Aproveito este fim de ano para agradecer as referências que outras pessoas fizeram a este blogue. Ao João Pinto e Castro, ao Lutz e à Shyznogud por me terem desafiado a começar e apoiado no arranque, à Helena por tanto encorajamento, ao Luís M.Jorge pelo apoio, à Io pelas músicas que tem sugerido, ao Miguel Silva pelo “Nobel” e aos outros blogues da minha pequena lista, pelas ideias que me deram de como se podia fazer um blogue.
No ambiente de grande pessimismo que se apossou dos Portugueses, mesmo antes de sermos invadidos pela actual crise económica, há uma parte da blogosfera que, sem perder a observação crítica do que nos rodeia, nos mostra ser possível manifestar opiniões não depressivas sobre a vida que continua.
Para finalizar copio um “exercício dos músculos do optimismo para arejar as assombrações”, publicado na lida insana em 31.12.2006:
Olho em frente por amanhã, deixando para trás, para sempre, todas as penúrias. Amanhã tudo o que existe de bom continuará a existir e tudo o que não presta terá mirrado naturalmente até desaparecer sem resíduos. O ar será confortável na cara e no peito, os olhos estarão brilhantes sempre. Os que nos amam amar-nos-ão ainda mais e nós a eles, ondas amáveis e largas acudirão a banhar-nos, até ao ponto exacto em que desejemos trocar de bonança, sem nunca desafinar a harmonia. A desarrumação terá um ângulo novo, desvendando o gáudio afinal inocente e imaculado de inteligências fecundas. É escusado lembrar que os conceitos de arestas cortantes ou exalando enxofres, sangue e urina, sejam eles de chagas a devastação polar, passarão a rolar polidos com um chilreio de espanta-diabos a uma distância lúdica (e já não de segurança). Os portugueses com mais de vinte e cinco anos terão em média menos seis quilos de espessura e franzirão o sobrolho apenas na utilização do fio dental propriamente dito, ou não, sendo esse sério caso. As mentes luminosas e reconfortantes que eu visito na blogosfera continuarão a permitir que eu me alimente nos seus espíritos. Algumas pessoas que vêm aqui de vez em quando deixarão ainda atrás dos seus clics esta grata dúvida de que, se calhar, existimos de verdade e, afinal, andamos todos por aí, não é que andamos mesmo?!
que deixo aqui para que seja disseminado e não perdido pelo vento, como os textos desta imagem do Hokusai:
2008-12-31
2008-12-28
O jogo da Pirâmide
Há muitos, muitos anos, não no tempo em que os animais falavam mas no tempo em que tinham deixado de falar há pouco tempo, as pessoas comunicavam por vezes entre si através de postais dos Correios, em vez de usarem o e-mail, o SMS ou o telemóvel.
Às vezes recebia-se um postal com uma lista de nomes, um convite para se entrar num jogo cujas regras se passavam a descrever e normalmente também um aviso sobre desgraças que tinham acontecido a quem tinha quebrado a cadeia da qual o jogo dependia.
Fiz uma figura para facilitar a explicação.
Neste caso o nosso herói chamado Zé recebe um postal com uma lista de nomes, em que o nome no topo da lista é o Manel, seguido do nome 1 e do nome 2. O Zé envia n euros ao Manel e faz 5 postais em que retira o nome do Manel da lista que passa a ser constituída pelo nome 1, nome 2 e pelo nome do Zé que é acrescentado no fim.
As 5 figurinhas para quem o Zé envia os postais farão operação semelhante, cada uma delas enviando n euros para o nome 1 e cada uma delas enviando 5 postais para as figurinhas da fila de baixo.
Num esquema destes o Zé, passado algum tempo e se tudo corresse bem, receberia 125 vezes os n euros que tinha enviado ao Manel.
Contudo, dado que se ia espalhando a notícia que a maioria dos jogadores raramente recebiam a almejada recompensa, a certa altura apareceu uma pequena empresa que se destinava a certificar que os jogadores não faziam batota e só enviava os postais do Zé com listas certificadas depois de receber os n euros que o Zé deveria ter enviado ao Manel (mais uma pequena importância para compensar o trabalho da certificação).
Lembro-me de colegas meus do IST defenderem a viabilidade deste jogo (que supõe implicitamente que é sempre possível encontrar novos jogadores para entrar no jogo) e de um amigo meu que gostava das provas pelo absurdo ter dito com o seu ar sério: é verdade, eu conheço um país onde descobriram que este jogo com esta certificação funciona mesmo e deixaram todos de trabalhar, limitando-se a enviar de vez em quando umas notas e uns postais para uns amigos e passado algum tempo recebem dinheiro bastante para viverem confortavelmente durante muito tempo. Infelizmente esse meu amigo não se lembrava do nome do país onde tinham descoberto as virtudes deste jogo.
