2013-09-30

Jeremy Irons sobre reestruturação da dívida


Não estou de acordo com tudo o que o Jeremy Irons diz neste video mas considero doentia uma sociedade que quer aumentar os horários de trabalho quando existe tanta gente desempregada.

E não penso que tenha havido um plano da Alemanha para conquistar economicamente a Europa mas os empréstimos muito volumosos que fizeram aos nossos bancos e que serviram para muitos comprarem carros de luxo alemães e casas em Portugal, cujo preço não teria sido tão caro se não tivessem emprestado esse dinheiro aos nossos bancos, estão agora a ser pagos por contribuintes, pensionistas e funcionários públicos que pouco ou nada ganharam com esse dinheiro emprestado e cujos juros estão agora a ser forçados a pagar.


2013-09-27

Cisne Negro



Neste Verão li o livro “O Cisne Negro” escrito por Nassim Nicholas Taleb.

Antes da descoberta da existência de cisnes negros na Austrália usava-se provavelmente a expressão “branco como um cisne”. Esta associação “inevitável” entre cisne e cor branca, confirmada por milhares de observações empíricas, veio assim a revelar-se falsa.

O autor usa o termo “cisne negro” para designar eventos que não foram previstos, que têm um grande impacto e que, apesar de não terem sido previstos, fazem aparecer numerosas explicações sobre a sua previsibilidade.

O autor de origem libanesa foi afectado pela guerra ciivil que eclodiu no Líbano e que se prolongou por dezassete anos quando no seu início as pessoas julgavam que ia durar dias ou umas poucas semanas.

Esta experiência, em conjunto com a que acumulou como corretor de Bolsa, ensinou-lhe que o futuro é verdadeiramente imprevisível, existindo uma multidão de “especialistas” a fazer previsões inadequadas.

Entre outras observações achei graça a um argumento que o autor usa a certa altura ao referir que muitos fenómenos da actividade humana não observam a curva de Gauss mas que, mesmo sendo esse facto conhecido, se continuam a usar alguns modelos económicos para esses fenómenos incorporando a distribuição de Gauss, à falta do conhecimento duma distribuição que reflicta melhor a realidade. Diz o autor com ironia que este comportamento é análogo a chegar-se a uma cidade nova e, dada a indisponibilidade de mapas dessa cidade no nosso hotel, optarmos por usar o mapa da cidade de onde tínhamos vindo. No entanto, a mera existência de uma grande quantidade de distribuições de probabilidade além da distribuição de Gauss mostra que a generalidade das pessoas sabe que a distribuição de Gauss não se pode aplicar a todos os fenómenos.

O livro distingue entre propriedades físicas, como o peso ou a altura das pessoas, que obedecem a distribuições normais, das propriedades financeiras em que uma enorme quantidade de dinheiro se encontra na posse de um número muito restrito de pessoas, fazendo com que algumas características de uma dada propriedade percam significado, como por exemplo o valor da riqueza per capita dessa população.

É feita também a distinção entre profissões “escaláveis” e “não escaláveis”, nas primeiras, como por exemplo no caso dos dentistas, embora o preço de cada acto praticado por profissionais de diferente estatuto possa variar, o salário mensal está dependente do número de intervenções feitas em cada mês e esse número não pode aumentar de forma arbitrária porque exige tempo e esforço do profissional. Já um escritor não precisa de despender mais esforço para vender mais uma cópia dum seu livro. Dada a tendência para as pessoas seguirem modas, a partir dum certo volume de vendas estas autoalimentam-se, criando grandes disparidades nos rendimentos de escritores com méritos não tão diferentes como isso. Este fenómeno pôde ser comprovado quando uma escritora com grande sucesso, como recentemente a J.K.Rowling, escreve uma obra sob pseudónimo, obtendo boas críticas mas um volume de vendas modesto até ser revelado de quem se trata, altura em que as vendas disparam.

