Num noticiário de TV no passado dia 1 de Setembro notei numas imagens da cerimónia de abertura do ano judicial que a temperatura da sala (no sentido de propriedade física da palavra) estaria muito elevada e que o operador da câmara, provavelmente a sofrer também com o calor, se entretinha a registar de forma talvez excessiva os incómodos dos participantes.
Antigamente estas cenas de desconforto térmico eram frequentes nas igrejas durante o Verão, em que as senhoras usavam leques, não sei se o ar condicionado do Salão Nobre do Supremo Tribunal de Justiça estava avariado ou se não existe.
No Japão há alguns anos dispensaram as pessoas de algumas formalidades do vestuário durante a época de Verão, para poder reduzir um pouco a intensidade do ar condicionado, poupando energia e mantendo o conforto. A própria Assunção Cristas tentou uma medida parecida quando foi ministra, não sei se com sucesso. Como habitualmente choveram muitas críticas, a uma medida que me pareceu sensata.
Tinha a ideia que a palavra leque vinha da língua japonesa e que teriam sido os Portugueses a trazer essa novidade para a Europa. Afinal, segundo este artigo da Wikipédia os abanos já tinham sido usados por muitos povos e o papel dos Portugueses foi apenas reavivar uma prática que tinha caído em desuso na Europa.
Em inglês usam a palavra “fan” (como para ventoinha), em francês “éventail”, em espanhol “abanico” e por aí fora sem parecenças com a palavra “leque”. A palavra em japonês é “扇子” e a sua pronúncia não parece nada “leque”. No artigo da wikipédia diz que leque é uma forma abreviada de “abano das léquias”, sendo as léquias umas ilhas entre o Japão e a Formosa chamadas assim a certa altura pelos portugueses (por razões que não consegui apurar) sendo actualmente mais comum o nome de ilhas Ryukyu. O Japão anunciou em 1879 a anexação formal destas ilhas, tendo essa acção sido contestada então pela China. Já nessa altura o presidente dos EUA foi solicitado para servir de árbitro, tendo dado razão ao Japão.
Há muitos tipos de leques, achei curioso este leque que julgo que me ofereceram num restaurante chinês em Lisboa, feito com madeira com muitos orifícios e posteriormente pintada com vários grous.
Demorei algum tempo a descobrir o que evitava que as peças de madeira se separassem. É um fio de nylon transparente, com nós nas duas últimas peças do leque, é para isso que servem os dois buraquinhos em cada uma delas. O fio passa depois pelo interior de cada uma das peças de madeira, convenientemente atado com nó em cada uma das peças interiores sendo o nó dado numa posição assimétrica em cada peça de madeira para favorecer a abertura num dos sentidos e limitá-la no outro. Talvez esta técnica seja antiga e usassem um fio fino de cor discreta. Com fio de nylon só a partir da 2ª metade do século XX.
Há muitos anos, numa visita de técnicos japoneses à EDP, ofereceram-me um leque numa caixa levíssima de madeira que suponho ser de balsa. Não o tenho usado mas nestes dias de calor também me lembrei dele. Apresento primeiro a caixa em que veio acondicionado
depois aberto sobre um fundo escuro, tinha uma etiqueta que informava que este leque tinha seda
e finalmente contra o azul do céu
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