2020-01-30

Os avós, por D.José Tolentino de Mendonça


Gostei deste texto do D.José Tolentino de Mendonça que li neste sítio do jornal Expresso:

 “Os avós são mestres de uma arte esplêndida e rara: a arte de ser. Os avós sabem tornar um mero encontro quotidiano numa apetitosa celebração. Sabem olhar e olhar-nos sem pressas, vendo-nos esperançosamente mais adiante. Sabem dar valor às coisas de nada. Nunca consideram que quando se entretêm connosco estão a perder tempo, muito pelo contrário. Sabem que o amor dá-se bem com essa gratuita codivisão. Os avós são docemente silenciosos, mesmo se muito tagarelas. Os avós parecem distraídos, e isso é bom. Os avós caminham a nosso lado sem pressa. Têm tanto de distante como de próximo no arco do tempo. Têm uma sabedoria que se expressa por histórias calorosas e não por conceitos. Têm uma memória que nos parece inesgotável, cheia de aventuras, de bagatelas e de detalhes para divertir. Têm armários carregados de objetos (alguns incompreensíveis) que nos põem a sonhar. Apresentam-nos a gostos e a sabores que passamos a identificar com eles. Os avós já foram muitas vezes aos lugares onde nos levam pela primeira vez.

Chamam a atenção para coisas incalculáveis, como a forma de uma nuvem ou a cor diferente que ganham as folhas. Ensinam-nos com serenidade, colocando-se a nosso lado. Nunca acham despropositada a fantasia, nem os medos, nem o mimo. Têm o sentido das pequenas coisas e colos onde cabem as grandes. Eles não separam, como o resto das pessoas, aquilo que é útil do que é inútil. Fazem-nos sentir que é assim, que já passaram por isso e que existe uma solução que nos vão revelar, só a nós, como um grande segredo. Amparam os nossos desequilíbrios com o corrimão invisível e seguro do seu afeto, disponíveis degrau a degrau. Adivinham o que não dizemos sem se confundirem com a nossa confusão. Quando não estão connosco, pensam em nós, repetem aos amigos as frases que dissemos, disputam-nos, orgulham-se de coisas parvas, como o modo como sorrimos ou respiramos. Penso que se sentimos tão intensamente que os devemos salvar é porque percebemos, desde muito cedo, que somos salvos por eles”. 



2020-01-28

Wuhan


A minha professora chinesa, dum curso de Introdução à Língua Chinesa que segui há uns anos em Portugal, depois da sua estadia por cá foi viver na cidade de Wuhan, uma cidade chinesa onde em Fev/2018 viviam 10,6 milhões de pessoas.

Fez-me impressão existirem cidades com a população de Portugal de que nunca ouvira falar e dediquei um post a este tema há cerca de 2 anos e de que mostro um dos mapas:



Agora com a recente epidemia do novo coronavírus a cidade ficou muito mais conhecida a nível internacional. Troquei mail com a professora que felizmente está bem. Não deixo de me impressionar com a facilidade com que actualmente se contactam pessoas em terras distantes com as quais mantemos contactos muito esporádicos!

São impressionantes estas primeiras imagens da construção de um hospital novo de 1300 camas para os doentes do novo coronavírus, com conclusão prevista no prazo de uma semana



Estas multidões focadas num objectivo preciso lembram-me os filmes de Zhang Yimou em que referi num post:

«...Os dois filmes seguintes, “Herói” e “O Segredo dos Punhais Voadores”, tratam de lendas e mitos da China antiga. Mais uma vez a beleza é avassaladora (e meço bem este adjectivo que acabo de verificar nunca ter sido usado até agora neste blogue). Outras memórias que ficam são as multidões de figurantes. Uma das grandezas da China consiste na possibilidade de dispor de multidões de seres humanos que se podem concentrar numa tarefa específica, como tapar o Sol com uma saraivada de flechas.»


Para finalizar mostro uma secção de cuidados intensivos no Hospital Zhongnan da Universidade de Wuhan com a legenda que a acompanhava num jornal de Singapura.


