Adenda em 2015-08-04: mantenho o texto que se segue com a excepção dos comentários que fiz aos telhados dos alpendres da marina de Portimão que afinal não passam de uns painéis de um material que parece mas não é composto de células fotovoltaicas.
jj.amarante
Em 15 de Março deste ano reparei numa textura estranha nos edifícios da Marina de Portimão na Praia da Rocha:
olhando com mais atenção constatei que o tecto dos caminhos de acesso aos apartamentos da marina tinham sido integralmente cobertos com células fotovoltaicas, conforme se pode constatar na ampliação seguinte:
Estou convencido que esta instalação é recente, depois do Verão de 2014, embora o meu último registo fotográfico da zona seja do Verão de 2006, quando estavam a construir a torre feia do radar ao pé do farol de Ferragudo.
Desconheço as razões que levaram à instalação das células fotovoltaicas naquele sítio específico, houve uma altura antes do resgate de 2011 em que o governo de Portugal, à semelhança do governo da Alemanha, pagava uma tarifa de 40c€/kWh aos produtores de energia usando tecnologia fotovoltaica, quando a energia eólica estava a ser remunerada a cerca de 10c€/kWh e o preço do kWh no mercado grossista ibérico andava à volta dos 5c€/kWh, quando o preço de venda no consumidor doméstico é agora cerca de 15c€/kWh.
Depois duma primeira atribuição de licenças de produção fotovoltaica com direito a tarifa assegurada realizou-se outro concurso que ficou deserto. Neste segundo concurso o Estado também concederia licenças de produção com direito a tarifa assegurada por alguns anos a quem desse mais dinheiro para ter esse direito.
O conceito parece interessante, pois todas as tecnologias de energia tiveram no seu início subsídios estatais mas nesta modalidade o Estado está a vender o direito a vender energia a um preço muito elevado por alguns anos, penalizando assim os consumidores futuros de electricidade com um sobrecusto pois as receitas arrecadadas pelo Estado na venda do direito à tarifa regulada não ficam dentro do sector eléctrico. Seria mais razoável outorgar a licença a quem se propusesse fornecer a energia com a tecnologia desejada pelo menor preço.
Por vezes as alegadas rendas excessivas na área da energia correspondem a compensações por contributos que as empresas de electricidade deram ao Estado em situações de maior apuro, tratam-se de direitos que foram comprados, sendo portanto “adquiridos”, tão adquiridos como os dos credores que avançaram dinheiro para terem depois direito aos juros e à devolução do capital emprestado.
Existe um “mercado secundário” para esses direitos, que corresponde simplesmente às transacções sobre a propriedade das instalações produtoras licenciadas.
Parecia-me um bocado absurdo o pagamento de 40c€/kWh, considerando eu que seria melhor financiar estudos para baixar o preço das células fotovoltaicas. Agora acho que estava equivocado. É difícil uma comissão avaliar quais os processos industriais mais promissores de melhoramento de uma dada tecnologia. Com uma gestão cuidadosa dos incentivos é possível estimular a descoberta de novos processos industriai, além das economias de escala que são inerentes à produção.
No gráfico que mostro a seguir, que retirei da publicação “Fraunhofer ISE (2015): Current and Future Cost of Photovoltaics. Long-term Scenarios for Market Development, System Prices and LCOE of Utility-ScalePV Systems. Study on behalf of Agora Energiewende”
constata-se que em 10 anos a tarifa de remuneração da fotovoltaica reduziu-se de 40 para menos de 10c€/kWh de 2005 a 2015.
A nível mundial outro gráfico da mesma publicação mostra o dinamismo da indústria fotovoltaica.
Quando o preço das células fotovoltaicas for competitivo para o consumidor doméstico sem necessidade de qualquer subsídio, vai ser praticamente impossível de evitar a montagem maciça de células fotovoltaicas nas casas particulares, mesmo que seja apenas para autoconsumo. Vai então haver grandes mudanças no sector eléctrico.
Em Portugal a APREN, Associação de Energias Renováveis, é uma das instituições activas na promoção destas energias.
