2018-05-29

Escher revisitado (2)



Depois de visitar em 1922 a Itália e Espanha incluindo o Alhambra, Escher viveu em Roma de 1923 a 1935 e são dessa altura as gravuras seguintes. A primeira que foi feita em 1930 é de Castrovalva, uma pequena povoação nos montes Abruzos no centro de Itália



onde todos os elementos, plantas casas, rochas, montes, campos cultivados, nuvens, assumem um certo dramatismo.

A segunda gravura (foto que tirei que ficou com um reflexo no lado direito) datada de 1931 é de Atrani, uma pequena povoação adjacente a Amalfi, na costa Amalfitana



Antes de frequentar o curso de Artes Decorativas Escher frequentou o curso de Arquitectura, este poderia ser um esboço dum estudante dessa arte. Esta obra foi posteriormente utilizada na gravura “Metamorfose” datada de 1940, como referi noutro post e que mostro a seguir



Acho interessante esta “reciclagem” de trabalhos já realizados, no software insiste-se muito na reutilização do que se fez.

A gravura seguinte datada de 1932 (foto também da exposição) é de uma quinta em Ravello, também na costa Amalfitana



Os socalcos têm um aspecto fora do comum, devem-se certamente à natureza abrupta das encostas dessa zona de Itália.

Finalmente mostro o interior da igreja de S.Pedro no Vaticano, gravura de 1935, em que as figuras humanas são pequenos traços lá ao longe, projectando sombras no chão.


Fiquei a pensar porque existem tão poucas figuras humanas nas obras de Escher. Fiz a conjectura que a sua paixão pela exactidão tornava inviável a presença de modelos humanos, que não suportariam tanto tempo de pose. Assim, as figuras humanas que aparecem são meros figurantes sem individualidade. A excepção é o próprio Escher, que era o que se encontrava sempre disponível.

2018-05-28

Escher revisitado (1)


A referência à exposição do Escher, actualmente em Lisboa até 16/Set/2018, levou-me a rever numerosas imagens que coleccionei de vários sítios da Internet como por exemplo estes:

- M.C.Escher Foundation Gallery
- WikiArt (Visual Art Encyclopedia) M.C.Escher

Alguns dos endereços internet de sítios com imagens do Escher desapareceram, os hyperlinks são cómodos e rápidos mas são muito voláteis. Tenho começado a guardar os conteúdos que refiro aqui no blogue para eventualmente tornar mais fácil descobrir a nova localização do sítio para o qual tinha uma ligação.

O Escher costumava datar a grande maioria das gravuras com o mês e o ano. Considerando  que nasceu no ano de 1898, esta gravura intitulada “Paraíso” e datada de 1921 foi portanto concluída no ano em que completou 23 anos.




Se bem que a técnica de realização da gravura pareça razoável a um leigo como eu, a composição é muito naïf, com uma simetria infantil e os animais em pose, a olhar para o pintor como se se tratasse de uma fotografia de família!

Nos sítios que visitei vi umas cenas bíblicas e uns poucos nus que me pareceu melhor omitir dada a sua fraca qualidade. O artista deve ter chegado à mesma conclusão pois abandonou a representação de pessoas e de mamíferos, tendo-se concentrado em paisagens, arquitectura, plantas, e no reino animal os peixes, insectos, répteis e aves. Dedicou-se ainda a estudar formas de preencher o plano com figuras não geométricas e a representar cenas irreais, com um detalhe local quase fotográfico. Talvez o artista se tenha interessado pelos desenhos irreais como forma de mostrar que uma cena, perfeitamente verosímil quando observada em grande detalhe, pode conter impossibilidades apenas detectáveis quando se olha para o conjunto.

Além de ter vivido na Holanda, na Suíça e na Itália o Escher visitou o Alhambra, tendo ficado fascinado com os mosaicos islâmicos que lá encontrou, que foram inspiração para o resto da vida. Mostro a seguir a cópia de  um mosaico do Alhambra, feito por Escher em 1922



 e a seguir uma foto dum mosaico semelhante que tirei em Jun/2011 e que mostrei aqui num dos posts em que referi o Alhambra:



Noto que enquanto no desenho do Escher as linhas de separação entre as peças esmaltadas de várias cores têm espessura, são brancas e passam alternadamente umas por cima das outras (isso será sempre possível?), no mosaico que fotografei são apenas linhas sem espessura. Não sei se existem as duas variantes na construção original, ou se se trata duma reconstrução em que se optou por suprimir a espessura das linhas referidas.

