2010-04-23

Imperador

Mostrando o rouxinol no post anterior, deveria agora mostrar um imperador.

Como os actuais já não usam esse nome, optei por mostrar este deslumbrante Diwan-i-Am, local de audiências públicas, no forte vermelho de Agra, no estado de Utar Pradesh da Índia, onde o grande imperador mogol Akbar (segunda metade do século XVI) e os seus descendentes receberam os seus súbditos.

É uma arquitectura bem adaptada ao clima, protegendo do sol a pino mas deixando passar a brisa refrescante.



2010-04-21

Rouxinol

Há muito tempo havia uma colecção de mini-livros para crianças, chamada Formiguinha, de que ainda recordo algumas histórias.

Numa delas entrava um mandarim e um rouxinol e a memória que me ficou foi de o mandarim ter metido o rouxinol numa gaiola, para poder apreciar sempre que quisesse o seu canto maravilhoso. Porém o pássaro entrou em depressão, perdendo a vontade de cantar. Mas quando alguém se esqueceu de um telemóvel “made in China” na gaiola, o rouxinol deu umas bicadas no teclado, enviando uma mensagem SMS ao mandarim, dizendo-lhe que caso lhe devolvesse a liberdade viria cantar todos os dias na varanda onde ele costumava observar o pôr-do-sol. O mandarim decidiu arriscar e a história acabou bastante bem, com o mandarim a ouvir regularmente o cantar do rouxinol ao pôr-do-sol.

A memória às vezes atraiçoa-nos e não garanto que este pormenor do SMS fizesse parte do original, se calhar recorriam ao truque de dizer que os animais falavam, mas parece-me um truque tão bom como outro qualquer.

Agora fui ao Google e como com mandarin e nightingale não estava a ter muito sucesso mudei para emperor e lá me apareceu uma história do Hans Christian Andersen. Afinal havia na história um pássaro mecânico e alguma má vontade contra o autómato cujo principal problema julgo tratar-se da falta de memória de massa, o que o tornava bastante repetitivo. Quando a memória de massa aumenta muito, como num ipod, o problema da repetição dos trechos musicais quase desaparece.

Mas o que é facto é que a força da marca “Rouxinol” ficou para sempre associada na minha mente à de um pássaro que canta muito bem, embora nunca tivesse reconhecido o canto do rouxinol.

Devido ao grande interesse que o meu neto, que ainda não fez dois anos, manifesta por todo o pássaro que avista, fui no outro dia ao YouTube e lembrei-me logo de procurar o Rouxinol.

Finalmente pude apreciar o canto desta ave que vale a pena ouvir:






Afinal este rouxinol dentro duma gaiola dá uma performance mais completa, se calhar é o prenúncio da entrada em depressão:





No blogue Sabores Ocultos refere a colecção Formiguinha, da editorial infantil Majora, onde constatei que o número 35 era “O Rouxinol e o Imperador”.

2010-04-18

Alinhamentos indiscretos

Já não me lembro quando contactei com o conceito de intersecção de alinhamentos para definir um local, se foi no mar para referenciar um local debaixo de água, onde estaria algo submerso, se foi num livro, como forma de localizar um tesouro.

Numa paisagem citadina não existe grande utilidade para este conceito mas, com a disponibilidade do Google Earth, apareceu uma aplicação relativamente simples de localizar o ponto de tomada de uma foto, a partir dos alinhamentos que surgem numa fotografia.

Por exemplo na foto do post anterior marquei duas linhas


que correspondem às rectas que tracei no Google Earth e que mostro aqui


e com mais detalhe aqui:


Admito ter feito um pouco de batota, pois neste caso eu sabia de onde tinha tirado a fotografia e o cruzamento das duas rectas, formando desta vez um ângulo muito agudo, define mal a intersecção.

Mas é agora por vezes fácil identificar o local de onde se tirou uma fotografia, usando apenas esta e os mapas do Google Earth.

Adenda: espero que os leitores não sintam enjoo, com a linha do horizonte fazendo um ângulo tão grande com a horizontal. Tinha a máquina há pouco tempo e não conseguia prestar atenção a tudo. E não me apeteceu corrigir com pós-processamento porque as imagens perdem normalmente um pouco da nitidez.

2010-04-17

Praia da Rocha, Setembro de 1974

Passei noutro dia por uma imagem da Praia da Rocha, que presumo tirada do hotel Júpiter, que me fez "desenterrar" umas imagens antigas que tenho dessa praia.