Agora, passados tantos anos, depois de ler o artigo do Paul Krugman referido num post da Vida Breve, constatando entretanto alguma evolução nos procedimentos da(s) empresa(s) certificadora(s) do jogo da pirâmide, finalmente descobri esse ditoso país onde pelo menos uma parte da população tinha deixado de trabalhar: era nos Estados Unidos da América!
Às vezes recebia-se um postal com uma lista de nomes, um convite para se entrar num jogo cujas regras se passavam a descrever e normalmente também um aviso sobre desgraças que tinham acontecido a quem tinha quebrado a cadeia da qual o jogo dependia.
Fiz uma figura para facilitar a explicação.
Neste caso o nosso herói chamado Zé recebe um postal com uma lista de nomes, em que o nome no topo da lista é o Manel, seguido do nome 1 e do nome 2. O Zé envia n euros ao Manel e faz 5 postais em que retira o nome do Manel da lista que passa a ser constituída pelo nome 1, nome 2 e pelo nome do Zé que é acrescentado no fim.
As 5 figurinhas para quem o Zé envia os postais farão operação semelhante, cada uma delas enviando n euros para o nome 1 e cada uma delas enviando 5 postais para as figurinhas da fila de baixo.
Num esquema destes o Zé, passado algum tempo e se tudo corresse bem, receberia 125 vezes os n euros que tinha enviado ao Manel.
Contudo, dado que se ia espalhando a notícia que a maioria dos jogadores raramente recebiam a almejada recompensa, a certa altura apareceu uma pequena empresa que se destinava a certificar que os jogadores não faziam batota e só enviava os postais do Zé com listas certificadas depois de receber os n euros que o Zé deveria ter enviado ao Manel (mais uma pequena importância para compensar o trabalho da certificação).
Lembro-me de colegas meus do IST defenderem a viabilidade deste jogo (que supõe implicitamente que é sempre possível encontrar novos jogadores para entrar no jogo) e de um amigo meu que gostava das provas pelo absurdo ter dito com o seu ar sério: é verdade, eu conheço um país onde descobriram que este jogo com esta certificação funciona mesmo e deixaram todos de trabalhar, limitando-se a enviar de vez em quando umas notas e uns postais para uns amigos e passado algum tempo recebem dinheiro bastante para viverem confortavelmente durante muito tempo. Infelizmente esse meu amigo não se lembrava do nome do país onde tinham descoberto as virtudes deste jogo.
Agora, passados tantos anos, depois de ler o artigo do Paul Krugman referido num post da Vida Breve, constatando entretanto alguma evolução nos procedimentos da(s) empresa(s) certificadora(s) do jogo da pirâmide, finalmente descobri esse ditoso país onde pelo menos uma parte da população tinha deixado de trabalhar: era nos Estados Unidos da América!
2008-12-26
As Festas dos Solstícios ou o Triunfo dos Optimistas
Não é grande novidade que no Ocidente o Cristianismo se “apropriou” das festas existentes à volta dos Solstícios quer de Verão quer de Inverno. Em Portugal o Solstício de Inverno tem o Natal e o Solstício de Verão é comemorado com os dias dos “Santos populares”, 13/Jun em Lisboa, 24/Jun no Porto, para citar as duas cidades mais importantes. Uma pessoa pode contudo interrogar-se porque motivo havia celebrações próximas da passagem do planeta Terra por estes pontos singulares das suas órbitas.
À primeira vista celebrar o Solstício de Inverno parece estranho, fazer uma festa num dos dias mais pequenos do ano, com muito frio e pouca luz. Ouvi o Nuno Crato num programa de rádio fornecer uma explicação que me convenceu: o dia mais pequeno do ano é também o dia em que cessa a diminuição da duração do dia, a partir daí e até ao próximo Solstício de Verão a duração do dia irá sempre aumentar. Há assim motivo para júbilo, o Sol não nos vai abandonar e podemos ir dormir descansados e mesmo festejar porque não vamos mergulhar nas trevas eternas!
Mas depois desta explicação surge a outra dúvida: então se no Solstício de Inverno se celebra a paragem da diminuição dos dias, porque motivo se faz uma festa quando eles começam a diminuir? A explicação que me parece mais óbvia é que se faz a festa para celebrar o dia de maior duração do ano, faz-se a festa porque o dia é muito grande e gostamos da luz!
