Os leitores mais atentos terão reparado que continuo a escrever com a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico. Compreendo a necessidade de mudar as regras ortográficas de vez em quando, sabe-se que já não escrevemos como no tempo de el-rei D. Duarte, de quem mostro aqui ao lado uma página do seu Livro de Horas, que fui buscar ao site da Direcção Geral de Arquivos.
Não me sentindo habilitado a emitir um parecer sobre a validade das alterações propostas constato, dadas as acesas polémicas existentes, que não existem aqui leis da Natureza que nos possam ajudar, tratando-se de uma pura construção humana. Não gosto desta dicotomia Natureza - Ser humano mas por vezes é cómoda de usar. Do debate havido constatei que os campos opostos se dividiam entre os mais fiéis à fonética e os que preferiam a etimologia. Como durante a minha vida não observei alterações na pronúncia das palavras objecto de alteração no acordo sou levado a concluir que o documento não resulta de uma adaptação da escrita a novas práticas fonéticas mas a um ajuste de contas dos “fonéticos” relativamente a algumas batalhas que perderam para os “que favoreciam a etimologia” nas normas anteriores.
Não valerá a pena referir que as ortografias do Brasil e de Portugal irão provavelmente divergir, basta ir ver o corrector ortográfico do Word para constatar que existem meia-dúzia de variantes para o alemão e imensas para o francês, o inglês e o espanhol. Mesmo no italiano há o de Itália e o da Suíça. Caso alguns dos países que usam a língua Portuguesa não venham a aprovar o acordo aparecerão certamente mais variantes além do Português de Portugal e do Brasil actualmente existentes.
Tenho notado uma tendência para escrever "contracto" em vez da ortografia antiga "contrato", por influência do inglês, sendo este um dos motivos que me desgosta nesta nova ortografia que nos distancia do francês, inglês ou espanhol, em que mantêm os cês e os pês atrás de consoantes embora não tenham ficado mudos como em Portugal. Vai ser mais difícil para os Portugueses aprender a escrever nessas línguas estrangeiras o que , além de diminuir a nossa competitividade, como agora se está constantemente a dizer, dificultará também a emigração, tornando ainda mais difícil a tarefa de governar o nosso Portugal.
E com a leitura de textos na nova ortografia começo a ficar confuso e noutro dia já pensava que inflação se escreveria inflacção embora agora, ao ver a palavra escrita, constate ainda com facilidade que o ”c” está a mais. Por outro lado, quando vejo “diretor” leio “director” pronunciando o c anteriormente mudo, como que corrigindo oralmente o desvio da grafia a que estava habituado.
De qualquer forma ninguém é obrigado a escrever segundo a nova ortografia, a não ser que seja funcionário público, e nesse caso apenas em documentos oficiais. Dizem-me que seria inconstitucional rejeitar um requerimento escrito com a ortografia antiga embora eu ache que esta tolerância terá limites, seria talvez complicado fazer passar um requerimento escrito como no tempo do D. Duarte.
Resumindo, vou continuar a escrever segundo a antiga ortografia enquanto não mudar de ideias sobre este assunto. Se se der o caso de ter que produzir algum texto de acordo com a nova ortografia limitar-me-ei a pedir ao corrector ortográfico (das novas regras) para aceitar as mudanças todas que ele me sugerir. Terei apenas que ver como poderei ter duas versões do corrector ortográfico e se tal não for possível prescindirei do antigo para ter esta possibilidade de conversão automática para a nova ortografia.
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1 comentário:
Quanto à adopção do acordo ortográfico, estou exactamente na posição do amigo: se for necessário, sim, se não for, não e não.
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