho, existindo um ponto central parece mais natural escolhê-lo para esse papel, como acontece no prato iraniano do post anterior.

Foi o que Escher fez nesta imagem circular com borboletas, dispostas em círculos que se entrelaçam



mas uma vez que já tinha conseguido num desenho colocar o infinito na periferia e noutro no centro, porque não fazer um desenho em que o infinito aparecesse em ambos os locais? Foi o que fez neste desenho com serpentes, que me deixa sem palavras, que acabou poucos dias antes de morrer:




Todos estes desenhos vieram deste site, que em conjunto com este têm das melhores reproduções das obras de M.C.Escher disponíveis na net. Nas duas primeiras imagens mudei a cor do quadrado, onde se inscreve o círculo, de branco para preto, devido ao fundo preto deste blog. Na imagem das serpentes isso não ficaria bem.

Entre as inúmeras referências a Escher na net seleccionei esta que se refere às serpentes e a Poincaré e Coxeter, como matemáticos cujos trabalhos influenciaram alguns dos desenhos de Escher, nomeadamente estes que acabo de mostrar.

2010-10-29

Confusão e prato de Isfahão

A situação política em Portugal, com a floresta de enganos das contas públicas e desta coreografia elaborada das negociações entre o PS e o PSD, que parece ir desaguar no deixar passar um orçamento, fez-me pensar neste prato com desenhos de grande complexidade que trouxe da cidade de Isfahan do Irão.



Trata-se de um pequeno prato metálico de 14 cm de diâmetro, provavelmente de cobre, esmaltado com fundo azul ultramarino e desenhos de linhas brancas e de pinceladas douradas. É um caso de ouro sobre azul, embora certamente sem a presença de metal precioso. Tenho sempre alguma dificuldade em fotografar dourados e prateados e neste prato essa dificuldade também esteve presente. Um dia ainda vou frequentar um curso de fotografia.

Ao olhar para o prato de alguma distância noto a existência de uma espécie de estrela de 8 pontas, que será mais aparente nesta imagem mais pequena do mesmo prato aqui ao lado. Não sei se este prato específico foi pintado à mão, suponho que sim porque vi numa loja estarem a fazer este tipo de desenhos, e embora a regularidade das formas esteja presente, as figuras não se repetem de forma exacta, existem pequenas variações. Poderia ser uma cópia mecânica de um desenho originalmente feito à mão.

Mas o que realmente me surpreende é a existência de um conjunto de movimentos que possibilitam um desenho estável desta complexidade. Existem provavelmente formas de desenhar estas curvas que evitam que degenerem em padrões abatatados e que as formas respeitem esta divisão em 8 sectores. Acho que terei que revisitar Isfahan para ver como é que se faz pois sinto-me completamente incapaz de fazer um desenho destes.

Outra coisa que me surpreende é este meu interesse por pratos. Já fiz um post sobre um prato turco, outro sobre um prato indiano e agora este sobre um persa. Os outros pratos tinham composições agradáveis e de execução cuidada, ao alcance apenas de artesãos com um bom treino, mas percebia-se como eram feitos os desenhos, coisa que neste ainda não atingi.


Nas costas do prato tem esta referência (passe a publicidade).

Embora as imagens anteriores sejam mais realistas, tirei outra foto sub-exposta de que também gostei:

2010-10-24

Geometria em Alqueva

A quantidade de opiniões sobre a aflição económica de Portugal é de molde a monopolizar as atenções, eu próprio sucumbi a comentar alegadas vantagens da saída do Euro e, já agora, refiro a propósito que o Reino Unido, que não renunciou à soberania que lhe proporciona a libra, está também em grandes apuros.

Mas este blogue faz-se a propósito de imagens e de pensamentos que elas suscitam, pelo que vou mostrar algumas que tirei numa visita recente à central do Alqueva. Começo pelo lago visto da barragem



numa atmosfera que não se costuma associar ao Alentejo.