Daqui concluo que as festas dos Solstícios são o Triunfo dos Optimistas pois em cada um deles escolhem o facto positivo existente, ou a variação do dia ou a sua duração. Um pessimista nunca veria motivo para se festejar qualquer tipo de Solstício.
Para quem ficou com nostalgia das multidões a fazer compras deixo aqui uma imagem duma multidão em Salzburgo, terra em que Mozart nasceu e residiu até aos 25 anos. Estariam mais a fazer turismo do que compras mas, para o efeito de ver muita gente concentrada, será adequada.
Para quem ficou cansado de ver tanta gente deixo aqui três fotos à beira do rio Tejo, em que a ausência de vento deixou a superfície da água como um espelho.
A última talvez seja excessivamente simples mas talvez seja boa para uma pessoa se concentrar em nada.
À primeira vista celebrar o Solstício de Inverno parece estranho, fazer uma festa num dos dias mais pequenos do ano, com muito frio e pouca luz. Ouvi o Nuno Crato num programa de rádio fornecer uma explicação que me convenceu: o dia mais pequeno do ano é também o dia em que cessa a diminuição da duração do dia, a partir daí e até ao próximo Solstício de Verão a duração do dia irá sempre aumentar. Há assim motivo para júbilo, o Sol não nos vai abandonar e podemos ir dormir descansados e mesmo festejar porque não vamos mergulhar nas trevas eternas!
Mas depois desta explicação surge a outra dúvida: então se no Solstício de Inverno se celebra a paragem da diminuição dos dias, porque motivo se faz uma festa quando eles começam a diminuir? A explicação que me parece mais óbvia é que se faz a festa para celebrar o dia de maior duração do ano, faz-se a festa porque o dia é muito grande e gostamos da luz!
Daqui concluo que as festas dos Solstícios são o Triunfo dos Optimistas pois em cada um deles escolhem o facto positivo existente, ou a variação do dia ou a sua duração. Um pessimista nunca veria motivo para se festejar qualquer tipo de Solstício.
Para quem ficou com nostalgia das multidões a fazer compras deixo aqui uma imagem duma multidão em Salzburgo, terra em que Mozart nasceu e residiu até aos 25 anos. Estariam mais a fazer turismo do que compras mas, para o efeito de ver muita gente concentrada, será adequada.
Para quem ficou cansado de ver tanta gente deixo aqui três fotos à beira do rio Tejo, em que a ausência de vento deixou a superfície da água como um espelho.
A última talvez seja excessivamente simples mas talvez seja boa para uma pessoa se concentrar em nada.
2008-12-19
Presépio do Natal
Sempre gostei do Natal, tenho fortes suspeitas que essa simpatia vinha da construção do Presépio, da expectativa das prendas e do ambiente de festa, em que brincava mais com os primos.
Nasci e vivi no Porto até aos dez anos e lembro-me que nesta altura saíamos à rua para irmos apanhar musgo para fazer o Presépio. Acho que as pessoas se queixam excessivamente da existência do ritual. Por vezes pode ser uma chatice, quando uma pessoa não está em sintonia com o ambiente festivo, mas parece-me interessante marcar os dias, para não serem todos iguais.
O ano passado, para simplificar a complicação das prendas, optámos por prescindir da prenda com destinatário específico. Cada pessoa levou duas prendas, pôs-se tudo num saco e depois cada um ficou com duas prendas. Não me lembro se se evitou de levar a própria prenda que se tinha trazido.
Parece haver menos tempo disponível e o Presépio na minha casa ficou minimalista. Acho que é um artesanato mexicano mas não tenho a certeza, só sei que gosto muito dos dourados das figurinhas e da colocação sobre o prato de latão.
No outro dia achei graça numa florista a uma etiqueta dum boião de vidro cheio de Meninos Jesuses (será assim que se diz?) onde estava escrito "Menino Jesus - 4 cm -Made in China".
Nasci e vivi no Porto até aos dez anos e lembro-me que nesta altura saíamos à rua para irmos apanhar musgo para fazer o Presépio. Acho que as pessoas se queixam excessivamente da existência do ritual. Por vezes pode ser uma chatice, quando uma pessoa não está em sintonia com o ambiente festivo, mas parece-me interessante marcar os dias, para não serem todos iguais.
O ano passado, para simplificar a complicação das prendas, optámos por prescindir da prenda com destinatário específico. Cada pessoa levou duas prendas, pôs-se tudo num saco e depois cada um ficou com duas prendas. Não me lembro se se evitou de levar a própria prenda que se tinha trazido.
