2011-07-04

Será que existe o livre-arbítrio? Já em 1936 se duvidava.

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O primeiro refere-se ao cálculo do preço de custo do kWh. Há contas-tipo de quem compra e contas-tipo de quem vende; e o mesmo indivíduo colocado nos dois lados da barricada com uma hora de intervalo renega serenamente da segunda vez as contas que defendeu da primeira. Chega a preocupar esta espécie de unidade profissional dos vendedores por um lado e dos compradores pelo outro, como se houvesse entre eles um voto secreto. Não se pensa que lhes falta sinceridade: chega-se antes a ter a convicção de que não existe o livre-arbítrio.
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in Estatística das instalações eléctricas em Portugal referente ao ano de 1936, Engº José Ferreira Dias Júnior (I.S.T.)



Lembro-me frequentemente deste texto quando ouço as discussões entre o governo e a oposição de Portugal e infelizmente não é por eu ter uma grande capacidade de associação de ideias mas porque as situações são, sob o ponto de vista da coerência do discurso, completamente idênticas.

Além dos custos normais da democracia, em Portugal ela adquiriu um ónus de há uns tempos a esta parte: sempre que muda o governo é preciso aumentar os impostos porque a oposição nunca fazia a menor ideia do que se passava com as finanças públicas.

Seria interessante que acabassem com esta falta sistemática de transparência das contas públicas mas parece que esta situação é muito confortável para quem governa porque presta menos contas e para os novos governos porque além da oportunidade para lançar mais um imposto têm ainda a possibilidade de alegar que não podem cumprir as promessas eleitorais. Ninguém do chamado “arco governativo” tem demonstrado interesse em alterar esta situação, nem os governos nem a Assembleia da República.

Já agora recomendo que caso pensem em aumentar a transparência o façam alterando o funcionamento do Estado e não criando outra parceria público-privada, desta vez através da contratação de serviços de auditores e de consultores pois além de se ter que reduzir os custos de funcionamento do Estado se tem também que reduzir os fornecimentos de serviços externos ao Estado.

Como imagem alusiva ao livre-arbítrio de muitos de nós mostro esta bela cascata localizada em Norheimsund na Noruega. As moléculas de água podem-se desviar um bocadinho para um dos lados mas a força da gravidade condu-las inexoravelmente para baixo.

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