De vez em quando manifesto a minha fundamentada antipatia pelas centrais nucleares de produção de energia eléctrica.
Resumindo, considero que, mesmo sendo bastante seguras, existe sempre a possibilidade de um acidente e nenhuma outra tecnologia proporciona acidentes, com implicações tão extensas no espaço geográfico e de duração temporal, como a tecnologia nuclear actual.
Exemplos de implicações no espaço geográfico foram as do acidente de Tchernobyl que afectou países distantes como a Suécia, a Suíça e a Itália entre outros e as de Fukushima com largada de água radioactiva para o Oceano Pacífico com detritos do acidente chegando à costa Oeste dos EUA.
Exemplos de implicações de duração temporal ocorreram em Tchernobyl e Fukushima na vizinhança das centrais, com o abandono de habitações e campos agrícolas durante dezenas de anos.
Naturalmente nenhuma companhia de seguros privada aceita cobrir os riscos de acidente numa central nuclear pelo que essa responsabilidade cai nos contribuintes e/ou nos habitantes na vizinhança da central.
Além dos acidentes resta a questão dos resíduos radioactivos com a duração de dezenas de milhar de anos. Penso sempre nisto quando ouço censuras a deixarmos dívida às gerações futuras. Ao menos no caso de Portugal deixamos um excesso de autoestradas e um excesso de dívida às gerações vindouras.
No caso dos resíduos radioactivos apenas se deixa lixo tóxico que, após mais de 70 anos de investigação, ainda não se conseguiu suprimir.
Numa publicação muito equilibrada do Jornal Expresso sobre este tema faz-se mais um ponto de situação e perspectivas futuras das centrais nucleares, de que destaco este parágrafo:
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Em março deste ano, a Joint Research Centre (JRC), a entidade científica da Comissão Europeia, publicou um relatório que conclui que a energia nuclear cumpre os critérios do novo sistema de sustentabilidade criado por Bruxelas, criado para regulamentar a economia no sentido de atingir as metas definidas até 2030 no Pacto Ecológico Europeu. A notícia parecia ser boa, mas não é: a entidade alemã Federal Office for the Safety of Nuclear Waste Management (BASE) analisou esse documento e em junho publicou o seu próprio relatório em que conclui o seguinte: a JRC “ignorou” várias características da energia nuclear que são “muito relevantes para o ambiente”, tais como os vários “acidentes graves que ocorreram durante as últimas décadas”. E sublinha: a energia nuclear “infringe” dois dos princípios ambientais que Bruxelas mais tem propagandeado nos últimos anos (“nenhum dano irreversível para futuras gerações” e “nenhum dano [ambiental] significativo”).
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Na sequência duma noticia sobre as centrais nucleares do Reino Unido que estão em renovação, fortemente subsidiadas pelo governo, que abre excepção para esta tecnologia relativamente às capacidades do mercado, o primeiro-ministro Boris Johnson considera formas de bloquear a participação de uma empresa estatal chinesa na construção de uma nova central nuclear no Reino Unido. Várias notícias sobre este episódio googlando (Boris Johnson on China state-owned energy company and UK nuclear power plant), confirmando a minha convicção que as centrais nucleares estão na sua maioria ligadas às necessidades dos exércitos dos países detentores de bombas atómicas.
3 comentários:
Muito obrigado pela atenção e pertinência do texto. JMiguel
Obrigado pela partilha. Muito interessante e polémica a comparação de resíduos nucleares com a dívida. São ambos encargos para a geração futura e que muita miséria poderão implicar. Penso que a energia nuclear não é competitiva e que está apenas a ser desenvolvida por questões de acesso a armamento nuclear e geopolítica. Caso contrário já teria sido abandonada.
Sabendo-se os perigos da radiação nuclear, sabendo-se que não há instalações 100% seguras (os desastres já acontecidos provam-no), sabendo-se que não há solução para os resíduos radioactivos - só o desprezo de alguns dirigentes financeiros e, também, políticos pelas gerações futuras, fruto de uma péssima formação moral, é que justifica que alguns governos admitam hoje a construção de centrais nucleares.
Gil Vicente Marcelino
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