Ao ver tanta flor acabei por me lembrar dos lírios do campo, referidos no evangelho de S.Mateus: “Olhai os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, com toda a sua glória, se vestiu como um deles.”
É um texto que vai ao desencontro de um ditado popular “fia-te na Virgem e não corras...” mas onde se constata que, ao contrário do que é frequentemente afirmado nos dias de hoje, que pintam passados idílicos sem ansiedade, as preocupações e o stress estão com os seres humanos há milhares de anos, claro que desde sempre. Cada geração gosta de fantasiar que o seu stress é mais stress do que o da outra, seja a antecessora ou a sucessora mas trata-se apenas de uma fantasia.
Havendo muita gente que sente falta do stress para se sentir viva, existem outros que gostariam de baixar o nível respectivo. É o caso deste mortal que pede a Deus que o liberte do livre arbítrio pois está a achar a responsabilidade moral muito pesada:
Mortal: And therefore, O God, I pray thee, if thou hast one ounce of mercy for this thy suffering creature, absolve me of having to have free will!
God: You reject the greatest gift I have given thee?
Mortal: How can you call that which was forced on me a gift? I have free will, but not of my own choice. I have never freely chosen to have free will. I have to have free will, whether I like it or not!
God: Why would you wish not to have free will?
Mortal: Because free will means moral responsibility, and moral responsibility is more than I can bear!
...
Encontrei pela primeira vez este texto “Is God a Taoist”, do autor Raymond M. Smullyan, no livro “The Mind’s I, uma colectânea de textos organizada por Douglas R. Hofstadter e Daniel C. Dennet à volta do tema da Inteligência Artificial, onde se insere com naturalidade a importante questão do livre arbítrio. O texto faz parte do livro de R.M.Smullyan “The Tao is Silent”, uma incursão de um matemático que se dedica à lógica e à filosofia nos caminhos do taoismo.
Gostei muito do texto quando o li pela primeira vez, parecia-me uma alternativa interessante à argumentação ocidental sobre este tema, fotocopiei e enviei-o a alguns amigos.
Agora, com a internet, tudo ficou mais fácil, basta seguir o link.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
"Havendo muita gente que sente falta do stress para se sentir viva, existem outros que gostariam de baixar o nível respectivo. É o caso deste mortal que pede a Deus que o liberte do livre arbítrio pois está a achar a responsabilidade moral muito pesada"
Desculpem baixar o nível, mas ao ler esta passagem lembrei-me logo de um certo tipo de funcionários públicos especialistas em fugir à responsabilidade moral e gerir o seu stress de forma saudável (para eles, não para os utentes dos serviços).
"Não é aqui", "ai, isto precisa de um carimbo de outra repartição...", etc.
Sim, adivinharam: estou outra vez com problemas com as Finanças portuguesas...
***
Continuando num registo menos sério: para esse desgraçado há solução fácil. Deixa que a mãe lhe arranje noiva, e depois põe a sua mulher a mandar. Pronto. Ficam todos três contentes. Não é preciso chatear Deus por tão pouco...
OK, j.j. amarante, OK: calo-me já, antes que me bloqueie as entradas na caixa de comentários...
;-)
Helena, muita gente tem esta tentação de prescindir da escolha. Julgo que é esse um dos fascínios da instituição militar, limitar-se a seguir ordens dos "superiores". Os jesuítas até usam a expressão "perinde ac cadaver" (obedecer como um cadáver), que acho terrível pois não será bem um cadáver mas mais um zombie aquilo em que parece que os jesuítas têm o objectivo de se tornar. O Lutz tem uma carta assustadora do Stº Inácio de Loyola sobre obediência no arquivo de Dez/2003 "http://quaseemportugues.blogspot.com/2003_12_01_quaseemportugues_archive.html".
Neste texto "Is God a Taoist" o mortal acaba por compreender que prescindir do livre arbítrio não seria uma solução satisfatória.
Caro JJ, quem diria qua alguém se lembra dos meus posts de há 4 anos!
Enviar um comentário