Também na indústria cada vez mais a estrutura dos preços se compõe dum investimento inicial de grande dimensão a que se segue, caso haja sucesso, a venda de produtos a um preço muito maior do que o custo da produção de mais uma peça. Isto passa-se com computadores, com aviões, com software de uso generalizado, etc. Quem consegue ganhar, mesmo que por uma pequena margem tem então tendência para ficar com a esmagadora maioria do mercado (the winner takes it all). Mas essa dominãncia quase absoluta no espaço pode não perdurar no tempo, sendo destruída rapidamente por novidades tecnológicas que vão surgindo. Foi o que o PC e as workstations fizeram ao negócio de mainframes da IBM, o que os smartphones fizeram ao segmento alto de telemóveis da Nokia, etc.

São dados alguns conselhos para as pessoas se protegerem dos cisnes negros negativos, aqueles que causam enormes perdas, e para tirar partido dos positivos, aqueles que propiciam enormes ganhos.

As críticas à atribuição de prémios Nobel da economia e às avaliações de desempenho de alguns gestores de topo fundadas nalguns casos (sem citar o livro penso por exemplo em Kenneth Lay no caso da Enron, ou Jorge Jardim Gonçalves no caso do BCP), mas depois generalizadas pelo autor, suscitaram críticas muito violentas à sua obra.

Falando de cisnes lembrei-me dum voo agitado de um cisne no Parque da Cidade no Porto, em Fev-2012. Tentando manter a ave enquadrada acabei por com esse movimento deixar tudo o resto desfocado, ficando focado (relativamente) apenas o cisne. A foto foi tirada com um telemóvel donde a falta de qualidade. A ave é enorme e quando voa atrás de algum ganso ou pato, já para não falar em pessoas, mete respeito.



Quando o cisne ficou mais calmo tirei-lhe outra foto, com as asas enfunadas pelo vento e reflectindo a luz do sol.

2013-09-23

23 de Setembro de 2013

Teria sido hoje, mais outra que o ex-ministro Vítor Gaspar não acertou:


'Alívio fiscal' para empresas e famílias


O PSD pediu alívio fiscal para empresas e famílias para o orçamento de 2014, à saída da reunião com a troika em 18 de Setembro de 2013, segundo o jornal Sol.


Ultimamente tenho ouvido muito esta associação de termos "empresas e famílias", normalmente num contexto em que se diz que as "empresas e famílias" têm já feito muitos sacrifícios e não se pode pedir-lhes mais sacrifícios.

Se não tenho muitas dúvidas em relação ao que são as empresas, já o mesmo não se passa em relação ao que se entende por "famílias".

O IRS é pago pelas pessoas singulares e não pelas famílias embora no seu cálculo se entre  em consideração (até quando?) com características do agregado familiar em que a pessoa singular por vezes se integra. E se um cidadão vive sózinho não se deve considerar "uma família".

Por outro lado o governo de Portugal pretende cortar as pensões legalmente atríbuídas a um conjunto importante de trabalhadores aposentados da função pública. O Presidente da República referiu-se a esse corte como um "imposto". E uma pessoa fica a pensar: então um casal de aposentados, com ou sem filhos não será uma família? O que leva o governo a pensar que a generalidade das famílias já não suporta mais sacrifícios mas que existe um subconjunto de famílias, os aposentados, que podem aguentar muito mais?

A expressão simples e correcta seria "as empresas e as pessoas" ou "as empresas e os cidadãos", as famílias não são para aqui chamadas.

Andei à procura no Google de imagens de "Família" e entre outras apareceu-me este ícone de que gostei. Se na altura existissem pensões de aposentação, o José e a Maria, quando as começassem a receber, teriam deixado nesse momento de serem considerados "uma família".



Tenho constatado que é frequentemente difícil identificar o autor de cada um dos ícones disponíveis na internet, neste também não consegui.



2013-09-17

Outsourcing

Às vezes o outsourcing é como varrer para debaixo do tapete. O comportamento era inaceitável para servir a Marinha mas já não haveria problema se prestasse o serviço através de uma subcontratada.

 A propósito do atirador de Washingtnon, notícia aqui:

...
O atirador, afastado da Marinha em 2011 por mau comportamento, levava consigo diversas armas, uma metralhadora AR-15, uma caçadeira (shotgun) e uma pistola, tendo deixado feridas oito pessoas, segundo a Reuters, e 14 segundo o "The Washington Post".

Alexis, que trabalhava agora para uma empresa privada que prestava serviços à Marinha...