Dentro da central fiquei mais uma vez fascinado pela elegância das linhas geométricas simples e não resisti a fazer várias alterações na fotografia dos topos dos dois geradores reversíveis, de forma a sublinhar essa simplicidade:



Chamou-me a atenção o desenho geométrico “ligando” os dois geradores, que apresento um pouco mais detalhado,



onde sobressaem os quadrados entrelaçados que já referi neste post.

Gostei muito deste arco dando para a nave principal da central



e deste contraponto entre o poliedro no topo do gerador e um arco em forma de ferradura que faz lembrar influências da arquitectura islâmica.



O recurso ao tijolo parece decorativo, tudo aquilo deve estar suportado em cimento armado, mas as linhas brancas delimitando os tijolos lembraram-me este tecto magnífico da entrada num caravanserai em Meybod no Irão:

2010-10-18

A soberania que “perdemos” com o Euro

Fiquei algo surpreendido com a crónica do Nicolau Santos no jornal Expresso de 16/Out/2010 em que sugeria que se iniciasse o debate sobre a nossa eventual saída do euro.

O meu pai dizia-me que o escudo era uma moeda muito forte mas na minha primeira deslocação ao estrangeiro em 1970, quando me dirigi a um balcão dum banco em Paris para trocar algumas notas de escudos em francos franceses disseram-me secamente: changeons pas, trop mauvais! No Verão de 1970 ocorreu um incidente de curta duração com o escudo que talvez justifique este episódio, talvez tenha tido azar com o francês que me atendeu ao balcão pois mais tarde aprendi que a variação entre um francês afável e um hostil é bastante maior do que noutras sociedades. Acho que passado um ou dois dias consegui trocar dinheiro noutro banco em Paris mas fiquei traumatizado para o resto da vida com esta falta de aceitação do escudo.

Em viagens posteriores, sobretudo a Inglaterra, costumava ver o valor percentual da diferença entre a compra e a venda das várias moedas nas casas de câmbio e lembro-me que enquanto no dólar americano ou no marco alemão essa diferença era inferior a 5% do valor da moeda, no caso do escudo essa diferença andaria à volta dos 10%, traduzindo o maior risco que os cambistas lhe atribuíam.

Ainda me lembro também do regime do “crawling peg” em que o governo português através de uma desvalorização constante tirava alegremente do nosso bolso o dinheiro que lhe fazia falta.

Tenho muito más memórias desse tempo em que havia ajustes anuais devidos à inflação. Quando esta estava a subir os salários eram ajustados à inflação que se tinha verificado no ano anterior, quando se esperava que descesse os salários eram ajustados à inflação esperada para o ano seguinte, criando-se mais um mecanismo de enganar o pessoal pois as estimativas raramente acertavam, não passando de figuras de retórica.

Foi assim com grande satisfação que vi a nossa entrada no euro (cuja imagem fui buscar aqui). Uma saída agora seria o início do fim do projecto europeu e não acredito nem nos amanhãs que cantam nem na eficiência de um ainda maior sofrimento agora para passarmos esta crise a grande velocidade.

Se saíssemos do euro e com a facilidade actual dos fluxos financeiros presumo que boa parte dos capitais nacionais se refugiaria no euro, moeda que continuaria a ser usada pela maioria dos nossos parceiros comerciais. A principal diferença seria que os salários poderiam ser desvalorizados discreta e constantemente, de forma a que todos os trabalhadores pudessem ser cada vez mais competitivos, ganhando cada vez menos.

Não muito obrigado, fiquei cansado de quando os governantes de Portugal tinham essa soberania de poderem tirar-me dinheiro com grande à vontade e discrição, eu nunca senti essa soberania como minha. Não sinto que “nós” os cidadãos comuns tenhamos perdido essa soberania, foram “eles” os governantes que a perderam. E pelo andar das contas públicas parece-me que não a mereciam nem a merecem.

2010-10-15

The National Gallery, London

Estava a ler este post da Vida Breve, referindo a exposição intitulada “Venice, Canaletto and his Rivals” que decorre na National Gallery em Londres, de 13 de Outubro de 2010 a 16 de Janeiro de 2011 e acabei a fazer uma visita breve ao site da Galeria.

