Gostei da originalidade deste cartoon da revista New Yorker (Sideline Interview with Sisyphus by Jay Martel) sobre o Mito de Sísifo
que talvez represente também a aspiração de muitos americanos a terem acesso a cuidados de saúde, pelo menos depois de acidentes de trabalho.
A representação num vaso grego e na maioria das representações desde então põem a tónica no momento do esforço
Trata-se de uma metáfora da condição humana, do absurdo da existência, pois qualquer realização pessoal está sujeita a desaparecer. Durante e depois da guerra de 1914-18 e acentuando-se com a guerra de 1939-45, o absurdo da existência ganhou imensa popularidade entre os intelectuais que, muitas vezes faltando-lhes o estímulo do esforço quotidiano para sobreviver, se dedicavam a escrever ensaios nihilistas. Os cientistas passaram por uma fase semelhante quando ficou bem estabelecido o Segundo Princípio da Termodinâmica mas entretanto, com tanto conhecimento novo que foi sendo descoberto têm-se mantido entretidos sem grandes depressões.
Albert Camus (1913-1960), um escritor francês nascido na Argélia, nobel da literatura em 1957, publicou em 1942 um ensaio intitulado precisamente “O Mito de Sísifo” (numa edição em português tinha 136 páginas) sobre como coexistir com este mito.
Na juventude li “A Queda” descrição duma auto-análise da personagem de que gostei imenso, não me lembro se consegui acabar de ler “O Estrangeiro” de que toda a gente dizia na época maravilhas, li “A Peste” até ao fim e em 2001, como uma espécie de homenagem à boa memória que o escritor me tinha deixado, li uma publicação da Contexto Editora intitulada “Actualidades”, uma colecção de ensaios publicada em 1950 pela Galimmard.
Era um homem de grande estatura moral que na cerimónia do Nobel disse, a propósito dos actos terroristas que nessa altura ocorriam na Argélia, alegadamente com o objectivo de obter a independência de França:
“En ce moment, on lance des bombes dans les tramways d'Alger. Ma mère peut se trouver dans un de ces tramways. Si c'est cela la justice, je préfère ma mère.”
Nos 60 anos da morte de Camus existem algumas comemorações e provavelmente reedições de obras deste escritor.
Desde que fui ao sul da Índia onde existe maior abundância de templos hindus pois os muçulmanos destruiram mais templos no Norte, familiarizei-me com alguns dos elementos arquitectónicos. O sítio principal de cada templo é o pequeno compartimento onde está uma representação ou um símbolo do deus a quem o templo é dedicado. Sobre esse compartimento constroem a “Vimana”, uma torre oca com a forma de pirâmide com vários andares em cujo topo está o que parece ser uma pedra enorme pesando várias toneladas.
Digo “parece ser” porque li na internet que não se tratava de uma única pedra mas de várias pedras, organizadas de forma a parecer uma única. De qualquer forma foi necessário no século XI elevar pedras bastante pesadas deste templo dedicado ao deus Shiva.
A relutância dos fazedores de coisas em documentar os processos de construção é lendária, antes eram as construções, agora são os programas dos computadores. Digo isto porque não existe a certeza sobre os métodos de construção destas vimanas se bem que o natural terá sido o uso de planos inclinados de terra e areia e o auxílio de elefantes domesticados na tarefa de tracção das pedras para o local onde estão há um milhar de anos no caso deste templo dedicado a Shiva.
Quando vejo pedregulhos colocados por seres humanos em sítios altos penso que, sendo um pouco absurdo o esforço, sempre estiveram entretidos com qualquer coisa positiva que, ao contrário do Sísifo, ficou para além da morte deles, coisa essa que foi muito preferível ao entretenimento da guerra.
O templo que acabo de mostrar chama-se Brihadishwara, está em Gangaikonda Cholapuran, ~30km de Kumbakonan, no estado do Tamil Nadu. tendo sido construído por membro da dinastia Chola. A foto é de Março/2012.
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