Para perceber as técnicas de construção destes mosaicos indicaram-me dois artigos:

- Jay Bonner paper "Three Traditions of Self-Similarity in Fourteenth and Fifteenth Century Islamic Geometric Ornament"
- Craig_Kaplan_and_David_Salesin "Islamic Star Patterns in Absolute Geometry"

As técnicas de construção dos mosaicos não eram divulgadas, constituindo uma espécie de “segredo industrial” e algumas têm vindo a ser reconstituídas, entre várias pessoas pelos autores acima citados. Mostro a seguir uma figura do artigo do Jay Bonner.


Na biografia resumida de Jay Bonner consta que se profissionalizou como “Architectural Ornamentalist”, depois dum mestrado em Design em Londres, estando a sua empresa de consultadoria localizada actualmente em Santa Fe no Novo Mexico, USA. Na sua biografia consta que realizou trabalhos na grande mesquita de Meca, o que me parece, no mínimo, notável. O início do site tem uma pequena amostra de trabalhos realizados.

Neste post de Dez/2013 sobre “A Rota do Azulejo” referi esta imagem



como disponível neste endereço (https://thoth.nl/Rubrieken/Kunst/Escher-schatten-uit-de-islam), duma exposição intitulada “Escher-meets-islamic-art”. Entretanto o link deixou de estar disponível, como é bastante frequente na Internet. Mas googlando (Escher-meets-islamic-art) aparecem imensas imagens e sítios interessantes.

Farei em breve mais posts sobre a obra do Escher.



2018-05-21

Exposição de Escher em Lisboa


Tem vindo a decorrer no Museu de Arte Popular em Lisboa uma exposição do artista holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972).

De vez em quando tenho referido obras deste artista em variados posts que podem ser acedidos através deste endereço. O meu primeiro contacto foi numa exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, em Janeiro de 1982, de que mostro o cartaz



Depois li o livro "Gödel, Escher, Bach: An Eternal Golden Braid" de Douglas R. Hofstadter onde a obra de Escher é frequentemente citada. O livro foi editado em português pela Gradiva.

Além da mestria de Escher na realização das suas gravuras, da atenção ao detalhe e da inesperada interacção das diversas formas que as povoam, as gravuras não padecem do fetichismo da obra única e original. Como as estampas japonesas de Hokusai e Hiroshige, também as obras de Escher valem pela sua forma e não por serem transaccionadas por incontáveis cifrões.

Talvez por isso a exposição se realize no Museu de Arte Popular. São obras acessíveis a toda a gente, requerendo contudo um olhar atento.

Fui protelando o anúncio desta exposição neste blogue e agora que se aproximava do fim constatei com agrado que o período inicial de 24Nov2017 até 27Mai2018 foi estendido por mais 4 meses até 16/Set/2018!

Deixo aqui outra imagem, intitulada "Dia e Noite"


e uma ligação para um filme extraordinário de Cristóbal Vila, de que falei aqui, também visível na exposição, inspirado entre outras por algumas obras do Escher:







2018-05-20

Apartamentos de aves


Achei graça a estes apartamentos para aves na Quinta Pedagógica dos Olivais. Já não está tempo para vivendas.




2018-05-11

A Credibilidade dos E.U.A.


Em Novembro/2016 interroguei-me no post “What Happened?” sobre o que teria acontecido nos EUA para terem eleito Trump para presidente. Na altura dei o benefício da dúvida aos eleitores americanos, que poderiam ter uma compreensão melhor do que eu das características do candidato para o terem eleito.

Ao fim deste tempo que passou constato que, embora a escolha democrática dos governantes seja o método que tem dado melhores provas, aquela não constitui uma protecção 100% segura não só de que será escolhido o melhor candidato para o país, o que seria de esperar, dado que existem muitas zonas polémicas em que coexistem opiniões diferentes sobre o que será melhor para o país, mas mesmo que não garante que o candidato escolhido evite decisões que prejudiquem consideravelmente o país e a grande maioria daqueles que o elegeram.

É o caso do presidente Donald Trump, que tem contribuído de forma significativa para que o resto do mundo diminua a confiança nos EUA.

