Faleceu no dia 11/Jun/2024 a cantora francesa Françoise Hardy que se tornou mundialmente famosa no ano de 1962 com a canção "Tous les Garçons et les Filles".
Eu fazia nesse ano 13 anos, era então um adolescente que não se apercebera que era agora um "teenager", classificação anglo-saxónica pouco em voga nessa época, concluíra em Junho o então 3º ano do liceu, que era o 7º ano de escolaridade, no 5º e 6º ano tivera 5 horas de francês por semana e no 7º ano apenas 2h, fazendo um total de 12h/semana até então enquanto com o inglês apenas tivera 5h/semana no 7º ano. Nessa altura quando se chegava ao fim do 9º ano tinham-se tido 5+5+2+2+2=16h/semana de aulas de francês e 5+5+5=15h de inglês.
Quando fiz 50 anos apercebi-me que um século, ao contrário do que até então julgara, não era uma eternidade mas simplesmente o dobro do que até então tinha vivido. Agora que vou fazer 75 anos, quando escrevo sobre a minha juventude, em vez duma história parece-me que sai um texto de História Contemporânea.
A RTP (Rádio Televisão Portuguesa) transmitia em canal único das 12:30 às 24:00 a preto e branco, talvez passassem um filme francês por semana.
Quando se compravam discos de vinil, nessa altura a música popular era comercializada em discos de 45 rpm (rotações por minuto), os chamados EP (Extended Play), eles continham duas canções no lado A e mais duas canções no lado B, Existiam também os "singles" com apenas uma canção de cada lado. Além destes também existiam ainda os discos grandes de 78 rpm contendo árias famosas de ópera doutros tempos e os mais recentes LPs (Long Play) que continham cerca de 30 minutos de música de cada lado, nessa altura reservados para a música clássica.
No meio desta escassez de música presumo que cada canção de um disco seria ouvida mais vezes do que os milhares de canções disponíveis, por exemplo, no Spotify. Como a oportunidade de ouvir falar francês era muito reduzida, as canções da Françoise Hardy, além de agradáveis de ouvir, eram também uma espécie de exercício para entender o francês falado pois as canções com um fundo sonoro discreto pareciam por vezes quase uma poesia declamada, como por exemplo, na canção "Le Premier Bonheur du Jour"
ou esta ligeiramente mais movimentada "Le Temps de l'Amour".
Como última canção refiro ainda "L'Amitié"
A música francesa seria nessa altura a música estrangeira que mais se ouvia em Portugal, mas seria brevemente ultrapassada pela inglesa, com as guitarras eléctricas dos "Shadows", o Cliff Richard, os Beatles e os Rolling Stones, a que se seguiram os americanos.
Além de cantora e compositora, muitas das canções que interpretava tinham a letra da sua autoria, Françoise Hardy foi modelo, muito apreciada por Yves St Laurent e Paco Rabanne e entrou nalguns filmes.
Lembro-me também que os cabelos compridos lisos que ela usava na juventude eram por vezes referidos em Portugal como cabelos à Françoise Hardy, antes dela era mais frequente serem apanhados de várias formas ou então fortemente lacados. Passar a ferro os cabelos foi uma novidade da época.
À semelhança doutros CDs que comprei para substituir os discos de vinil que eu comprara e cuja audição já tivera melhores dias sob o ponto de vista da qualidade sonora, comprei esta colectânea de títulos antigos da Françoise Hardy
Entretanto começaram a aparecer LPs ou Álbuns com conjuntos de canções de música popular, concebidos como um conjunto de canções, talvez o primeiro tenha sido o "Rubber Soul" dos Beatles, seguido pela obra-prima "Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band" seguidos por LPs de muitos autores. Por essa altura eu deixara de ouvir regularmente música francesa.
Por motivos que agora me escapam vi um programa da TV francesa em que a Françoise Hardy era entrevistada a propósito do lançamento de mais um álbum. Tomei na altura conhecimento que continuara a publicar álbuns de vez em quando e que tivera doenças graves de que recuperara. Esse programa de TV poderia ter sido este "Quotidien"
gravado em 2018 a propósito do lançamento do seu oitavo e último álbum "Personne d'Autre".
Em Março/2021 anunciou que não poderia voltar a cantar devido aos tratamentos de cancro da laringe, depois sofreu algumas quedas com hospitalizações, defendeu a eutanásia e finalmente faleceu há poucos dias.
8 comentários:
Françoise Hardy foi um pouco mais, antes da namoradinha da América, ela era a namoradinha da França até à nefasta ligação com Johnny Haliday
Já agora o corrector corrigiu árias para áreas…
João, acho que a FH nunca andou com o JH, estás a confundir com a Sylvie Vartan...
Gostei da tua revisitação aos nossos tempos de "teenagers" e aproveitei para ouvir a bela voz, a dicção claríssima e os textos extremamente poéticos da FH. Tudo isto sem trejeitos nem movimentos desconjuntados... Além do mais, envelheceu com classe! Obrigada pelo post!
Obrigado Amarante dos Santos pelo texto e pelas canções da Françoise Hardy. Embora já não seja a revelação dos meus tempos de "teenager", que tinham passado há já alguns anos, ainda foi para mim uma referência, nos tempos em que a TV só ter um canal a preto e branco.
Era a Françoise Hardy, a Silvie Vartan e o Aznavour.
A. Vidigal
Bom, assim de cabeça ainda havia o Gilbert Bécaud (Et Maintenant), Les Chat Sauvages (Quand vient la fin de l'été), o George Moustaki (Le Métèque), o belga Jacques Brel, a Mireille Mathieu que imitava a Edith Piaf, o Daniel Gérard (Elle est trop loin), Nana Mouskouri, além duns baladeiros que eu não acompanhava e o pouco aconselhável mas famoso Johnny Haliday.
Muitas vezes eram cantores de que em Portugal se ouvia praticamente apenas uma música.
E esqueci-me do Salvatore Adamo, italo-belga que teve sucesso em muitas canções, talvez o último dos populares em francês a ser ouvido em Portugal, depois eram alguns portugueses e os anglo-saxões
Grato, pela evocações da FH, do GB, CAznavour, da Silvie Vartan, dos Shadows, do Cliff Richard, dos Chats Sauvages, que, creio, imitavam uns americanos de que a versão "Quand vient la fin de l'êté..." foi tirada : "Do we'gotta say good bye, for the Summer, darling, I promise you this, I'll write you every day..." Enfim, terminava a voga dos franceses, Serge Reggeani, Moustaki, Leo Ferrer, Brel e surgiam os anglo-americanos, Beatles à cabeça, Rolling Stones, Procul Harun, Paul Simon and Garfunkel e adeus franceses e língua francesa, mais refinada, com muita gramática para dominar, etc. Antes ainda, haviam triunfado os italianos : Domenico Modugno, Bobby Solo, Gigliola Cinquetti, Sergio Endrigo e outros geralmente tocados nos bailes das Colectividades Populares e nas verbenas dos bairros de Lisboa. Tudo isto caiu com as festas nas garagens e casas particulares, os namoros e engates em territórios mais distantes.
Que reste-t-il de nos amours, que reste-t-il de ces beaux jours, que reste-t-il de tout cela ?" Dites-le-moi !
Abraço, Zé Amarante. Salut les Copains.
António Blanco
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