2013-09-15

Fuga à política de Portugal, talvez Auroville?


Continuo descrente na capacidade do actual governo de Portugal conduzir o país por um caminho que nos leve a uma situação melhor do que a presente. Mas tenho ouvido e lido tantas críticas à acção governativa que me parece difícil dizer algo de original sobre o assunto.

Para ver se não me repetia coloquei a palavra “governo” na caixa de pesquisa deste blogue no canto superior esquerdo e constatei que não tinha grande coisa a acrescentar excepto que pessoas que fazem parte de um governo que usa os termos “requalificação” e “mobilidade” para designar um processo arbitrário de despedimento sem justa causa na função pública, não me merecem confiança.

Dado que não tenho tempo disponível para verificar exaustivamente os argumentos apresentados pelas pessoas que ouço, a confiança desempenha um papel fundamental na aceitação da argumentação. Por exemplo os Estados Unidos da América do Norte demorarão muitos anos para voltarem a recuperar a confiança que perderam com as mentiras sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque.

Existem governantes em Portugal que dizem que as pensões dos funcionários públicos, atribuídas segundo leis aprovadas pela Assembleia da República, são completamente insustentáveis e que têm que alterar unilateralmente os contratos existentes entre o Estado e os pensionistas porque não há dinheiro. A situação é para eles tão evidente e inescapável que não percebo como não se aperceberam dela antes das eleições de 2011. Então poderiam ter dito aos eleitores que a situação das pensões públicas era insustentável e que fazia parte do seu programa reduzi-las, alterando unilateralmente o compromisso que o Estado tinha tomado com os pensionistas, uma forma de incumprimento em relação a estes credores do Estado. Teriam assim agora um argumento para justificar a medida, pois então ela teria sido aprovada pela maioria dos eleitores, embora mesmo assim tivesse que passar pelo crivo do Tribunal Constitucional.

Mas dada a falta de credibilidade que me merecam os actuais governantes não acredito que as dificuldades de pagamento das pensões sejam tão graves como eles as descrevem.

Gostaria que o governo mudasse para poder voltar a atribuir à nova equipa o benefício da dúvida.

Enquanto isso não acontece pensei que me poderia dedicar à meditação.

Na viagem que fiz no ano passado entre Chennai (antiga Madras, ou Madrasta em Português) e Cochim passei por Pondichéry, pequeno território colonial francês, sensatamente descolonizado e entregue à União Indiana pelos franceses em 1956, ao contrário da política irrealista de Salazar que forçou a União Indiana a invadir militarmente Goa, Damão e Diu em 1961, deixando uma má vontade em relação a Portugal, potência colonizadora obstinada, que ainda hoje prejudica a relação entre os dois países.

A cerca de 10 km de Pondichéry fomos visitar Auroville, uma comunidade criada por Sri Aurobindo e pela sua colaboradora espiritual Mirra Richard. Depois de vermos um filme num pavilhão de acolhimento, em que faziam uma breve introdução aos propósitos da comunidade de Auroville andámos um pouco a pé até esta construção estranha chamada Matrimandir.



Dada a minha formação electrotécnica as formas lembraram-me os laboratórios de muito alta tensão, com discos prateados em vez de dourados. Disseram-nos que o acesso ao interior era muito restrito visto ser um local de meditação que seria certamente perturbada pelo vaivém de turistas visitantes. Li que tinham uma bola de vidro muito grande, talvez a maior existente na Terra, que recebia a luz do exterior.

Fui ao Google Earth donde tirei esta imagem do local,



dando uma ideia do arranjo geométrico cuidado do terreno em que a esfera metálica está colocada. A wikipédia tem alguma informação sobre o que tenho estado a falar, dispensei-me de colocar links para Aurobindo, Auroville, Matrimandir, Mirra Richard, etc.

Frequentemente estas comunidades utópicas revelam graves problemas de governação, todos os governos podem apresentar justificadamente a desculpa de que governar é uma arte difícil. Auroville tem um site aqui. Noutro site obtive umas impressões um bocado críticas.

Neste último site satisfiz a minha curiosidade sobre o interior do Matrimandir com esta imagem que apresento a seguir:


Noutro site tinha outra imagem do mesmo interior:



Acho que me falta paciência para a meditação.

