2025-08-15

Vivenda de Compostela



Em Fev/2020 publiquei post com título “Ruína na Praia da Rocha” em que dava conta duma vivenda imponente existente nessa praia cuja demolição fora aparentemente embargada  depois de ter sido autorizada, numa sequência que fazia lembrar a demolição do cine-teatro “Monumental” na Praça do Saldanha em Lisboa.

Neste caso, o Eng.Armando Faria, anterior proprietário da cadeia de lojas “Perfumes & Companhia” pai de cinco filhos e avô de 18 netos, comprou a vivenda Compostela ao Sr.Manuel Gonçalves (dono da textil homónima)  começando a construção de uma moradia alegadamente unifamiliar para a sua família alargada.

Já antigamente se dizia “quem casa quer casa“, significando a desejável independência do poder paterno, actualmente mais difícil de realizar neste Portugal mal remunerado com uma enorme crise de habitação derivada em parte da incapacidade dos recém-casados de terem rendimento quer para pagar uma renda quer para contrair um empréstimo para aquisição duma casa própria.

A casa está a ficar com um ar majestoso como se constata na figura seguinte, uma foto tirada na praia, com a vivenda ao centro, o Hotel da Rocha do lado esquerdo da imagem e o fim do hotel Algarve do lado direito

 


O edifício tem rés-do-chão  e mais dois andares com algumas águas furtadas, presumindo eu que terá garagens numa cave. Contei 17 conjuntos de pares de janelas a que corresponderão 17 quartos com terraço com vista para o mar nesta fachada Sul. A fachada Norte não é uma simetria da do Sul (confirmação usando a vista 3D do GoogleMaps) mas terá mais alguns quartos, no total talvez uns 30.

Não tendo experiência pessoal nem de amigos próximos de como funciona uma família tão grande, limito-me a duvidar que este enorme edifício sirva de ponto de encontro dos cinco filhos e conjuges mais os 18 netos que hoje serão provavelmente em maior número.

Ouvi algures que o hoteleiro Pestana teria sido contactado para participar no projecto e que teria declinado pelo potencial de riscos jurídicos com a administração pública. O que me leva a pensar que depois da habitação unifamiliar estar concluída será mais fácil convertê-la numa instalação hoteleira ou mesmo num AL- Alojamento Local, os advogados são especialistas em interpretar leis de formas extremamente criativas.

Pode ser também que o empresário tenha sonhado em construir algo novo neste local deixando para o futuro a determinação da respectiva função. Há pelo menos um aspecto que é algo surpreendente, enfrentar dificuldades da Câmara Municipal para a realização dum investimento num edifício luxuoso numa praia que há muito deixou de ter a exclusividade de outros tempos.

Será pela falta de exclusividade da praia que o dono da obra se lembrou de ao menos ter uma escada de acesso exclusivo à praia, uma vez que não pode garantir exclusividade na praia?

Passo a mostrar esse acesso exclusivo com uma longa escada terminando num portão que garante essa exclusividade. Será que existe algum elevador?

 

E agora mostro a vista em 3D do Google Maps do edifício novo

 

e a seguir do antigo para comparação, que já mostrei no post sobre a ruína acima referida



Há uma tradição na Praia da Rocha de as construções novas bloquearem a vista de construções existentes. O caso mais gritante passou-se com o Hotel Algarve, construído sobre uma ruína existente na arriba a sul da avenida Tomás Cabreira, bloqueando a vista do mar de parte da avenida Tomás Cabreira e de umas 5 ou 6 vivendas unifamiliares,

Outras vivendas familiares existentes na av.Tomás Cabreira foram substituídas por prédios de andares onde o dono da vivenda ficava por vezes com os apartamentos dos dois últimos pisos. 

As 4 vivendas que foram substituídas por prédios de andares deram ao proprietário do último andar a oportunidade que nunca tivera de ver o mar na partir da sua vivenda, pois a a antiga vivenda Compostela estava implantada numa pequena elevação onde também tinham sido plantadas árvores para aumentar a privacidade.

Com esta construção várias vistas foram prejudicadas pelo novo edifício com uma volumetria muito maior.

Adenda: a informação de 5 filhos e 18 netos (acabo de mudar de 17 para 18) é citada do artigo no "Sul Informação" que eu referira no post “Ruína na Praia da Rocha, que revisitei agora constatando que esse periódico refere essa informação "5 filhos, 18 netos" como de "Uma fonte ligada à família, contactada no local".

Depois de publicar este post recebi o comentário de amigo que prezo informando que o Eng.Armando Faria, que conhece pessoalmente, tem apenas dois filhos (um casal) e não teria tantos netos. Esta segunda versão da "cardinalidade da descendência" torna ainda mais difícil de justificar a "unifamiliaridade" do edifício.

 

2 comentários:

João Brisson disse...

É interessante andar a estimar o número de quartos vs pessoas da família em causa mas tal não passa de uma distração do essencial deste caso: um promotor decidido a quebrar todas as regras e uma câmara impotente em aplicá-las (alheada? incompetente? conivente?)
A ter presente para as eleições autárquicas que se avizinham

Anónimo disse...

Interessante. É claro esse novo edifício, uma vez pronto, há de rapidamente ter outra função que não o de moradia unifamiliar… Ninguém faz um investimento tão grande, num local tão privilegiado, só para poder receber toda a família, por muito grande que seja.
Quanto às regras que são ultrapassadas em todo esse processo, ‘so what?’, estamos em Portugal e o ‘óleo’ faz maravilhas nas ‘engrenagens’ da administração local…
Nada que altere a tradição, portanto nada que nos espante.
Se a PJ ‘entrasse’ a sério nas CM’s, mesmo que só por amostragem, era um show ainda melhor que o ‘Grande Irmão’ da TVI !!! É mais um aspeto da nossa incompetência coletiva (e grande ‘competência’ de alguns que se ‘enchem’ à nossa custa…).