2015-12-20

Governação tranquila


O governo da maioria de esquerda começou bem, começando a corrigir várias medidas do governo anterior que, não tendo impacto económico, revelavam preferências que não são as minhas.

Começo pela substituição dos leilões de automóveis de luxo de um fabricante alemão por Certificados de Aforro num valor que dizem ser equivalente. Não tenho ouvido contestação à eficácia da medida que premeia quem pede factura no aumento do conhecimento pelo fisco de muitos rendimentos de comerciantes. Os estímulos materiais dão bons resultados em muitos casos e este é certamente um deles. Mas discordo profundamente da atribuição de um prémio "em espécie" constituído por um carro de gama alta. O governo anterior acusava os portugueses de viverem acima das suas possibilidades. Não fazia assim sentido premiar alguns com um automóvel cujo custo de  manutenção estaria provavelmente acima das suas possibilidades. E desde a invenção do dinheiro que não é necessário receber como pagamento ou prémio um objecto que eventualmente não nos faz falta e que teremos que trocar por outro objecto de que necessitamos mais. Um governo liberal pagaria em dinheiro vivo. O de Passos Coelho oferecia um prémio que só seria bom para gente rica, mesmo assim cerceando a possibilidade de escolha do premiado. O de António Costa é mais liberal pois usa Certificados de Aforro que são neutros quanto às preferências de bens materiais dos premiados, e sugerindo ao mesmo tempo que será interessante poupar parte ou a totalidade do prémio.

Continuo louvando a reposição da isenção das taxas moderadoras para os dadores de sangue. Talvez porque não dei tanto sangue como o que achava que deveria ter dado sinta um reconhecimento maior aos dadores de sangue. Isentar essas pessoas altruístas de pagar as taxas moderadoras não era um estímulo material para dar sangue, quem fosse tão pobre que pensasse em dar sangue para evitar o pagamento das taxas moderadoras já estaria de certeza isento, tratava-se antes de um gesto de agradecimento. O restauro da isenção para dadores de sangue é uma medida praticamente sem impacto orçamental e que mostra a gratidão da sociedade a essa boa gente que dá sangue para salvar vidas.

Finalizo com a intenção manifestada de acabar com o Banco de Fomento. Em Portugal existia um Banco de Fomento durante muitos anos, lembro-me dum edifício imponente na avenida Casal Ribeiro em Lisboa. Esse Banco de Fomento era uma instituição do Estado Português para fomentar o desenvolvimento económico, vindo de tempos remotos (antes do 25 de Abril!) em que se considerava que o Estado devia ter maior intervenção na economia. Esse banco foi privatizado, vendido ao BPI por volta do ano 2000, era Sousa Franco do PS ministro das finanças. Considerou-se provavelmente nessa altura que a iniciativa privada tinha muito mais capacidade para avaliar projectos de investimento do que um banco estatal. Passados apenas 15 anos e com uma tendência tão forte para privatizar tudo o que é do Estado sempre me pareceu incompreensível a recriação de um Banco de Fomento nesta altura. Para quê? Para privatizar daqui a um par de anos? Assim, a intenção de acabar com o Banco de Fomento parece-me uma boa notícia, tanto mais que a sua criação tem sido muito lenta.

Até novas tempestades, designadamente as do Banif e do Novo Banco, estamos assim numa fase de governação tranquila, corrigindo erros de percurso, uns maiores de que não falei agora e outros menores mas irritantes como os que acabo de mencionar.

A condizer mostro mais um fim-de-tarde calmo à Beira-Tejo com uns selfies das nossas sombras



seguido dum detalhe da foto anterior em que as aves à distãncia são quase só sugestões,



finalizando com a terra, a água e o ar em grande harmonia, e uma bóia vermelha que faz pensar no fogo



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