2013-09-11

Energia, Ambiente e Finanças


No Forum Abel Varzim, que aparentemente foi vítima de um ataque informático, o Engº António Leite Garcia publicou um Manifesto intitulado "REFLEXÕES SOBRE ENERGIA, AMBIENTE E EQUILÍBRIOS FINANCEIROS".

O documento reflecte a sabedoria de quem o escreve e embora eu discorde de uma ou outra opinião acho o conjunto muito sensato e tenho pena que a política energética de Portugal se tenha afastado excessivamente do que o documento preconiza. Como não se limita a soundbytes o documento tem a extensão apreciável de 32 páginas densas.

Dada a indisponibilidade do texto completo no site do Forum acima referido coloquei o ficheiro .pdf no meu site, podendo-se fazer o download usando esta ligação.

Para ilustrar o tema escolhi esta foto que tirei no autocarro que me levou do aeroporto de Xangai até ao centro da cidade em Agosto de 2009.

Pessoas mais familiarizadas com linhas de Muito Alta Tensão notarão que cada fase é composta por 6 condutores! Nos nossos 400kV temos dois condutores por fase e em Inglaterra é comum ver 4 condutores por fase  mas ver 6 condutores por fase foi para mim uma estreia.

A China está-se a desenvolver a uma velocidade estonteante e ainda há pouco tempo os apagões eléctricos eram frequentes. Agora devem começar a rarear.

2013-09-01

“Rating” de pintores de alguns países do “Ocidente”



No último post deste blogue, em que mostrava uma obra dum pintor alemão, coloquei a frase “Os pintores alemães estão na sua maioria no clube dos pouco famosos”. O contexto falava da tendência que os seres humanos têm para seguir a opinião dominante o que dá origem a um apreço excessivo pelos autores mais famosos bem como uma valorização insuficiente dos que ficaram aquém do limiar em que a fama se auto-alimenta.

A Helena alegou que isto seria uma questão de perspectiva, que em Berlim não seriam da mesma opinião e, dado que a minha frase acima referida provinha de uma impressão pessoal e tendo eu vivido sempre em Portugal seja natural que esteja mais exposto às influências culturais estrangeiras dominantes por cá, fiz uma pequena investigação adicional.

Fui ao Google e coloquei entre aspas “french painter”, “german painter”, etc, tomando nota dos milhares de resultados que cada um dos termos de busca obtinha

Depois pensei que haveria aqui um “bias” favorável aos anglo-saxónicos pelo que fui ao Google tradutor que me disse que “italian painter” se dizia em alemão “italienischer maler”. A minha ignorãncia do alemão não me permite perceber a razão porque o número de resultados de “italienische maler” ou mesmo de “italienisch maler” pode diferir por uma ordem de grandeza mas procurei para cada uma das nacionalidades escolher destas 3 variantes de terminação (isch, ische e ischer) a que obtinha mais resultados.

Na tabela a seguir apresento os resultados que obtive.



A tabela está ordenada por ordem decrescente dos resultados em inglês. Fiquei um pouco surpreendido com o número elevado de resultados do “german painter” embora possa continuar a argumentar que italianos, franceses e sobretudo os flamengos têm menos gente que os alemães pelo que a sua classificação deveria ser “normalizada” em função da população. Nesse caso os flamengos passariam certamente para o primeiro lugar.

Não tenho pretensão de que esta tabela seja mais do que um “exercício de café” apropriado para um blogue.

Existe contudo outro sítio, com a lista dos quadros mais caros onde nos primeiros 50 me parece constar apenas uma obra de um alemão, a Madona de Darmstadt de Hans Holbein the Younger.
Esta lista parece-me uma melhor confirmação da minha impressão de que a fama não tem bafejado muitos pintores alemães.

Para finalizar mostro este Mar de Gelo de Caspar David Friedrich que fotografei num museu de Hamburgo mas em que o ficheiro da Wikipédia era mais uma vez melhor do que a minha foto.



Nesse museu apreciei muito a forma descontraída como esta turma de estudantes alemães se interessava pela arte da pintura. Será que os comentadores portugueses diriam que se tratava de um facilitismo intolerável?