In this Friday, Jan. 24,2020, photo released by China's Xinhua News Agency, a medical worker attends to a patient in the intensive care unit at Zhongnan Hospital of Wuhan University in Wuhan in central China's Hubei Province. China expanded its lockdown against the deadly new virus to an unprecedented 36 million people and rushed to build a prefabricated, 1,000-bed hospital for victims Friday as the outbreak cast a pall over Lunar New Year, the country's biggest, most festive holiday. (Xiong Qi/Xinhua via AP)




2020-01-22

Betty Faria em entrevista


Entrevista de Betty Faria sobre a sua vida, dada em Jul/2018, gostei muito de a rever, são 52 minutos


2020-01-21

Estorninhos nos Olivais Sul


Há uns dias ou mesmo semanas que se vêem grandes bandos de estorninhos no bairro dos Olivais em Lisboa. Dizem-me que se juntam em bandos enormes ao raiar do dia e ao fim da tarde, quando se juntam (ou separam) nas árvores que lhes têm servido de dormitório.

Anteontem, dia 19/Jan/2020, ao fim da tarde andei a ver se descobria estorninhos e acabei por descobrir esta árvore cheia deles, julgo que situada em terreno da Escola Básica Fernando Pessoa, aproximadamente no enfiamento da Rua Cidade de Gabela, vista tomada nas traseiras de um prédio na Rua Cidade de Carmona



No céu voavam muitas aves



mas não cheguei a ver bandos compactos como no video que mostrei em tempos neste post.

Mostro ainda uma segunda árvore, no lado esquerdo desta imagem, onde no lado direito está a árvore que mostrei acima. Será conveniente clicar na imagem para a poder ver na máxima resolução



Noutro sítio, num canto da Praça Cidade São Salvador (mais conhecida por Praça das maminhas) ainda vi outro dormitório:



Na Wikipédia fala sobre o Estorninho-comum (Sturnus vulgaris) e nas avesdeportugal.info, na secção das Aves de Lisboa mostra o Estorninho.


Adenda: hoje de manhã (22/Jan/2020) vi o que me pareceu ser um estorninho malhado, o que mostro não é bem uma foto mas mais uma sugestão dum estorninho, obtida com o meu telemovel



Achava estranho ver bandos tão grandes de estorninhos nas árvores e no céu e não ver nenhuns ao pé da superfície, parece que consegui ver um por uns instantes, do lado de fora da Quinta Pedagógica,  desapareceu logo.


2020-01-18

Madonna - Batuka


Não sendo fã das músicas da Madonna sempre apreciei os vídeos por ela produzidos na promoção das suas músicas/espectáculos.

Enquanto residiu em recentemente me Portugal a Madonna interessou-se muito pela música cabo-verdiana, integrando no seu espectáculo mais recente um conjunto de Batukadeiras.

Gostei imenso deste video:



2020-01-17

Visco


Quando fui a Viena há uns anos (em 2013) fui surpreendido por estas coisas nas árvores



que julguei serem ninhos de aves, embora me fizesse impressão o tamanho respectivo, não conseguindo imaginar quais seriam as aves com necessidade de ninhos destas dimensões.

Finalmente, ao ver umas formas parecidas numas fotos que a Helena  tirou durante um nascer do Sol em Berlim neste post de que mostro foto 9 (de 12)



nos comentários do post a Helena esclareceu-me que não eram ninhos mas uma planta parasita designada por Viscum Album que em português se chama “visco” e em francês “gui”.

Além de esclarecer que se tratava de uma planta e não de um ninho, fiquei também a conhecer o aspecto do “visco”, ingrediente essencial para a poção mágica que aumentava imenso a força de quem a bebia, preparada na aldeia do Astérix pelo druida Panoramix.

Nesta tira o druida informa que a composição da poção é secreta, passando apenas de boca de druida para orelha de druida, apenas podendo revelar dois ingredientes da poção, o visco que é essencial e um lavagante que, não sendo essencial, melhora o respectivo sabor.



Foram dois coelhos de uma só cajadada, como se costumava dizer.