Tenho reticências a variados aspectos da cultura anglo-saxónica mas aprecio a clareza com que identificam os bens públicos. Nem sempre o conseguem, quando passaram pela época Thatcher os museus que eram gratuitos passaram a ser pagos, mas regressaram agora a alguma forma de gratuitidade.

O argumento do utilizador-pagador costuma ser uma figura de retórica dos governos que não conseguem controlar os gastos do Estado. Se não existem bens comuns disponíveis “gratuitamente” a todos os cidadãos, para que servem os nossos impostos? Um dos casos mais gritantes dessa falácia foi a atribuição da cobrança das portagens da Ponte 25 de Abril à Lusoponte, para pagar uma parte da ponte Vasco da Gama. É completamente contra o princípio do utilizador-pagador fazer os utilizadores da ponte 25 de Abril pagarem a outra ponte. Quem os pôs a pagá-la foi o ministro Ferreira do Amaral do PSD mas tenho a certeza que o PS seria capaz de fazer o mesmo. Trata-se simplesmente de ir buscar dinheiro aonde se consegue, neste caso aos clientes cativos da ponte 25 de Abril, obrigando-os a pagar algo que não usam. È um caso de “não-utilizador”-pagador.

Na Inglaterra actual existem muitos museus de entrada livre, à semelhança do que acontece em muitos museus de Washington. E a National Gallery de Londres, tem além disso um site magnífico em que se acede com grande rapidez a uma grande quantidade de quadros e surpreendeu-me o grau de detalhe que se consegue com ampliações sucessivas.

Por exemplo neste quadro naïf de Henri Rousseau (dit le Douanier) intitulado “Surpris” em que vemos um tigre surpreendido por um relâmpago numa selva debaixo duma tempestade com muita chuva e vento, que fui buscar ao site da National Gallery, aqui.



Julgo já ter referido que continua a ser difícil avaliar qual das várias reproduções disponíveis na internet sobre um dado quadro é mais fiel ao original. A própria variação da restituição das cores de monitor para monitor torna este tema muito complicado. Mas as reproduções da National Gallery pareceram-me de grande qualidade. À partida os responsáveis por museus devem-se interessar mais do que a média dos utilizadores pela qualidade das imagens. Até agora costumava preferir as imagens da Wikipédia mas vou investigar melhor no futuro as disponibilidades dos museus.

Entretanto mostro a ampliação máxima que se consegue do quadro acima, mostrando a cabeça do tigre em grande detalhe



É quase como se fôssemos lá.

2010-10-12

Barragem do Maranhão e Rabuzin

Ahhhh, a Natureza..., dirá um citadino mais naïf ao contemplar esta paisagem tranquila ao pé da vila de Avis.



Na realidade nada disto é "natural" no sentido mais usual do termo em que se considera algo como "natural" quando não houve intervenção de seres humanos, como se eles não fossem também parte da "Natureza".

O lago está ali porque os seres humanos fizeram uma barragem, criando uma albufeira, os sobreiros estão num terreno aparentemente limpo de ervas daninhas, o milho não estaria aqui se não tivesse sido plantado e se não existisse aquele braço articulado de rega que se alimenta provavelmente de água da barragem e o arranjo geométrico das oliveiras não foi fruto espontâneo da reprodução selvagem das árvores. É uma paisagem altamente humanizada que como tal poderia figurar num livro escolar.

A disposição das oliveiras recordou-me este quadro naïf de Rabuzin, que vi num pequeno museu em Zagreb dedicado a este tipo de arte, de que trouxe na altura um poster.



Ainda não consegui tirar uma foto do poster em que não aparecessem reflexos, pelo que a imagem que mostro é do site que referi. Mas como a achei um bocado forçada usei a opção "blur" e tirei um pouco do contraste.

Antigamente falava-se dos naïfs jugoslavos. Não sei se eram sobretudo croatas.

Acabo de me aperceber que seria politicamente incorrecto chamar naïf a este tipo de arte de que tanto gosto. Acho naïf considerar incorrecto usar o termo naïf.

2010-10-08

Canavial à beira-Tejo

O Outono é o tempo das plumas nos canaviais e do tempo a tender para o instável. Passou um minuto entre a primeira e a segunda foto. Ambas tiradas com o telemóvel que era o que havia à mão.




