2012-04-07

São Tomé e o Cristo vestido na cruz


Em Chennai existe a Basílica de São Tomé, mostrada na foto ao lado, uma das 3 basílicas alegadamente contendo relíquias de apóstolos de Jesus Cristo, as outras duas sendo a de S. Pedro em Roma e a de Santiago de Compostela. Este edifício da igreja católica foi construído no século XIX pelos ingleses, substituindo uma igreja construída no mesmo sítio pelos portugueses no século XVI.

Tenho uma vaga memória de ouvir referências à existência de cristãos na Índia quando os portugueses lá chegaram, falava-se até da demanda do caminho marítimo para a Índia também como uma forma de reencontrar os cristãos lá existentes. Do que li agora nalguns sítios da internet fiquei com a sensação que deverão ter ocorrido alguns problemas no reencontro por a comunidade cristã existente no sul da Índia seguir o rito sírio (talvez também designado por “Nestoriano”), conforme referido aqui.

Nesta igreja fui surpreendido pelo crucifixo no eixo central da basílica, representando um Cristo todo vestido, embora à direita da imagem esteja outro crucifixo com um Cristo despido na forma mais habitual no Ocidente.


Na imagem seguinte pode-se constatar que o Cristo referido está pregado na cruz, os pés não são atravessados por um prego único está vestido de forma bastante completa, ficando à vista apenas a cabeça, as mãos e os pés e tendo uma coroa “de rei” na cabeça em vez da coroa de espinhos. Como pormenor dando um sabor local temos ainda dois pavões, a ave nacional da Índia, enriquecendo a composição.


Fiquei a fazer conjecturas sobre a razão para esta variação em relação à representação quase standard do Ocidente e conjecturei mais tarde que talvez fosse para fazer uma distinção das representações das divindades hindus, que costumam ter o tronco nu, à semelhança aliás dos sacerdotes dos templos hindus. Na internet descobri uma referência ao uso de “colobium” aqui (The catholic encyclopedia). Nesse site está este texto:

«…
In the artistic treatment of
          the crucifix there are two periods: the first, which dates from
          the sixth to the twelfth and thirteenth centuries; and the
          second, dating from that time to our own day. We shall here
          treat only of the former, touching lightly on the latter. In the
          first period the Crucified is shown adhering to the cross, not
          hanging forward from it; He is alive and shows no sign of
          physical suffering; He is clad in a long, flowing, sleaveless
          tunic (colobium), which reaches the knees. The head is erect,
          and surrounded by a nimbus, and bears a royal crown. The figure
          is fastened to the wood with four nails (cf. Garrucci, "Storia
          dell' arte crist.", III, fig. 139 and p. 61; Marucchi, op. cit.,
          and "Il cimitero e la basilica di S. Valentino", Rome, 1890;
          Forrer and Mueller, op. cit., 20, Pl, III, fig. 6). In a word,
          it is not Christ suffering, but Christ triumphing and glorious
          on the Cross. Moreover, Christian art for a long time objected
          to stripping Christ of his garments, and the traditional
          colobium, or tunic, remained until the ninth century. In the
          East the robed Christ was preserved to a much later date. Again
          in miniatures from the ninth century the figure is robed, and
          stands erect on the cross and on the suppedaneum.
»

Na imagem acima a túnica tem mangas mas nesta representação, que fui buscar a este artigo da wikipédia sobre o crucifixo na arte, aparece Cristo na cruz vestido com um “colobium”, uma túnica sem mangas, enquanto os ladrões crucificados que o rodeiam estão apenas com uma tanga.


A imagem tem a legenda: “The earliest crucifixion in an illuminated manuscript, from the Syriac Rabbula Gospels, 586 CE”.

Para finalizar esta digressão por variações da representação de Jesus Cristo na cruz mostro esta imagem do mesmo artigo da wikipédia, mostrando um Cristo encostado a uma cruz, na posição de lótus como um Buda, de cristãos japoneses:


1 comentário:

George Sand disse...

Maravilha de imagens, vestidas de palavras,e debruadas a paixão.
Uma Santa Páscoa!