Parece haver menos tempo disponível e o Presépio na minha casa ficou minimalista. Acho que é um artesanato mexicano mas não tenho a certeza, só sei que gosto muito dos dourados das figurinhas e da colocação sobre o prato de latão.
No outro dia achei graça numa florista a uma etiqueta dum boião de vidro cheio de Meninos Jesuses (será assim que se diz?) onde estava escrito "Menino Jesus - 4 cm -Made in China".
2008-12-18
As fotos do Hole Horror e a fé no mercado
Estou a achar que a série de fotos do Hole Horror tiradas na varanda da jcd (ou noutro sítio) está a ficar cada vez melhor. Não sei se as últimas são melhores do que as primeiras, tenho dificuldade em escolher, acho que a série fica melhor por ficar mais numerosa, uma vez que cada elemento é tão consistentemente bom.
Já quanto à economia tenho muito mais dúvidas do que a jcd sobre a capacidade dos mercados se auto-corrigirem. Parece-me que os seres humanos precisam sempre de acreditar em qualquer coisa que ou não está demonstrado ou não é demonstrável. Como se cansaram um bocado das verdades religiosas e das guerras associadas entre os detentores da verdadeira fé e a variante marxista, nas suas várias implementações, deu maus resultados, ultimamente estas questões de fé concretizavam-se mais na crença inabalável no mercado.
Continuo-me a espantar como é possível que tantos ingleses achem que é razoável uma pessoa querer trabalhar mais do que 48 horas por semana. No próprio país que aboliu a escravatura! Porque não deixar que as pessoas vendam por grosso a totalidade da sua força de trabalho durante todo o resto da sua vida para terem a alegria de proporcionarem uma alimentação decente à sua família? Com todos os progressos verificados na produtividade porque carga de água é que continua a ser preciso trabalhar durante tanto tempo?
Mas enfim, embora acredite mais na cooperação, também vejo algumas qualidades na concorrência e, dado que não consigo competir nas horas matinais da jcd, deixo aqui um crepúsculo na Praia da Rocha que fotografei em 1974, num slide com alguma poeira e talvez subesposto mas com um tom dourado a perder a côr, como o dourado da estrela de natal do post anterior.
Já quanto à economia tenho muito mais dúvidas do que a jcd sobre a capacidade dos mercados se auto-corrigirem. Parece-me que os seres humanos precisam sempre de acreditar em qualquer coisa que ou não está demonstrado ou não é demonstrável. Como se cansaram um bocado das verdades religiosas e das guerras associadas entre os detentores da verdadeira fé e a variante marxista, nas suas várias implementações, deu maus resultados, ultimamente estas questões de fé concretizavam-se mais na crença inabalável no mercado.
Continuo-me a espantar como é possível que tantos ingleses achem que é razoável uma pessoa querer trabalhar mais do que 48 horas por semana. No próprio país que aboliu a escravatura! Porque não deixar que as pessoas vendam por grosso a totalidade da sua força de trabalho durante todo o resto da sua vida para terem a alegria de proporcionarem uma alimentação decente à sua família? Com todos os progressos verificados na produtividade porque carga de água é que continua a ser preciso trabalhar durante tanto tempo?
Mas enfim, embora acredite mais na cooperação, também vejo algumas qualidades na concorrência e, dado que não consigo competir nas horas matinais da jcd, deixo aqui um crepúsculo na Praia da Rocha que fotografei em 1974, num slide com alguma poeira e talvez subesposto mas com um tom dourado a perder a côr, como o dourado da estrela de natal do post anterior.
2008-12-17
Estrela de Natal
Os fios de nylon iluminados da escultura do post anterior materializavam raios de luz e fizeram-me lembrar uma Estrela de Natal que comprei o ano passado em Copenhaga, a terra das coisas lindas.
Ao falar numa estrela pensei nas noites estreladas do campo, em como a iluminação das cidades nos fez perder o contacto com as estrelas, e no papel que tiveram de guia nocturno, até mesmo, segundo a lenda, para os Reis Magos.
Esta estrela, feita pela firma Georg Jensen tem a perfeição habitual dos produtos dinamarqueses e não resisti a fotografá-la.
Porém, achei que a fotografia não era suficiente para dar conta dos reflexos da estrela enquanto roda e fiz este pequeno filme minimalista de 38 segundos em que não se passa praticamente nada: apenas a estrela a rodar e os reflexos de luz a variar.
2008-12-15
Naum Gabo, detalhes construtivos
Faço aqui um pequeno intervalo das minhas imagens sobre a Índia, para expor mais uns detalhes construtivos da cópia que fiz da Construção linear nº2 do escultor Naum Gabo e que foi exibida num dos posts iniciais deste blogue.
