2010-08-03

A ponte mais bela do mundo

Faz parte da natureza humana acreditar em muitas das tretas que vão aparecendo, caso contrário a propaganda e o marketing seriam muito mais difíceis.

Neste caso fui influenciado por este cromo das “Maravilhas do mundo”, colecção que fiz na juventude e a que já me tenho referido neste blogue.


Não acredito na possibilidade de estabelecer uma ordenação incontestável de um conjunto em relação qualidades não mensuráveis como a inteligência, a beleza, etc. Mas interpreto a afirmação de que se trata da ponte mais bela do mundo como significando que será uma das mais belas, que merecerá certamente uma visita. No texto do cromo diz que tem 35 metros de comprimento, o que parece pouco para guardar tanta beleza e muito pouco se considerarmos a figura e a relação entre a altura que dizem ser 9 metros e o comprimento que terá que ser muito mais.

Como vi duas pontes que se destacavam mais em Isfahan tentei no Google Ali-Verdi-Khan e isfahan, parece que agora se escreve “Allah-Verdi Khan” e o nome da ponte é “Si-o-se Pol” que quer dizer literalmente “ponte 33” ou menos abreviadamente “ponte dos 33 arcos”. Allah-Verdi Khan era o ministro do Xá Abbas I que a mandou construir, tendo sido concluída em 1602. Ainda na wikipédia diz que tem 297,76 m de comprimento mas não dizem qual a altura. A pessoa que escreveu o texto do cromo ouviu 33 arcos e escreveu 35 metros.

No texto tem ainda o disparate de dizer que liga duas cidades, quando liga apenas duas margens do rio Zayandeh que passa por Isfahan. Não sei se a altura será 9 m, mas o valor não parece disparatado.

Distraí-me também com os algarismos escritos à mão pelo meu pai, que manifestava interesse em que nós fizéssemos estas colecções e acho graça ao “7”, feito com uma esferográfica mas com um movimento treinado com caneta de aparo, em que se tentava evitar quer ângulos muito agudos quer levantar o bico do papel.

Confirmei no Google Earth que a ponte tem cerca de 300 m de comprido, o que é fácil de fazer como se vê na imagem a seguir.




A propósito de alguma falta de cuidado destes textos dos cromos lembro-me de uma notícia destacada num jornal de grande circulação (julgo que foi o Diário de Notícias), a propósito de um cromo da colecção “Conquista do Espaço” onde diziam que os discos voadores existiam mesmo, mostrando a imagem de um que diziam ser fabricado no Canadá. Como a Agência Portuguesa de Revistas chamava “Colecção Cultura” a estas colecções de cromos o jornal interrogava-se: quem nos protege desta cultura? Lembro-me que foi uma experiência significativa para mim, constatar que nem tudo o que estava escrito estava necessariamente correcto

Reproduzo a seguir o cromo do disco voador


e por descargo de consciência e alguma curiosidade fui ver o que era isto do efeito “Coanda”. Ao fazer o google de “Coanda” apareceu-me logo o “Coanda effect”. O engenheiro não era bem francês mas sim romeno tendo vivido em França. Como se chamava Henri Coanda a confusão parece menor. No artigo da wikipedia diz que descobriu este efeito em 1930, o que está bem próximo de 1933. Na realidade fabricaram-se dois protótipos no construtor Avro Canada, com destino aos Estados Unidos, mas foram um grande flop e não tiveram sequência. Teriam sido aviões “VTOL” (Vertical Take-Off and Landing).

Reproduzo aqui uma imagem da wikipédia mostrando o Avrocar



Quando li a crítica demolidora no jornal à falta de cultura da colecção fiquei a pensar que por vezes os textos das colecções eram umas grandes tretas. Ao fim de dezenas de anos constato que embora muitos dos textos dos cromos contenham erros e inexactidões, este cromo do disco voador tinha um fundo de verdade.

Para finalizar deixo aqui um filminho dum disco voador de brinquedo, as fotos da ponte ficam para o post seguinte.


1 comentário:

Yasmin disse...

A tecnologia dos humanos está anos-luz atrasada, comparada a tecno alienigena.