No próximo dia 4/Maio realiza-se em Évora uma conferência sobre energia solar, comemorando o dia internacional do sol.
jj.amarante
Em 15 de Março deste ano reparei numa textura estranha nos edifícios da Marina de Portimão na Praia da Rocha:
olhando com mais atenção constatei que o tecto dos caminhos de acesso aos apartamentos da marina tinham sido integralmente cobertos com células fotovoltaicas, conforme se pode constatar na ampliação seguinte:
Estou convencido que esta instalação é recente, depois do Verão de 2014, embora o meu último registo fotográfico da zona seja do Verão de 2006, quando estavam a construir a torre feia do radar ao pé do farol de Ferragudo.
Desconheço as razões que levaram à instalação das células fotovoltaicas naquele sítio específico, houve uma altura antes do resgate de 2011 em que o governo de Portugal, à semelhança do governo da Alemanha, pagava uma tarifa de 40c€/kWh aos produtores de energia usando tecnologia fotovoltaica, quando a energia eólica estava a ser remunerada a cerca de 10c€/kWh e o preço do kWh no mercado grossista ibérico andava à volta dos 5c€/kWh, quando o preço de venda no consumidor doméstico é agora cerca de 15c€/kWh.
Depois duma primeira atribuição de licenças de produção fotovoltaica com direito a tarifa assegurada realizou-se outro concurso que ficou deserto. Neste segundo concurso o Estado também concederia licenças de produção com direito a tarifa assegurada por alguns anos a quem desse mais dinheiro para ter esse direito.
O conceito parece interessante, pois todas as tecnologias de energia tiveram no seu início subsídios estatais mas nesta modalidade o Estado está a vender o direito a vender energia a um preço muito elevado por alguns anos, penalizando assim os consumidores futuros de electricidade com um sobrecusto pois as receitas arrecadadas pelo Estado na venda do direito à tarifa regulada não ficam dentro do sector eléctrico. Seria mais razoável outorgar a licença a quem se propusesse fornecer a energia com a tecnologia desejada pelo menor preço.
Por vezes as alegadas rendas excessivas na área da energia correspondem a compensações por contributos que as empresas de electricidade deram ao Estado em situações de maior apuro, tratam-se de direitos que foram comprados, sendo portanto “adquiridos”, tão adquiridos como os dos credores que avançaram dinheiro para terem depois direito aos juros e à devolução do capital emprestado.
Existe um “mercado secundário” para esses direitos, que corresponde simplesmente às transacções sobre a propriedade das instalações produtoras licenciadas.
Parecia-me um bocado absurdo o pagamento de 40c€/kWh, considerando eu que seria melhor financiar estudos para baixar o preço das células fotovoltaicas. Agora acho que estava equivocado. É difícil uma comissão avaliar quais os processos industriais mais promissores de melhoramento de uma dada tecnologia. Com uma gestão cuidadosa dos incentivos é possível estimular a descoberta de novos processos industriai, além das economias de escala que são inerentes à produção.
No gráfico que mostro a seguir, que retirei da publicação “Fraunhofer ISE (2015): Current and Future Cost of Photovoltaics. Long-term Scenarios for Market Development, System Prices and LCOE of Utility-ScalePV Systems. Study on behalf of Agora Energiewende”
constata-se que em 10 anos a tarifa de remuneração da fotovoltaica reduziu-se de 40 para menos de 10c€/kWh de 2005 a 2015.
A nível mundial outro gráfico da mesma publicação mostra o dinamismo da indústria fotovoltaica.
Quando o preço das células fotovoltaicas for competitivo para o consumidor doméstico sem necessidade de qualquer subsídio, vai ser praticamente impossível de evitar a montagem maciça de células fotovoltaicas nas casas particulares, mesmo que seja apenas para autoconsumo. Vai então haver grandes mudanças no sector eléctrico.
Em Portugal a APREN, Associação de Energias Renováveis, é uma das instituições activas na promoção destas energias.
No próximo dia 4/Maio realiza-se em Évora uma conferência sobre energia solar, comemorando o dia internacional do sol.