A facilidade com que recentemente os EUA denunciaram de forma unilateral e não fundamentada os tratados que assinaram há pouco tempo, como no caso do Acordo de Paris para as alterações climáticas ou do Acordo sobre vários aspectos da energia nuclear com o Irão, assinado por este país, por todos os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e ainda pela Alemanha em 2015, levam-me a pensar sobre qual será o interesse em assinar acordos sobre o que quer que seja com os Estados Unidos da América, no mínimo enquanto Donald Trump for o seu presidente.

O Acordo nuclear com o Irão diminuiu a probabilidade dele construir a sua primeira bomba atómica, melhorou a economia do país, diminuindo a probabilidade de sectores extremistas iranianos tomarem o poder e segundo a opinião de todos os países signatários à excepção dos EUA o Irão tem cumprido o acordo. Sobre a ambição do Irão possuir a bomba já escrevi em tempos este post, onde considero absurdo que o interesse pela geração de energia em centrais nucleares não esteja relacionado com a ambição de possuir bombas atómicas. O que também me preocupa é que a Argélia e Marrocos (entre outros países, refiro estes por serem vizinhos) também estejam interessados em construir centrais nucleares, conforme informa este relatório “The World Nuclear Industry Status Report 2017”.

Não consigo deixar de pensar que quando uma potência obtém uma hegemonia quase indisputada ao nível global, como foi o caso dos EUA, começa a ter menor estímulo para escolher os seus líderes com cuidado, colocando à frente do governo indivíduos impreparados para a função, cuja actuação conduz a nação à perda da hegemonia indisputada. Aconteceu no império romano, aconteceu na China várias vezes ao longo da sua história milenar, ultimamente aos impérios britânico e da URSS. Deve ter chegado a vez dos EUA.

Deixo uma imagem da mesquita e mausoleu Imamaden em Shiraz, quase que diria “visitem antes que seja tarde”.



2018-05-01

Representação bizantina de Jesus Cristo


Tenho gasto algum tempo a ver uns filmes da BBC sobre arte, o último intitulado "Art of Eternity - The Glory of Byzantium".

Nele referiram a igreja de Hosios Loukas da qual mostraram vários ícones. Neste sítio encontrei depois fotos dalguns dos mosaicos mostrados no filme da BBC.

Gostei muito desta:


da qual mostro a seguir apenas o motivo central


Tenho dúvidas sobre as considerações que fazem no filme da BBC sobre o tamanho dos olhos, que parecem maiores do que na maior parte dos seres humanos, indicando assim a presença da divindade.

Provavelmente precisam de ser um pouco maiores do que na realidade para poderem ser mais expressivos, dadas as limitações do uso dos mosaicos. Digo isto porque acho os olhos das figuras representadas por mosaicos do tempo dos romanos sempre um pouco maiores do que nas proporções reais.

As letras IC XC são abreviaturas do nome de Jesus Cristo e sempre me intrigou o significado da posição dos dedos da mão de Jesus Cristo.

Na plataforma Aleteia esclarecem que esta posição da mão direita conforme as figuras


tem a explicação seguinte:

"Na iconografia ortodoxa grega, assim como na iconografia cristã inicial, a posição da mão que abençoa forma as letras IC XC, uma abreviatura das palavras gregas Jesus (IHCOYC) Cristo (XPITOC) que inclui a primeira e a última letra de cada palavra. A mão que abençoa reproduz na sua forma o nome de Jesus Cristo."

Tenho observado com grande frequência que a representação em ícone de Jesus Cristo costuma ser acompanhada das letras "IC XC", além da mão na posição referida.

Noutros sítios da Internet dizem que a posição para dar a benção é diferente desta mas não me sinto capaz de identificar quem tem razão.

Adenda: fui ao Google Tradutor e fiz a tradução de "Jesus Christ" (em inglês porque as traduções desta língua costumam ser mais fiáveis) para grego tendo obtido:


Ιησούς Χριστός

Depois accionei o altifalante para ouvir como se diz "Jesus Cristo" em grego. Gravei o som que está disponível neste controlo a seguir


Existe ainda a possibilidade de ir ouvir a pronúncia de Ιησούς Χριστός  a este site chamado Forvo, referido pelo Vítor Santos Lindegaard num comentário a este post, onde as palavras são pronunciadas por seres humanos, em vez de sintetizadas informaticamente como no Google.