2013-09-27

Cisne Negro



Neste Verão li o livro “O Cisne Negro” escrito por Nassim Nicholas Taleb.

Antes da descoberta da existência de cisnes negros na Austrália usava-se provavelmente a expressão “branco como um cisne”. Esta associação “inevitável” entre cisne e cor branca, confirmada por milhares de observações empíricas, veio assim a revelar-se falsa.

O autor usa o termo “cisne negro” para designar eventos que não foram previstos, que têm um grande impacto e que, apesar de não terem sido previstos, fazem aparecer numerosas explicações sobre a sua previsibilidade.

O autor de origem libanesa foi afectado pela guerra ciivil que eclodiu no Líbano e que se prolongou por dezassete anos quando no seu início as pessoas julgavam que ia durar dias ou umas poucas semanas.

Esta experiência, em conjunto com a que acumulou como corretor de Bolsa, ensinou-lhe que o futuro é verdadeiramente imprevisível, existindo uma multidão de “especialistas” a fazer previsões inadequadas.

Entre outras observações achei graça a um argumento que o autor usa a certa altura ao referir que muitos fenómenos da actividade humana não observam a curva de Gauss mas que, mesmo sendo esse facto conhecido, se continuam a usar alguns modelos económicos para esses fenómenos incorporando a distribuição de Gauss, à falta do conhecimento duma distribuição que reflicta melhor a realidade. Diz o autor com ironia que este comportamento é análogo a chegar-se a uma cidade nova e, dada a indisponibilidade de mapas dessa cidade no nosso hotel, optarmos por usar o mapa da cidade de onde tínhamos vindo. No entanto, a mera existência de uma grande quantidade de distribuições de probabilidade além da distribuição de Gauss mostra que a generalidade das pessoas sabe que a distribuição de Gauss não se pode aplicar a todos os fenómenos.

O livro distingue entre propriedades físicas, como o peso ou a altura das pessoas, que obedecem a distribuições normais, das propriedades financeiras em que uma enorme quantidade de dinheiro se encontra na posse de um número muito restrito de pessoas, fazendo com que algumas características de uma dada propriedade percam significado, como por exemplo o valor da riqueza per capita dessa população.

É feita também a distinção entre profissões “escaláveis” e “não escaláveis”, nas primeiras, como por exemplo no caso dos dentistas, embora o preço de cada acto praticado por profissionais de diferente estatuto possa variar, o salário mensal está dependente do número de intervenções feitas em cada mês e esse número não pode aumentar de forma arbitrária porque exige tempo e esforço do profissional. Já um escritor não precisa de despender mais esforço para vender mais uma cópia dum seu livro. Dada a tendência para as pessoas seguirem modas, a partir dum certo volume de vendas estas autoalimentam-se, criando grandes disparidades nos rendimentos de escritores com méritos não tão diferentes como isso. Este fenómeno pôde ser comprovado quando uma escritora com grande sucesso, como recentemente a J.K.Rowling, escreve uma obra sob pseudónimo, obtendo boas críticas mas um volume de vendas modesto até ser revelado de quem se trata, altura em que as vendas disparam.

Também na indústria cada vez mais a estrutura dos preços se compõe dum investimento inicial de grande dimensão a que se segue, caso haja sucesso, a venda de produtos a um preço muito maior do que o custo da produção de mais uma peça. Isto passa-se com computadores, com aviões, com software de uso generalizado, etc. Quem consegue ganhar, mesmo que por uma pequena margem tem então tendência para ficar com a esmagadora maioria do mercado (the winner takes it all). Mas essa dominãncia quase absoluta no espaço pode não perdurar no tempo, sendo destruída rapidamente por novidades tecnológicas que vão surgindo. Foi o que o PC e as workstations fizeram ao negócio de mainframes da IBM, o que os smartphones fizeram ao segmento alto de telemóveis da Nokia, etc.

São dados alguns conselhos para as pessoas se protegerem dos cisnes negros negativos, aqueles que causam enormes perdas, e para tirar partido dos positivos, aqueles que propiciam enormes ganhos.

As críticas à atribuição de prémios Nobel da economia e às avaliações de desempenho de alguns gestores de topo fundadas nalguns casos (sem citar o livro penso por exemplo em Kenneth Lay no caso da Enron, ou Jorge Jardim Gonçalves no caso do BCP), mas depois generalizadas pelo autor, suscitaram críticas muito violentas à sua obra.

Falando de cisnes lembrei-me dum voo agitado de um cisne no Parque da Cidade no Porto, em Fev-2012. Tentando manter a ave enquadrada acabei por com esse movimento deixar tudo o resto desfocado, ficando focado (relativamente) apenas o cisne. A foto foi tirada com um telemóvel donde a falta de qualidade. A ave é enorme e quando voa atrás de algum ganso ou pato, já para não falar em pessoas, mete respeito.



Quando o cisne ficou mais calmo tirei-lhe outra foto, com as asas enfunadas pelo vento e reflectindo a luz do sol.

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