Estou contente de ter feito esse post pois, dada a natureza deste blogue, a maioria dos visitantes ocasionais aparece aqui porque fez uma busca no Google Images. Tenho recebido visitas de muitos países, que na Europa parecem exóticos e pensei inicialmente que tal se devia à universalidade das imagens. Uma verificação mais detalhada da busca que os trouxe cá revela com uma frequência tão grande que vieram ver imagens do Naum Gabo que actualmente, quando aparece uma visita dum país mais exótico, já nem vou verificar.
Entretanto pediram-me mais alguns detalhes construtivos da minha cópia e tirei algumas fotos para facilitar o trabalho a eventuais interessados. Faço notar que esta cópia não tem a pretensão de ser uma cópia exacta da escultura original, por exemplo, nem sequer tem um vazio no interior dos planos de plástico que suportam o fio de nylon.
Na imagem a seguir, negativo da anterior, o plano da objectiva é paralelo a um dos planos de suporte dos fios, para tornar mais fácil uma eventual cópia. Vão também indicadas as medidas aproximadas do objecto
Os entalhes são um pouco mais profundos do que o diâmetro do fio de nylon e contei cerca de 90 num dos semiplanos pelo que, no total, este objecto tem 360 entalhes.
A escultura repousa sobre as sobras do plano de plástico da qual foi cortada, como se vê na imagem ao lado. É uma estrutura algo tosca mas que não afecta o conjunto.
Para finalizar tirei uma foto a partir de cima, mostrando a diferença entre dois quadrantes exactamente iguais, porque foram cortados juntos, e dois quadrantes em que as curvas são muito parecidas mas não exactamente iguais. Enquanto em dois dos quadrantes as linhas se cruzam muito bem, nos outros dois não conseguem ir em linha recta de um entalhe a outro, porque o outro fio está a passar um pouco ao lado.
O objecto tem um único fio de nylon, com um comprimento total de cerca de 100 metros.
P.S. Em Abr/2015 revisitei a construção noutro post, porque tive que colocar novo fio.
2008-12-13
As oportunidades perdidas
No meio da criação de um blog é impressionante o número de caminhos por onde os posts se podem desenvolver e as dúvidas sobre qual será o melhor caminho a tomar.
Vezes demais recebo aqueles conjuntos de fotos "Portugal no seu melhor" focando muitas vezes os padrões baixos em que ainda vivemos, outras vezes dando excessivo relevo a uma situação infeliz mas de muito rara ocorrência.
Mas não resisti a fotografar esta cena na Índia, no mesmo complexo do Qutub Minar, onde decorriam uma obras de pequena manutenção. Havia uns homens com umas pás e umas picaretas e umas mulheres que os ajudavam, transportando minúsculas quantidades de detritos dentro de umas vasilhas que levavam à cabeça, movendo-se com uma lentidão majestosa.
Em Portugal haveria certamente pelo menos um carrinho de mão para melhorar o desempenho desta tarefa.
É impressionante a falta de capital existente nestas sociedades mas certamente mais grave é a ausência de percepção de oportunidades de melhoria, com um pequeno esforço este trabalho poderia ser feito de forma bastante mais eficaz.
Também me ocorrem maus pensamentos: em sociedades muito estratificadas como a portuguesa e mais ainda a indiana, as lideranças preocupam-se pouco com a melhoria da produtividade dos trabalhadores menos qualificados, como se acha que eles irão sempre produzir pouco, nem valem um esforço de melhoria.
Vezes demais recebo aqueles conjuntos de fotos "Portugal no seu melhor" focando muitas vezes os padrões baixos em que ainda vivemos, outras vezes dando excessivo relevo a uma situação infeliz mas de muito rara ocorrência.
Mas não resisti a fotografar esta cena na Índia, no mesmo complexo do Qutub Minar, onde decorriam uma obras de pequena manutenção. Havia uns homens com umas pás e umas picaretas e umas mulheres que os ajudavam, transportando minúsculas quantidades de detritos dentro de umas vasilhas que levavam à cabeça, movendo-se com uma lentidão majestosa.
Em Portugal haveria certamente pelo menos um carrinho de mão para melhorar o desempenho desta tarefa.
É impressionante a falta de capital existente nestas sociedades mas certamente mais grave é a ausência de percepção de oportunidades de melhoria, com um pequeno esforço este trabalho poderia ser feito de forma bastante mais eficaz.