2010-10-06

Repúblicas na Europa

Li aqui que quando a república foi implantada em Portugal na Europa apenas existiam duas: a Suíça e a Francesa.

Fiquei a pensar o que teria acontecido para haver tantas repúblicas na Europa nos tempos que correm e além deste mapa, com as repúblicas a azul e as monarquias a vermelho alaranjado,fiz este pequeno resumo que espero que não tenha grandes incorrecções.

Com a revolução bolchevique de 1917 na Rússia desaparece o império do czar. A Finlândia separa-se da Rússia e proclama república em 1919. Com o fim da 1ª grande guerra em 1918 os impérios alemão e austro-húngaro dão lugar às repúblicas da Alemanha, da Áustria, da Hungria e da Checoslováquia. A Polónia, que fora dividida entre a Prússia, a Rússia e a Áustria no século XVIII, renasce das cinzas mas também como república. A Irlanda consegue tornar-se independente do Reino Unido em 1919 e opta por um regime republicano. Forma-se o reino da Jugoslávia agregando a Sérvia a outras partes que dos Balcãs que anteriormente integravam o império austro-húngaro. A Turquia, que infelizmente não está aqui representada, quase que desaparece como estado após 1918 mas é fundada a república turca em 1923.

Após a 2ª grande guerra ocorre uma segunda revoada de extinção de monarquias: a Itália, pelas boas relações do rei com o regime fascista, a Roménia e a Bulgária por razões semelhantes e pela tomada do poder pelos comunistas. Na Jugoslávia os comunistas foram também os maiores resistentes à ocupação nazi e tomaram o poder no fim da guerra. A Islândia, que tinha uma união real com a Dinamarca optou pela separação e pela república em 1944.

Subsistiu a monarquia na Grécia que desapareceu em 1974 por referendo, na sequência da queda da ditadura dos coronéis cujo governo fora legitimado pelo rei após o golpe de 1967.

A Espanha de onde a monarquia desaparecera em 1931, com a abdicação de Afonso XIII, vê-a restaurada pelo general Franco em 1975. Além da Espanha restam os reinos da Suécia, da Noruega, da Dinamarca, da Holanda, da Bélgica (por quanto tempo..), do Reino Unido e o grão-ducado do Luxemburgo. Não são muitos países.

A regra que parece geral é que sempre que se abate uma grande desgraça sobre um país, as pessoas convencem-se que a monarquia não as consegue proteger dessas vicissitudes e prescindem dela.

É melhor uma boa monarquia do que uma má república mas melhor ainda é uma boa república.

2010-10-01

O Touro, a Lagosta e o templo Jain de Ranakpur

Há uns tempos, julgo que na sequência da proibição de touradas na Catalunha, apareceu mais uma petição para acabar com as touradas em Portugal, que desta vez assinei.

Entretanto no Janelas o JPB manifestou a intenção de lançar uma petição para acabar com a cozedura de lagostas vivas.

Na altura fazia muito calor e não senti forças para argumentar mas agora, que o tempo está mais ameno, decidi-me a abordar este tema.

Já agora manifesto que encontro qualidades nas touradas, sobretudo na sua versão Portuguesa, quer no toureio a cavalo quer na intervenção dos forcados. Acho fascinante a tensão do nervosismo do cavalo na citação do touro, a elegância e destreza dos movimentos de esquiva durante a investida e mesmo o gesto certeiro e seguro de espetar a farpa no dorso do animal. Toda aquela sequência de movimentos tem uma grande beleza, para não falar da adrenalina da presença do perigo. Parece-me que o espectáculo celebra o triunfo da destreza e da inteligência sobre a força bruta mas constato que associado a esse triunfo aparece a crueldade.

Quanto aos forcados não me parece que façam mal ao animal mas, se calhar, precisam que ele já esteja um bocado cansado pela sequência de ferros espetados durante o toureio a cavalo. Admiro a valentia dos forcados embora me pareça com pouco sentido. Às vezes penso que ainda mais do que a manifestação de valentia é a procura da solidariedade humana em situações de dificuldade, como este vídeo do Youtube tão bem ilustra:


O Michael Wood no programa “The story of India” dizia que, talvez como resultado da enorme violência que tem assolado muitas vezes o sub-continente, apareceram movimentos que pregavam a não-violência como o Jainismo, religião fundada pelo Mahavira.