A Economia de Francisco, por Luís Cabral


O Papa Francisco tem falado nos problemas da economia, na linha da doutrina social da igreja, chamando a atenção para a necessidade de alterar alguns dos comportamentos dominantes.

Decorreu no dia 14/Jan na AESE uma apresentação pelo economista Luís Cabral de que deixo aqui a introdução breve (2min:29s) a essa apresentação:



O power-point que acompanhou a sessão encontra-se disponível neste sítio da AESE.

Vai-se realizar em 26-28/Março/2020, em Assis na Itália, um encontro anunciado neste sítio do Vaticano que refere www.francescoeconomy.org

É curioso como na Gestão se fala constantemente na necessidade da mudança e numa disciplina das ciências sociais como é a Economia, as mesmas ideias têm sido defendidas de forma intransigente durante décadas.

2020-01-14

Pombos em árvore nos Olivais Sul


Tendo-se os pombos adaptado tão bem às cidades uma pessoa habitua-se à ideia que eles se alimentam nas praças com comida ou restos da mesma dos seres humanos e habitam em beirais, reentrâncias de prédios abrigadas da chuva e também estátuas e grupos escultóricos.

É por isso que fico algo surpreendido quando os vejo a debicar num prado em vez duma calçada como neste post ou empoleirados nos galhos de uma árvore como vi há uns dias nos Olivais


Talvez não os veja em árvores no Verão por estarem escondidos pela folhagem.


2020-01-08

O Mito de Sísifo revisitado


Gostei da originalidade deste cartoon da revista New Yorker (Sideline Interview with Sisyphus by Jay Martel) sobre o Mito de Sísifo
que talvez represente também a aspiração de muitos americanos a terem acesso a cuidados de saúde, pelo menos depois de acidentes de trabalho.
A representação num vaso grego e na maioria das representações desde então põem a tónica no momento do esforço


Trata-se de uma metáfora da condição humana, do absurdo da existência, pois qualquer realização pessoal está sujeita a desaparecer. Durante e depois da guerra de 1914-18 e acentuando-se com a guerra de 1939-45, o absurdo da existência ganhou imensa popularidade entre os intelectuais que, muitas vezes faltando-lhes o estímulo do esforço quotidiano para sobreviver, se dedicavam a escrever ensaios nihilistas. Os cientistas passaram por uma fase semelhante quando ficou bem estabelecido o Segundo Princípio da Termodinâmica mas entretanto, com tanto conhecimento novo que foi sendo descoberto têm-se mantido entretidos sem grandes depressões.

Albert Camus (1913-1960), um escritor francês nascido na Argélia, nobel da literatura em 1957, publicou em 1942 um ensaio intitulado precisamente “O Mito de Sísifo” (numa edição em português tinha 136 páginas) sobre como coexistir com este mito.

Na juventude li “A Queda”  descrição duma auto-análise da personagem de que gostei imenso, não me lembro se consegui acabar de ler “O Estrangeiro” de que toda a gente dizia na época maravilhas, li “A Peste” até ao  fim e em 2001, como uma espécie de homenagem à boa memória que o escritor me tinha deixado, li uma publicação da Contexto Editora intitulada “Actualidades”, uma colecção de ensaios publicada em 1950 pela Galimmard.

Era um homem de grande estatura moral que na cerimónia do Nobel disse, a propósito dos actos terroristas que nessa altura ocorriam na Argélia, alegadamente com o objectivo de obter a independência de França:
“En ce moment, on lance des bombes dans les tramways d'Alger. Ma mère peut se trouver dans un de ces tramways. Si c'est cela la justice, je préfère ma mère.”

Nos 60 anos da morte de Camus existem algumas comemorações e provavelmente reedições de obras deste escritor.

Desde que fui ao sul da Índia onde existe maior abundância de templos hindus pois os muçulmanos destruiram mais templos no Norte, familiarizei-me com alguns dos elementos arquitectónicos. O sítio principal de cada templo é o pequeno compartimento onde está uma representação ou um símbolo do deus a quem o templo é dedicado. Sobre esse compartimento constroem a “Vimana”, uma torre oca com a forma de pirâmide com vários andares em cujo topo está o que parece ser uma pedra enorme pesando várias toneladas.