Também me ocorrem maus pensamentos: em sociedades muito estratificadas como a portuguesa e mais ainda a indiana, as lideranças preocupam-se pouco com a melhoria da produtividade dos trabalhadores menos qualificados, como se acha que eles irão sempre produzir pouco, nem valem um esforço de melhoria.
2008-12-12
Qutub Minar
Pouco depois de os muçulmanos conquistarem Delhi construíram uma torre muito alta para celebrar essa vitória e também como minarete de uma mesquita que fizeram no local, para chamar os fiéis à oração.
Quando vejo estas estruturas com fins religiosos lançadas para o céu não resisto a procurar o para-raios, essa prova da falta de fé na intervenção divina no nosso quotidiano. A foto parece documentar a existência de um para-raios no topo mas confirmei essa existência neste documento da Unesco.
Entretanto, noutro documento (em que está envolvida a Universidade do Minho) que encontrei nesta busca, descobri que a construção cilíndrica sobre a qual afirmei com prudência "...pensei logo que se tratava de uma torre usada pelos seguidores de Zoroastro..." é apenas o primeiro troço de outro minarete (Alai Minar) que nunca chegou a ser concluído.
O Qutub Minar foi feito por volta de 1200, era Portugal uma nação muito jovem.
2008-12-11
O Bem e o Mal, segundo Zoroastro
Quando passei por Bombaim ouvi a história que o melhor hotel da cidade, o Taj, tinha sido construído por um indiano rico que, por causa da cor da pele, não conseguia ser admitido nos bons hotéis da cidade. O Lonely Planet faz eco também dessa história. Na altura disseram-me que a pessoa em questão se tratava de um parsi, mas não adiantaram mais nada.
A foto que segue, mostrando o Taj Mahal Palace and Tower
foi tirada daqui . Além da parte antiga inaugurada em 1903, mostra também o arco em pedra designado “Gateway to India”, construído em 1928, para receber o rei Jorge V e por onde costumavam passar os vice-reis desde então. Os interiores da torre, feita na década de 1970, foram desenhados por um suíço residente em Hong-Kong.
Fiquei a pensar que se o dono do hotel era um parsi deveria ter alguma coisa a ver com a Pérsia mas nessa altura não havia Wikipedia nem Google e como já tenho dito, procurar informação era muito mais complicado.
Quando nos anos 80 vi a magnífica série de TV “A Jóia da Coroa” sobre os últimos anos do domínio inglês sobre a Índia, impressionou-me o drama vivido por uma professora missionária (interpretada por Peggy Ashcroft) que chega ao fim com grandes dúvidas sobre o sentido da vida que levou, entre outras coisas devido ao suicídio de uma missionária amiga, refugiando-se finalmente num silêncio total numa clínica de cuja janela contempla as Torres do Silêncio.
Acho que foi por isso que quando vi esta torre de pedra em Delhi (ao pé do Qutub Minar) pensei logo que se tratava de uma torre usada pelos seguidores de Zoroastro para depositar os cadáveres, a fim de serem consumidos pelos abutres.
Lembro-me de ter aprendido no liceu que na antiga Pérsia tinha havido um sacerdote chamado Zoroastro criador de uma religião em que se dizia que o Bem e o Mal eram defendidos por duas entidades sobre-humanas. Era certo que no final o Bem venceria (na altura ainda os Portugueses não tinham dado a sua contribuição pessimista para a visão do mundo) mas as acções das pessoas podiam acelerar ou retardar essa vitória.
Nas buscas que fiz agora na net constatei que a comunidade parsi, muito concentrada em Bombaim, é descendente de pessoas que emigraram da Pérsia há cerca de 1000 anos, muitos deles são seguidores do Zoroastrismo mas estão em vias de extinção, quer por terem poucos filhos quer por finalmente se casarem fora da comunidade.
Um das coisas que me irrita nas sociedades multiculturais é que elas só o permanecem se os casamentos entre culturas se mantiverem em número muito reduzido.
A família construtora do Taj tem o nome de Tata, nome de um conglomerado muito importante de empresas indianas e ao ir à procura do “chairman” constato aqui que é um seguidor do Zoroastrismo e de etnia parsi. Os curricula dos portugueses não costumam ter este tipo de detalhes.
Ainda nestas buscas constatei que um desastre ecológico, provocado pela administração do anti-inflamatório Diclofenac (o princípio activo do Voltaren) ao gado, está a levar os abutres da Índia à extinção. Os seguidores do Zoroastro têm cada vez mais dificuldades em manter o ritual das Torres do Silêncio.