Estava-me a estrear na fotografia com uma recém-adquirida Olympus OM-1, com uma objectiva de 50mm. Na altura julgava que iria comprar mais lentes mas o meu horror a pesos levou-me a manter apenas essa objectiva.

Tratam-se de slides que digitalizei há alguns anos e que ficaram assim muito mais acessíveis.

Esta primeira imagem tem em primeiro plano do lado esquerdo a vivenda modernista do pai do José Manuel Tengarrinha, cuja privacidade foi destruída pelos prédios que ergueram na sua vizinhança, os edifícios MiraMar e MiraRocha e o hotel Júpiter. Do lado direito estão uns tantos carros no parque do hotel Belavista, datando a fotografia. Os carros dão muitas vezes ideia de quando a fotografia foi tirada, é impressionante como os modelos estão sempre a mudar.




Esta imagem foi tirada do terraço da cobertura do edifício MiraRocha, nota-se que a praia tinha muito menos gente:




Ainda do mesmo terraço mas a vista para Monchique, então completamente desimpedida, com um espaço se construções apreciável entre a Praia da Rocha e Portimão, agora há aqui uma "muralha de prédios" que tapa quase tudo.

2010-04-15

Juízo Final

Por várias vezes fiz a conjectura que o poder judicial português estava a ser usado por alguns dos seus membros para atacar o poder político, numa aliança com os meios de informação. Há uma exploração da ideia que os políticos são maus e corruptos, estando a verdade a ser defendida pelos jornais. Felizmente que por vezes isso acontece, dando assim os jornais uma contribuição para uma melhor governação mas, assim como nem todos os políticos são maus, tão pouco todos os jornalistas são bons e, por vezes, os escândalos não passam de pretextos para vender mais jornais. A certa altura, os próprios políticos sentem que também eles têm que denunciar alguma coisa e é a fase em que estamos actualmente, com a criação sucessiva de comissões de inquérito parlamentar para apuramento da verdadeira verdade.

Temos assim que a polícia, os magistrados, os media e os parlamentares estão todos a vigiar o comportamento dos nossos políticos. Há que ter portanto esperança pois com tanta gente a vigiá-los será praticamente impossível colocarem pé em ramo verde.

Mesmo que tudo falhe resta ainda a esperança do Juízo Final, que apresento aqui na interpretação feita por Miguel Angelo, num fresco na parede do altar da Capela Sistina no Vaticano:




O uso do sistema judicial para outros fins não se limita a Portugal. Diz-me um colega que estas confusões de lutas entre políticos, magistrados, jornalistas e parlamentares têm tido desenvolvimentos muito semelhantes na Polónia.

Ultimamente, devido aos escândalos quer dos abusos sexuais de menores por padres da igreja católica, quer pelo encobrimento de demasiados desses casos pela hierarquia, surgiu um conjunto de ataques que me parecem desproporcionados e que conduziram com uma rapidez tão grande a ataques directos ao papa, que me fizeram pensar que alguns sistemas judiciais, em conjunto com os jornais, estavam a ser usados de uma forma muito semelhante à que presenciara há relativamente pouco tempo em relação a vários políticos de Portugal.

Nos primeiros casos que referi era a oposição a atacar o poder executivo, agora são os ateus mais militantes a atacar a hierarquia católica.

Mais uma vez é difícil saber do que estamos a falar. As estatísticas portuguesas sobre abuso sexual de menores que encontrei através do Google:
"http://www.dgpj.mj.pt/sections/estatisticas-da-justica/destaques/abuso-sexual-de-menores/downloadFile/file/Abuso_menores.pdf?nocache=1171376063.63" incluem o ano de 2002 e o de 2003 até Agosto. Esta ausência de números leva-nos directamente para discussões onde não existe o sentido da proporção.

Noutra altura ainda hei de regressar a este fresco sobre o Juízo Final. Por agora limito-me a recomendar posts sobre estes ataques no 2 Dedos de Conversa, no Hole Horror e no Mar Salgado .

2010-04-08

Pássaros no Nevoeiro

Não resisti a trazer esta imagem do "Expresso do Oriente", foto tirada por Roger Becker para a National Geographic.



Estas fotografias que parecem pinturas fazem-me pensar que a pintura oriental tem aspectos muito mais naturalistas do que parece à primeira vista.