Digo “parece ser” porque li na internet que não se tratava de uma única pedra mas de várias pedras, organizadas de forma a parecer uma única. De qualquer forma foi necessário no século XI elevar pedras bastante pesadas deste templo dedicado ao deus Shiva.



A relutância dos fazedores de coisas em documentar os processos de construção é lendária, antes eram as construções, agora são os programas dos computadores. Digo isto porque não existe a certeza sobre os métodos de construção destas vimanas se bem que o natural terá sido o uso de planos inclinados de terra e areia e o auxílio de elefantes domesticados na tarefa de tracção das pedras para o local onde estão há um milhar de anos no caso deste templo dedicado a Shiva.

Quando vejo pedregulhos colocados por seres humanos em sítios altos penso que, sendo um pouco absurdo o esforço, sempre estiveram entretidos com qualquer coisa positiva que, ao contrário do Sísifo, ficou para além da morte deles, coisa essa que foi muito preferível ao entretenimento da guerra.

O templo que acabo de mostrar chama-se Brihadishwara, está em Gangaikonda Cholapuran, ~30km de Kumbakonan, no estado do Tamil Nadu. tendo sido construído por membro da dinastia Chola. A foto é de Março/2012.


2020-01-06

Madeleine Albright, Fascismo – Um alerta



Gostei muito de ler, é refrescante ver a face racional, sensata, empática, solidária  dos Estados Unidos da América.

Enumerando os capítulos:

- O que é o Fascismo
- Mussolini
- Hitler
- Aliança nazi-fascista e sua influência na Europa
- Queda do nazi-fascismo na Europa
- O Pós-guerra (1939-45)
- Regresso ao genocídio nos Balcãs
- Notícias falsas
- Derivas autoritárias
    na Venezuela,
    na Turquia e
    na Rússia.
- Fraquezas da Europa
    na Hungria,
    na Polónia e
    na Alemanha
- Fascismo na Coreia do Norte
- Perigos do presidente Trump
- Os pesadelos e as ameaças à democracia
- As perguntas certas para o futuro.




Adenda: achei graça a estas duas frases na página 223 deste livro a propósito dumas eleições recentes na República Checa, seu país natal:

«Muitos eleitores parecem acreditar que, uma vez que os ricos não têm necessidade de roubar, não o fazem. Veremos.»


EDP - O caso da bombagem no rio Sabor e no rio Tua (2)


O post anterior sobre a eventual venda das centrais hídricas nos rios Tua e Sabor têm suscitado bastante mais visitas do que o habitual neste blogue.

Tenho recebido alguns mails sobre o tema em que me dizem que caso a venda se concretize será fácil a EDP e a compradora se entenderem através de contratos bilaterais sobre o uso da água nas albufeiras comuns.

Esses contratos entre companhias que deveriam ser concorrentes poderão constituir uma viciação da concorrência, um cambão ou um cartel. O mercado ibérico de electricidade não decide o uso da água da Valeira (ou da Régua) mas propostas de venda e de compra de energia eléctrica para cada hora e para cada central e/ou grupos de centrais hidricas.

No caso de vir a existir separação dos agentes que fazem propostas ao mercado pressupondo uso da água da albufeira da Valeira seria perfeitamente possível que o mercado escolhesse para funcionar numa mesma hora quer a central da Valeira quer a bombagem da Valeira para o Sabor.

Por exemplo a EDP, como concessionária da central da Valeira e da albufeira da barragem com o mesmo nome, tem actualmente a obrigação de não descer a cota da Valeira a uma velocidade superior a 15cm/h para evitar aluimentos nos taludes do caminho de ferro da linha do Douro. Na ausência de afluências a uma dada albufeira no rio Douro a central respectiva tem a sua potência limitada para cumprir esta restrição. Quem teria essa responsabilidade no futuro? Tratando-se de uma concessão o Estado terá certamente uma palavra a dizer sobre este tipo de problemas que não existem actualmente.