Existindo associações que agregam todos os TSOs (operadores de transporte de energia eléctrica) da Europa como a ENTSO-E, existem outras de carácter regional como a IESOE (Interligação Eléctrica do SudOeste da Europa) que agrega os TSOs de Portugal, Espanha, França e COMELEC, esta última uma associação dos TSOs de Marrocos, Argélia e Tunísia interligados entre si e Marrocos ligado a Espanha por dois cabos submarinos em corrente alterna a 400kV cruzando o estreito de Gibraltar.
A IESOE costumava reunir duas vezes por ano, em Junho e em Novembro, sendo as reuniões realizadas em locais dos países membros em sequência rotativa. Quando se realizavam em França tinham frequentemente lugar em “Chateaux”. Os estrangeiros chegavam ao local na véspera, havia jantar em grupo, na manhã seguinte fazia-se a reunião de 4 ou 5 horas com eventual pequeno prolongamento a seguir ao almoço e ia-se apanhar o avião de regresso.
Em Novembro/2010 a reunião teve lugar no Chateau d’Ermenonville uma aldeia a 50km na direcção Nordeste do centro de Paris e a 25km do aeroporto Charles de Gaule
Na vista aérea ao lado constata-se que, como quase sempre, o Chateau está rodeado por água, neste caso um lago, sendo o acesso restrito a uma ponte.
Entretanto ao escrever este post interroguei-me porque será que “chateau” se traduz por “castelo” quando os castelos de Portugal são tão diferentes destes chateaux de França e perguntei-me então qual a diferença entre chateau e palais pois estes chateaux pareciam-se mais com palácios do que com castelos. No mínimo os castelos portugueses costumam ter sempre ameias componente que raramente se vê nos chateaux.
A Wikipédia ajuda a compreender as diferenças, quando se procura “Chateau” na versão francesa chega-se à entrada Château (com acento circunflexo sobre o a) e quando se muda de língua quer para o inglês quer para o português quer para o espanhol, em vez das traduções “literais” respectivamente castle, castelo, castillo, aparece a mesma palavra château. Já em alemão aparece a entrada Schloss (Architektur), referindo a existência de Burg e Herrenhaus, esta última significando provavelmente “Casa de Senhor(nobre)”.
Passo a citar o texto da entrada château em português que se resume a este parágrafo: “Um château (plural: châteaux; pronúncia em francês: [ʃɑto]; em português: "castelo") é a designação dada na França a uma casa senhorial (casa do senhor) ou uma casa de campo de um nobre, com ou sem fortificações. Por extensão, o termo é também usado noutras línguas às casas que imitam os châteaux franceses”.
Por outro lado a entrada “castelo” em português quando se selecciona a língua francesa leva-nos a “Château fort” em inglês a “Castle” e em espanhol a “Castillo” enquanto em alemão nos leva a “Burg”.
No liceu aprendi que o feudalismo em Portugal foi pouco acentuado pois a guerra contra os mouros aconselhava a unidade em torno do rei, por isso os nobres de Portugal não tiveram tantos direitos feudais como os franceses ou os alemães.
Mesmo assim volto a referir que estes Château franceses costumam estar rodeados por água, abundante nas planícies e vales mas que rareia no alto dos montes, como no castelo de S.Jorge em Lisboa, no castelo dos Mouros em Sintra, em Marvão ou no castelo de Silves. Em Portugal o único castelo de que me lembro rodeado por água é o de Almourol e mesmo assim sem estar em contacto com a mesma, deve ser a excepção que confirma a regra. Ser rodeado por água é certamente uma medida de protecção pois na ausência de perigo de invasão não parece razoável fazer uma construção com paredes que precisam de resistir às inevitáveis infiltrações. E o uso da água para protecção de palácios e fortalezas é também muito comum na Dinamarca.
A designação de palácio é mais usada para habitações luxuosas de pessoas com poder económico e eventualmente político, não tendo carácter fortificado.
Tentei arranjar uma perspectiva que revelasse a simetria da construção mas foi impossível mostrar a totalidade do chateau a partir do eixo de simetria pois a máquina (o telemóvel) não tinha zoom e não era razoável tentar caminhar sobre a água.
Esta vista do castelo fez-me logo pensar no château de Moulinsart, simpática residência do capitão Haddock, grande amigo do Tintin, cujo desenho passo a mostrar
O Chateau de Moulinsart pertencera a um antepassado do Capitão Haddock, apareceu pela primeira vez no álbum do Tintin “Le Secret de la Licorne” e foi comprado com parte do dinheiro ganho pelo professor Tournesol na venda ao governo do mini-submarino que inventara em “Le Trésor de Rackham Le Rouge”
Hergé baseou a forma do chateau de Moulinsart no chateau de Cheverny, uma povoação que fica 200km a Sul de Paris, ao pé de Blois, limitando-se a retirar as alas laterais, mantendo o resto da fachada intacto conforme se constata nesta animação que fiz (https://ezgif.com/maker) com a fotografia na entrada da Wikipédia para o chateau de Cheverny, "transformando-o" no de Moulinsart
Com o tempo este chateau foi influenciado pelos interiores que foram sendo criados por Hergé nos álbuns que ia lançando, transformando-se numa espécie de museu das histórias do Tintin. O chateau influenciou a obra de Hergé que por sua vez influenciou o chateau.
Ao dar um pequeno passeio à noite em Ermenonville encontrei esta estátua, coordenadas: 49.12548205, 2.694267344 interrogando-me de quem seria.
Tratava-se de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo e escritor nascido em Genève e que veio morrer aqui, convidado do Marquês de Girardin.
Teve uma vida agitada, consequência das teses polémicas que defendeu sobre a natureza humana, a educação e as regras da sociedade.
Adenda: Corrigi primeira versão deste texto em que por erro referi que a Irlanda era um sistema isolado quando tem interligações DC com o Reino Unido. A Moldávia está ligada à rede continental europeia desde 16/Mar/2022. A ligação eléctrica entre Marrocos e Argélia foi desligada há uns tempos, provavelmente em 2021 após o rompimento das relações diplomáticas entre a Argélia e Marrocos em 24Ago2021 que referi num post, os sistemas argelino e tunisino deixaram assim de estar síncronos com a Europa Continental embora permaneçam síncronos entre si.
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