Fala-se pouco na morte em situação normal, revisitei os números de que falei apenas para Portugal e mostro ficheiro excel onde obtive esta tabela:
Retirei os valores da "taxa anual bruta de mortalidade (por mil habitantes)" e População (em milhões) de 3 sítios da Wikipédia:
- Demografia de Portugal
- Demografía de España
- Demographics of Italy
Entre várias causas para a situação extrema na Itália e na Espanha, uma delas é que o conceito de país neste caso é inadequado dada a elevada concentração de casos, no caso da Itália na Lombardia, no caso da Espanha li que metade dos casos se situam na região de Madrid, que tem cerca de 6,5 milhões de habitantes.
No dia 22-Mar-2020 em Itália foram atribuídas 651 mortes ao coronavírus enquanto em Espanha o número foi 391.
Li agora que a Comissão Europeia aprovou uma ajuda do estado italiano no valor de 50 milhões de Euros para a produção e fornecimento de equipamento médico e máscaras durante a epidemia do Coronavírus. No equipamento médico incluem-se ventiladores, dispositivos cuja exportação foi restringida pelo governo alemão, que deu prioridade ao fornecimento destes equipamentos aos hospitais situados na Alemanha.
Constata-se que, à semelhança dos Estados Unidos da América do Norte, a Europa no geral está a reagir com lentidão a esta epidemia. Existiu uma confiança que o mercado único seria a forma mais eficaz de fornecer qualquer equipamento em qualquer país, mesmo em tempo de epidemias. Constata-se que essa esperança não se realizou neste caso. Parece-me um bocado estranho que um estado tenha que pedir licença para usar estímulos de 50 milhões de euros, o custo de qualquer condomínio de pequena dimensão numa capital europeia, para poupar vidas humanas.
Segundo um artigo que li no Expresso de 2020-03-14 do Luís Aguiar-Conraria os economistas constataram que o público em geral, através de algumas preferências que manifesta, indica que valoriza uma vida humana entre 2 e 10 milhões de euros. Certamente que esta ajuda estatal de 50 milhões de euros já devia ter sido aplicada há algum tempo, dada a incapacidade do mercado para funcionar de forma eficiente nestas situações.
2 comentários:
Comentário do António Blanco:
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Fui ver, concordo com as tuas observações, a que junto as que se seguem :
1) As taxas de mortalidade deveriam ser apresentadas por país e por região. Assim se perceberia melhor a gravidade da situação na região de Madrid e na da Lombardia. Por que não o farão ? Para evitar alarme e/ou receio de acrescentar discriminação regional dentro de cada país ?
2) A restrição financeira, na ajuda ao combate à pandemia, é um absurdo, sobrepondo critérios económicos à valorização de vidas humanas.
3) Torna-se evidente a falta de soberania dos Estados da UE para agir com rapidez e eficácia, logo que se trate de matéria financeira.
4) Confirma-se também, no caso dos ventiladores, a falta de solidariedade dentro da UE, ao contrário do que se passa no espaço nacional.
5) Analogamente se descobre ter sido um logro encerrar unidades de produção industrial no Ocidente, transferindo-as para o Oriente, para maximização de lucros, tornando-se agora evidente a incapacidade de os Estados ocidentais, incluindo os EUA, de responder com prontidão à escassez de determinados produtos de utilidade fundamental ou mesmo vital, em situações de crise.
6) A chamada globalização dos mercados é uma falácia parcial, se não total. Nem no plano comercial funciona em pleno, logo que entrem em jogo interesses de países importantes.
7) Dada a influência dominante do PPC ( Pensamento Politicamente Correcto ), no seio da nomenclatura dirigente da UE, duvido de que se tirem as devidas ilações da presente crise.
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Comentário de Gil Vicente Marcelino
Estou de acordo com a exposição e as observações do JJ Amarante sobre o aumento da taxa de mortalidade em situação de epidemia, em particular na que foi originada pelo COVID-19, assim como com os comentários do António Blanco.
Gostaria, contudo, de fazer um comentário relativamente à lentidão com que os EUA e a Europa estão a reagir. Não vou contradizer esta lentidão, que é evidente. Mas pergunto se o tempo de reacção das instituições públicas, dos governos e de todos nós (olhemos para a maneira como as pessoas, em geral, se têm comportado) não tem a ver com algum optimismo (irritante) e com o desconhecimento das consequências que um vírus aparecido na longínqua China podia vir a ter na população do resto de mundo.
Por outras palavras, interrogo-me se o optimismo e o desconhecimento, mais do que a incompetência, não foram os factores que originaram o atraso na tomada de medidas para a contenção da doença.
Além disto, devemos ter em conta que tomar decisões sobre problemas novos exige análise e ponderação, o que leva tempo e não é fácil. E, depois, é preciso haver meios para implementar as decisões.
Sem querer arranjar desculpas para quem governa, penso que é compreensível ter havido alguma lentidão na sua reacção.
Gil Vicente Marcelino
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