Li no New York Times a história dum quadro a óleo comprado há 6 anos por 4 dólares numa loja de “velharias” e que foi vendido num leilão por 191 000 dólares!
Eu bem sei que o valor transaccional de um objecto não é intrínseco ao objecto mas exclusivamente determinado pelo encontro das vontades do vendedor e do comprador, vontades essas que dependem duma mistura de percepções e emoções subjectivas de parte a parte, mas este caso em que o mesmo objecto é transaccionado por 4 dolares e passados 6 anos por 191 000 dólares é um caso tão notável que mereceu referência na imprensa americana e internacional.
Fico a pensar como os valores de medições de grandezas físicas tais como comprimentos, velocidades, massas ou pesos, ou os valores de transações de compra e venda podem ter incertezas tão diferentes.
Em tempos referi que o entusiasmo de alguns economistas pelos mercados os levam a comparar o valor estimado por um especialista do peso duma vaca à venda num mercado com a média das estimativas de vários agentes desse mercado que nessa comparação são ungidos com a característica de “meros agentes de mercado não especialistas”. Dá-se o caso que uma balança devidamente aprovada por uma instituição credenciada fornece um valor para o peso da vaca melhor do que qualquer especialista ou conjunto de agentes do mercado, embora o valor a que a vaca é transaccionada dependa exclusivamente do encontro de vontades de comprador e vendedor que, normalmente consideram entre muitos outros factores o valor do peso da vaca indicado pela balança.
Este caso acaba por ser melhor explicado pela Bíblia, na parábola do filho pródigo. O quadro estava há anos em parte incerta como o filho pródigo que se ausentara da casa paterna. Quando finalmente o quadro foi encontrado o seu valor aumentou enormemente em relação a outros quadros do mesmo pintor que tinham estado em locais conhecidos.
Passando a mostrar um detalhe do quadro em questão
e a relatar o que encontrei no artigo da CBS News, fio da meada explicativa desta história.
Faço notar que se trata de uma de quatro ilustrações pintadas a óleo por Newell Convers Wyeth (1822-1945) para uma edição de 1939 dum romance famoso de Helen Hunt Jackson (1830-1885), intitulado Ramona, publicado pela primeira vez em 1884. Das quatro ilustrações da edição de 1939 apenas uma estava em sítio conhecido, depois desta descoberta falta ainda conhecer o paradeiro de outras duas.
A cena representa um momento de tensão entre Ramona, uma orfã de ascendência mista escocesa e nativa (“índia”), e a irmã da sua mãe adoptiva, a Señora Moreno, uma proprietária de terras mexicanas conquistadas ao México pelos EUA na sequência da guerra de invasão que os EUA levaram a cabo de 1846 a 1848.
Durante a migração sazonal dum grupo de trabalhadores nativos para a tosquia de ovelhas a Ramona apaixona-se por um elemento desse grupo e contra a oposição da senhora Moreno sai de casa para se casar com o nativo. Passa por muitas dificuldades, têm um filho, o nativo enlouquece e morre, ela regressa e passado algum tempo casa-se com o filho da senhora Moreno, entretanto falecida, têm mais dois filhos e ficam aparentemente felizes para sempre.
O romance teve tanto sucesso que alguns turistas que passaram a visitar sítios referidos no livro consideravam que as personagens livro tinham existido e habitado aqueles sítios.
Passo a mostrar a composição completa do quadro que me agrada
Entretanto o pintor N.C.Wyeth teve entre outros filhos o pintor Andrew Newell Wyeth (1917-2009) e avô de James Wyeth (1946- ).
O quadro mais famoso de Andrew Wyeth será talvez o “Christina’s World” um quadro usando Têmpera, de 1948 no MOMA em Nova Iorque, representando a sua vizinha Cristina Olson, com doença degenerativa nas pernas, numa rara saída da sua casa ao fundo no Maine.
Em tempos eu guardara uma obra da holandesa (neerlandesa) Ellen Kooi, uma fotógrafa e artista que se inspirara no quadro de Andrew Wyeth para produzir esta imagem
provavelmente com bastante bastante Photoshop no horizonte, para introduzir o que parecem fantasmas de linhas de transporte de energia em muito alta tensão, aerogeradores, torres de telecomunicações, etc, talvez mostrando que as alegadamente idílicas paisagens de casas isoladas no campo já não estão tão isoladas.
Agora achei curioso este reencontro inesperado.