A ave da esquerda parece-me um corvo-marinho, a da direita uma garça.

Um dos ramos parece um traço desajeitado do pincel.

2010-04-07

Bentley

Nos últimos dias tenho-me cruzado com este Bentley, estacionado ao lado dum passeio no meu trajecto de casa para o trabalho. Não é habitual ver estes carros estacionados na via pública, além de serem raros, normalmente beneficiam da possibilidade de se abrigarem nas garagens que os seus donos possuem. Poder-se-ia dizer que a crise vai tão má que já nem os donos de Bentleys têm garagem para os guardar...




O meu primeiro contacto com a palavra “Bentley” foi num conto dos cinco em que aparecia um Bentley preto. O nome ficou-me na memória provavelmente por nunca ter visto um automóvel dessa marca. Fiz agora google a (enid blyton bentley) e constatei que existia realmente um “mysterious Black Bentley” numa das histórias.

Disseram-me depois que tinha sido uma marca absorvida pela Rolls-Royce, sendo um carro mais desportivo, o Rolls normalmente era conduzido pelo chauffeur, enquanto o Bentley “podia” ser conduzido pelo dono.

Fui agora ver o site da Bentley e constatei que o modelo da imagem foi produzido na década de 1980-1989, tendo sido o reinício da diferenciação da marca, após anos em que eram praticamente iguais aos Rolls-Royce.

O carro terá entre 20 e 30 anos, está bem conservado e é um carro bonito, de uma beleza clássica, com a grelha frontal de grande discrição pois usa a cor da carroçaria em vez do cromado habitual.

Há muito tempo li na revista l’Automobile uns testes que fizeram a um Cadillac, a um Rolls-Royce e a um Mercedes 600, tendo apurado que as performances desses automóveis não justificavam o seu preço, com um topo de gama de então da BMW conseguia-se uma melhor performance e conforto por metade ou terço do preço desses automóveis de grande luxo. O artigo concluía que esses carros se vendiam pelo status que davam o seu dono.

Foi por isso com algum desagrado que ouvi o empresário António Champalimaud dizer há muito tempo numa entrevista na TV que tomara uma decisão economicamente fundamentada quanto optara por adquirir um Bentley, comprara um carro para durar. Embora sendo caros, o preço destes carros seria acessível a um conjunto muito grande de pessoas se fosse realmente um bom investimento, em vez duma despesa desnecessária. Ainda não consegui perceber a necessidade que o empresário sentiu de tentar justificar um consumo supérfluo. Se fosse um político dir-se-ia que tinha mentido.

Mas estes modelos de luxo servem também para afinar em pequenas séries as novidades de conforto, segurança e performance que se estendem passados poucos anos à generalidade dos automóveis.

2010-04-06

Peder Severin Krøyer

Há muitos anos banalizaram-se os posters, impressões económicas em papel de fotografias, que muitas vezes tinham como objecto quadros expostos em museus. O facto de se usar uma palavra estrangeira para exprimir este conceito mostra que ele é recente e não foi inventado em Portugal. Os posters permitiram decorações muito mais alegres e económicas do que as que tinham estado disponíveis até à época. Nos anos 70 do século XX lembro-me dos posters que permitiam cobrir uma parede ou uma porta com aquelas florestas dos países nórdicos existindo também uma companhia com sede em Copenhaga, chamada Minerva, que fazia (não a encontrei na internet logo não existe) reproduções de quadros.

A qualidade da impressão devia ser muito boa porque ainda tenho alguns posters dessa altura, se bem que algo debotados. Na altura (e ainda agora) gostei muito desta imagem, que tenho na minha casa, e que não tive até há pouco tempo curiosidade para conhecer o respectivo autor.




Mas com a internet estas pesquisas ficaram todas mais simples e procurando Kroyer apareceu-me logo uma referência ao pintor Peder Severin Krøyer (1851-1909), de nacionalidade dinamarquesa, que deve ter pintado este passeio na praia ao fim da tarde no Verão de 1893 em Skagen, no extremo norte da península da Jutlândia.

Gosto do minimalismo dinamarquês, da melancolia da paisagem, da tranquilidade das passeantes que conversam, dos reflexos dourados da luz do sol poente nos vestidos e na areia e embora aprecie muito a frequente nitidez do horizonte de Portugal, também não desgosto de ver de vez em quando esta mistura nórdica do mar e do ar.