A foto que segue, mostrando o Taj Mahal Palace and Tower
foi tirada daqui . Além da parte antiga inaugurada em 1903, mostra também o arco em pedra designado “Gateway to India”, construído em 1928, para receber o rei Jorge V e por onde costumavam passar os vice-reis desde então. Os interiores da torre, feita na década de 1970, foram desenhados por um suíço residente em Hong-Kong.
Fiquei a pensar que se o dono do hotel era um parsi deveria ter alguma coisa a ver com a Pérsia mas nessa altura não havia Wikipedia nem Google e como já tenho dito, procurar informação era muito mais complicado.
Quando nos anos 80 vi a magnífica série de TV “A Jóia da Coroa” sobre os últimos anos do domínio inglês sobre a Índia, impressionou-me o drama vivido por uma professora missionária (interpretada por Peggy Ashcroft) que chega ao fim com grandes dúvidas sobre o sentido da vida que levou, entre outras coisas devido ao suicídio de uma missionária amiga, refugiando-se finalmente num silêncio total numa clínica de cuja janela contempla as Torres do Silêncio.
Acho que foi por isso que quando vi esta torre de pedra em Delhi (ao pé do Qutub Minar) pensei logo que se tratava de uma torre usada pelos seguidores de Zoroastro para depositar os cadáveres, a fim de serem consumidos pelos abutres.
Lembro-me de ter aprendido no liceu que na antiga Pérsia tinha havido um sacerdote chamado Zoroastro criador de uma religião em que se dizia que o Bem e o Mal eram defendidos por duas entidades sobre-humanas. Era certo que no final o Bem venceria (na altura ainda os Portugueses não tinham dado a sua contribuição pessimista para a visão do mundo) mas as acções das pessoas podiam acelerar ou retardar essa vitória.
Nas buscas que fiz agora na net constatei que a comunidade parsi, muito concentrada em Bombaim, é descendente de pessoas que emigraram da Pérsia há cerca de 1000 anos, muitos deles são seguidores do Zoroastrismo mas estão em vias de extinção, quer por terem poucos filhos quer por finalmente se casarem fora da comunidade.
Um das coisas que me irrita nas sociedades multiculturais é que elas só o permanecem se os casamentos entre culturas se mantiverem em número muito reduzido.
A família construtora do Taj tem o nome de Tata, nome de um conglomerado muito importante de empresas indianas e ao ir à procura do “chairman” constato aqui que é um seguidor do Zoroastrismo e de etnia parsi. Os curricula dos portugueses não costumam ter este tipo de detalhes.
Ainda nestas buscas constatei que um desastre ecológico, provocado pela administração do anti-inflamatório Diclofenac (o princípio activo do Voltaren) ao gado, está a levar os abutres da Índia à extinção. Os seguidores do Zoroastro têm cada vez mais dificuldades em manter o ritual das Torres do Silêncio.
2008-12-04
O Mal, sempre o Mal
Tenho desenvolvido a conjectura que a tendência para a destruição é parte essencial da nossa humanidade e que algumas “justificações” são apenas desculpas para dar a esta tendência destrutiva uma máscara “racional”. Nós podemos “apenas” minimizar esta tendência mas não suprimi-la completamente.
No caso do ataque terrorista a Bombaim, que incidiu na estação de caminhos de ferro, onde abriram fogo sobre a multidão e que incluiu ataques a hotéis de luxo, nomeadamente ao magnífico hotel Taj Mahal, que nesta foto de 1990 não coube bem na minha objectiva de 50 mm
não me parece verosímil que as pessoas deixem de andar de combóio ou de frequentar este hotel (ou o Oberoi que também foi atacado), por causa destes ataques. Ocorrerão obras de reconstrução, haverá provavelmente uma queda temporária de viagens de turismo e/ou de negócios para a Índia, aumentará o número de guardas, quer dos hotéis quer doutros locais, as pessoas dirão que nada será como dantes, antes de voltarem à vida de antes dos atentados.
Depois dos atentados de Nova Iorque e de Washington as pessoas deixaram temporariamente de andar de avião mas regressaram depois a níveis iguais ou maiores do que os anteriores, as pessoas continuam a ir aos outros arranha-céus, quer de Manhattan quer de outros locais, em Madrid continua-se a andar nos comboios suburbanos, em Londres no Metropolitano.
Não pretendo minimizar a dor dos que perderam entes queridos ou que sofreram danos corporais e mentais irreparáveis, que os atormentarão para o resto da vida mas, a grande maioria continuará a fazer o que fazia antes dos atentados terroristas, com alguma actividade adicional em verificações de segurança.
Concluo assim que os terroristas se dedicam a estes exercícios basicamente porque gostam, nas versões mais moderadas, de destruir as construções que outros fizeram, nas versões mais extremas, de aterrorizar e destruir seres humanos. Trata-se sobretudo de emoção, julgo ser inútil procurar uma razão.
