Estas minhas divagações sobre esta obra do Jaime Cortesão não são um resumo da obra de 960 páginas mas mais uma colectânea dos assuntos que me despertaram mais a atenção.
No volume II apercebi-me finalmente (já não era sem tempo...) que os moçárabes eram os cristãos que permaneceram nos territórios conquistados pelos árabes, que invadiram a península ibérica no século VII e que por cá ficaram até ao século XV, ficando sob governação árabe, mantendo a sua religião mas adoptando muitos elementos da cultura do árabe, designadamente muitas palavras e muitas técnicas agrícolas.
Voltei a reparar que os rios vão assoreando e cidades como Silves e Coimbra, que há séculos foram portos marítimos com boas condições, hoje perderam o acesso comercial ao mar.
No volume IV fala-se dos Açores e do Mar dos Sargaços e mais uma vez refere-se a enorme dificuldade que a política de segredo do século XV coloca ao historiador actual, falando a seguir do desastre de Tânger onde ficou preso e morreu o infante D.Fernando.
Na página 403 deste volume fala-se das festas que alcançaram o auge em Lisboa nos últimos 12 dias que precederam a partida por mar em 25/Out/1451 com destino ao porto de Nápoles de D.Leonor, filha do falecido rei D.Duarte e irmã do rei D.Afonso V, para se casar com Frederico III, imperador do Sacro-Império Romano-Germânico e do choro colectivo que nessas festas suscitava a referência ao infante D.Fernando conforme relatado por um enviado e procurador do imperador.
Desde que fui surpreendido na biblioteca Piccolomini da catedral de Siena em Itália por este fresco
representando o encontro nessa cidade entre o imperador Frederico III e a princesa Leonor de Portugal, então noivos, e sobre o qual já falara neste post e ainda neste outro que sempre que vejo uma referência a este evento me interesso mais do que habitualmente para eventos desta natureza.
Desta vez fui à procura de mais imagens do casal, tendo encontrado referências as estas imagens
nas entradas da Wikipédia sobre o imperador Frederico III (1415-1493) e sobre a imperatriz Leonor de Portugal (1434-1467) que faleceu com apenas 33 anos mas deixando descendência.
Atribuem estes quadros ao pintor alemão Hans Burgkmair (1473-1531), o que me parece estranho dado que quando ele nasceu a imperatriz já tinha morrido, não encontrei ainda explicação para esta atribuição.
As imagens separadas parecem inspirar-se naquela em que estão juntos, pessoalmente prefiro aquelas em que estão separados. Não são cópias puras e simples, os escudos do Sacro-império e de Portugal estão em sítios diferentes e com dimensões diferentes nas representações quer da imperatriz quer do imperador.
Adenda: enviei um e-mail para o Kunsthistorisches Museum de Viena, onde se encontram estas obras de Hans Burgkmair no passado domingo (28/Mai) à noite e logo hoje de manhã (terça-feira dia 30/Mai/2017) tinha uma resposta do museu confirmando que se trata de um retrato póstumo, feito a partir dum retrato elaborado quando a imperatriz era viva. Desconhecia este conceito de "retrato póstumo" que me pareceu à primeira vista muito estranho. No entanto vejo utilidade no conceito, quer por o original se ter degradado muito, quer pela possibilidade de usar novas técnicas e/ou um pintor mais talentoso. No site do museu encontram-se reproduções destas imagens com maior definição.
Entretanto consultei a Wikipédia sobre os escudos usados nas diversas bandeiras de Portugal pois achei que o escudo de Portugal tinha castelos a mais. Aprendi que o número actual de 7 castelos é usado desde 1481
O número de castelos evoluiu de 13 para 10 e actualmente 7 mas não encontrei justificação para qualquer dos números escolhidos, fiquei a pensar que documentar as decisões tomadas não é o forte dos portugueses.
Resta-me a conjectura que passámos de querer mostrar que já tínhamos muitos castelos para uma representação mais minimalista. A cruz de Avis durou relativamente pouco e já tinha sido abandonada mesmo antes de 1481 pois não está representada nas imagens de Leonor.