Acabei de ler outro livro de Bill Bryson, “A Walk in the Woods” e também gostei, sobretudo por confirmar de forma tão eloquente as minhas convicções sobre a incomodidade das grandes caminhadas, ainda para mais com uma mochila às costas com tenda, saco-cama, agasalhos, comida e água pesando cerca de 20kg!
Nesta pequena onda de frio que passou por Lisboa senti-me ainda mais confortável ao ler as descrições muito vivas da penosidade do início da caminhada, da chuva, do frio, da neve, da má comida e de toda a panóplia de experiências desagradáveis pelas quais passa este tipo de caminhantes.
Ainda por cima uma boa parte do caminho tem a vista obstruída por uma imensidade de árvores que faz com que a sensação de liberdade de estar num grande espaço com horizontes longínquos seja substituída por uma espécie de prisão num espaço fechado sem horizontes.
A cordilheira dos Apalaches corre aproximadamente paralela à costa leste dos EUA e em conjunto com as Montanhas Rochosas que seguem a costa Oeste, tornam mais difícil a influência moderadora do ar marítimo no clima do Midwest.
Por curiosidade fui ver no Google Maps o traçado do Appalachian Trail, que se estende por 14 estados, da Geórgia ao Maine e obtive este mapa onde referem 2180 milhas (3500km) de extensão do trilho.
Contudo, solicitando ao Google Maps para calcular a distância a pé desde o início do trilho dos Apalaches até ao monte Katahdin obtemos apenas 800 milhas (1280km), o que dá uma ideia do grau de divagação do trilho dos Apalaches entre o início e o fim do percurso.
Para fazer uma comparação com o território europeu para a distância de 3500km, segundo o mesmo Google Maps, seria preciso ir por bom caminho de Lisboa a Riga
embora se nos restringíssemos ao bom caminho com apenas 1280km acima referido, entre o início do trilho dos Apalaches na Geórgia e o monte Katahdin, nos bastasse ir de Lisboa até Carcassonne , no Sul de França
Fazendo as contas constata-se que o Google Maps considera que uma pessoa anda em média à velocidade de 4,8km/h, quer na América quer na Europa.
O Bill Bryson fez esta caminhada com outra pessoa, o que me parece da mais elementar prudência, para evitar que pequenos contratempos se transformem em grandes dramas. Depois de umas tantas semanas concluíram que já tinham andado bastante e que não valia a pena tentar fazer o trilho todo de uma só vez, passando então a fazer secções seleccionadas do trilho de vez em quando. Esta táctica tem a enorme vantagem de dispensar acarretar com a casa às costas durante a caminhada, tornando a actividade em si agradável e saudável como é possível e desejável que seja.
Tenho uns amigos que costumam fazer uns Caminhos de Santiago a pé, de manhã levam dois ou mais automóveis para o destino desse dia, deixam os carros lá e regressam num deles para o local do início da caminhada desse dia e ao fim do dia, quando chegam ao destino, voltam dois de carro ao ponto de partida para buscar o carro que ficou para trás. Desta forma evitam andar a caminhar com mochilas pesadas.
Ficou-me na memória a descrição que fez de Centralia, uma povoação da Pensilvânia que teve que ser evacuada por estar sobre uma mina de carvão de antracite que ardeu durante décadas sem ninguém conseguir extinguir o incêndio. Recordo-me também da referência às condições difíceis para a agricultura na Nova Inglaterra e como os agricultores emigraram para o Midwest reduzindo a população nesses estados de onde partiram.
E de uma forma geral gostei muito da forma como o autor aborda os diversos assuntos que vêm a propósito durante as peripécias da viagem.
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