Tenho a firme convicção que é possível reduzir muito quer a actividade quer o impacto do terrorismo, que é muito útil tentar perceber o que se passa na cabeça dos terroristas (a que o livro referido neste post dedica um capítulo muito interessante) de forma a dificultar-lhes a acção, mas que é essencialmente impossível anular completamente este tipo de actividade.
Se uma determinada opção pode ser tomada ela acabará por ser tomada por alguém, mais cedo ou mais tarde (não nos devemos esquecer da necessidade de reduzir os arsenais nucleares), caso contrário faltaria aos seres humanos o livre arbítrio (assunto abordado neste post) e eles seriam possivelmente como estes anjos da catedral de Palma de Maiorca nas ilhas Baleares
Numa interpretação menos religiosa da questão poder-se-ia dizer que, se os seres humanos não tivessem a hipótese de cometer esses actos que parecem tão errados à (felizmente) maioria das pessoas, seriam como robots que, segundo Isaac Asimov, teriam que obedecer às 3 leis fundamentais da robótica:
1- Um robot não pode causar dano a um ser humano, ou, por omissão, permitir que façam mal a um ser humano.
2- Um robot tem que obedecer às ordens que lhe forem dadas por seres humanos excepto quando essas ordens entrem em conflito com a Primeira lei.
3- Um robot tem que proteger a sua existência desde que essa protecção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda lei.
No caso do ataque terrorista a Bombaim, que incidiu na estação de caminhos de ferro, onde abriram fogo sobre a multidão e que incluiu ataques a hotéis de luxo, nomeadamente ao magnífico hotel Taj Mahal, que nesta foto de 1990 não coube bem na minha objectiva de 50 mm
não me parece verosímil que as pessoas deixem de andar de combóio ou de frequentar este hotel (ou o Oberoi que também foi atacado), por causa destes ataques. Ocorrerão obras de reconstrução, haverá provavelmente uma queda temporária de viagens de turismo e/ou de negócios para a Índia, aumentará o número de guardas, quer dos hotéis quer doutros locais, as pessoas dirão que nada será como dantes, antes de voltarem à vida de antes dos atentados.
Depois dos atentados de Nova Iorque e de Washington as pessoas deixaram temporariamente de andar de avião mas regressaram depois a níveis iguais ou maiores do que os anteriores, as pessoas continuam a ir aos outros arranha-céus, quer de Manhattan quer de outros locais, em Madrid continua-se a andar nos comboios suburbanos, em Londres no Metropolitano.
Não pretendo minimizar a dor dos que perderam entes queridos ou que sofreram danos corporais e mentais irreparáveis, que os atormentarão para o resto da vida mas, a grande maioria continuará a fazer o que fazia antes dos atentados terroristas, com alguma actividade adicional em verificações de segurança.
Concluo assim que os terroristas se dedicam a estes exercícios basicamente porque gostam, nas versões mais moderadas, de destruir as construções que outros fizeram, nas versões mais extremas, de aterrorizar e destruir seres humanos. Trata-se sobretudo de emoção, julgo ser inútil procurar uma razão.
Tenho a firme convicção que é possível reduzir muito quer a actividade quer o impacto do terrorismo, que é muito útil tentar perceber o que se passa na cabeça dos terroristas (a que o livro referido neste post dedica um capítulo muito interessante) de forma a dificultar-lhes a acção, mas que é essencialmente impossível anular completamente este tipo de actividade.
Se uma determinada opção pode ser tomada ela acabará por ser tomada por alguém, mais cedo ou mais tarde (não nos devemos esquecer da necessidade de reduzir os arsenais nucleares), caso contrário faltaria aos seres humanos o livre arbítrio (assunto abordado neste post) e eles seriam possivelmente como estes anjos da catedral de Palma de Maiorca nas ilhas Baleares
Numa interpretação menos religiosa da questão poder-se-ia dizer que, se os seres humanos não tivessem a hipótese de cometer esses actos que parecem tão errados à (felizmente) maioria das pessoas, seriam como robots que, segundo Isaac Asimov, teriam que obedecer às 3 leis fundamentais da robótica:
1- Um robot não pode causar dano a um ser humano, ou, por omissão, permitir que façam mal a um ser humano.
2- Um robot tem que obedecer às ordens que lhe forem dadas por seres humanos excepto quando essas ordens entrem em conflito com a Primeira lei.
3- Um robot tem que proteger a sua existência desde que essa protecção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda lei.
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