Deixo aqui, para amenizar, uma imagem do interior belíssimo do templo Jain mais importante de Ranakpur,




uma floresta de colunas de mármore esculpidas todas de forma diferente, numa foto que retirei da Wikipédia sobre Ranakpur.

O Mahavira era bastante radical na sua renúncia à violência pelo que alguns discípulos mais zelosos usam uma gaze em frente da boca para evitar engolir algum insecto, varrem o chão à frente do seu caminho para evitar pisar algum pequeno animal que por aí esteja a passar e em casos mais extremos não se lavam, para não fazer mal aos parasitas. Claro que são estritamente vegetarianos.

Eu também gostaria de ser vegetariano mas acaba por ser pouco prático e limito-me a ter um consumo moderado de carne. Prefiro formas abstractas como os bifes, em que é difícil ver a relação entre o que se está a comer e o animal vivo. Ver um frango assado inteiro entristece-me vagamente, prefiro os cubos de carne de frango dos restaurantes chineses.

Mas a vida tem um princípio e um fim e tem sido natural que uma grande variedade de animais se alimente de outros pelo que o essencial desta discussão é sobre o sofrimento do animal e não propriamente sobre a sua morte.

Assim como existem gradações nos graus de vegetarianismo, também existem gradações na empatia com diversas formas de vida. Normalmente é mais fácil sentir empatia com os que nos são mais próximos do que com estranhos. Ou com os animais de estimação do que com os outros.

Atacar o argumento que quando se é contra as touradas também se deveria ser contra a cozedura de lagostas vivas é difícil por dois motivos:
- vem um bocado na tradição judaico-cristã singularizar os seres humanos face a todos os outros animais. Nós temos alma, eles não têm. Nós pensamos, eles não. Basicamente todos os animais se equivalem e estão ao nosso serviço, se queremos poupar o sofrimento aos touros porque não mostrar a mesma consideração com as lagostas?
- a outra dificuldade é a anti-elitista: ao argumentar que devemos ter mais consideração pelo touro do que pela lagosta, porque este tem um sistema nervoso mais desenvolvido poderemos ouvir que estamos a ser injustos para com a lagosta que não tem culpa de ser menos inteligente.

Sou muito alérgico a todo e qualquer método de medição de inteligência em que se atribui um número ao grau de inteligência de cada um. Se nem sequer uma coisa tão simples como a posição de um ponto num plano prescinde de dois números, como se pode tentar caracterizar uma coisa tão complexa como a inteligência com apenas um número, ainda por cima com apenas 3 algarismos?

Mas não tenho dúvidas que um touro está muito mais próximo de um ser humano do que uma lagosta e julgo que a tradição judaico-cristã exacerbou a diferença entre os homens e os outros animais, designadamente os mamíferos, bastante mais do que noutras culturas.

Neste sentido parece-me razoável que nos preocupemos primeiro com o sofrimento dos touros, deixando a preocupação com as lagostas para futuros mais longínquos.

Ao escrever posts é frequente aprender mais alguma coisa sobre o tema que estou a escrever. Este não foi excepção, aprendi que “lobster” é o que chamamos lavagante, enquanto a nossa lagosta se chama “rock lobster “ou “spiny lobster”. Também aprendi que este tema da matança das lagostas tem sido muito pensado, que se colocarmos a lagosta num ambiente gelado durante 15-20 minutos antes da fervura o animal fica anestesiado e não sofre na cozedura. Outra possibilidade é colocá-lo numa solução mais salgada, também 15 minutos antes da fervura.

Ainda outra hipótese é evitar consumir lagosta, o que poderá ajudar as finanças neste tempo de crise.

As fotos que tirei em Ranakpur ficaram fracas pelo que fecho com outra também da Wikipédia :


mostrando uma beleza deslumbrante que não é ensombrada pelo sofrimento.