2013-08-24

August Macke (1887-1914) - Badende


Com tanta água nos posts anteriores e este calor, embaraçoso para quem previu o Verão mais frio dos últimos muitos anos, é mais que tempo de mostrar umas banhistas.

Fotografei este quadro num museu de Munique e, já não me lembrava do nome do pintor, mas o Google Images identificou-o logo como sendo de August Macke, e a obra como "Badende Madchen mit Stadt im Hintergrund" traduzível por "Raparigas banhando-se com cidade ao fundo". O título é muito explicativo, eu não tinha reparado que havia uma cidade representada no quadro, o meu olhar era mais atraído pelas banhistas.



Vê-se que o pintor morreu no ano dos seus 27 anos, foi uma vítima da primeira guerra mundial, em que os velhos da classe dominante mandaram os seus filhos e netos servir de carne para canhão e ao contrário da história do Abraão e seu filho Isaac, desta vez Deus não enviou o seu anjo para suster a mão do carrasco.

Em muitas áreas da actividade humana a nossa tendência para a carneirada leva a que se valorize excessivamente alguns autores em relação a outros, por vezes com um talento equivalente.

É conhecido o teste que fizeram com um músico muito famoso, que foi tocar para o metropolitano de Washington, tendo recebido algumas moedas mas não conseguindo juntar as multidões que esgotam os concertos em que toca.

Ou recentemente com a J.K.Rowling que escreveu um livro sob pseudónimo, que recebeu uma muito boa crítica mas conseguindo apenas vender 1500 exemplares até ao momento em que revelaram quem era o autor, altura em que as vendas dispararam. Neste caso o autor não só tinha um talento comparável ao de J.K.Rawling como tinha exactamente o mesmo telento de J.K.Rawling pois era a J.K.Rawling!

Houve qualquer coisa de muito positivo que se passou na pintura em Paris, este pintor também passou por lá, mas a diferença de talento entre pintores tão pouco é bem quantificada pelos valores monetários pelos quais as obras se transaccionam ou pela fama relativa que têm. Os pintores alemães estão na sua maioria no clube dos pouco famosos.

Fiquei agradavelmente surpreendido ao saber através da Wikipédia que este pintor tinha sido muito influenciado por Robert Delaunay, os círculos do quadro tinham-me levado a pensar nele. E divagando pela Wikipédia constatei que Delaunay e a sua mulher Sonia viveram entre 1915 e 1917 em Vila do Conde, afinal bastante perto das margens do rio Lima, de que falei nos 3 posts anteriores!

Como é possível dizer que a Europa não existe?

2013-08-21

Nas margens do rio Lima - 3


Os leitores desculparão a insistência nestas margens do rio Lima mas são realmente muito bonitas.

Começo desta vez por mostrar um ribeiro ou riacho afluente do rio, com uma pequena praia fluvial com um bocadinho de areia. Tudo muito bucólico, quase só faltam uns pastores a tocar flauta para encantar a princesa que fosse passando.




Vê-se um bocadinho de água no topo da foto seguinte mas a minha vista é atraída pela vegetação exuberante.

Curiosa a forma como as plantas se agrupam naturalmente umas com as outras, creio que esta parte não foi ajardinada. Parece assim que os canteiros acabam por imitar de certa forma a natureza. Isto deve-se certamente à maior facilidade das plantas se reproduzirem na vizinhança imediata, embora existam muitos mecanismos de dispersão das sementes.




A seguir mostro um caminho à beira-rio que agora tem o simpático nome de ecopista. Parece que se vai penetrar numa selva, mas tudo isto tem muita urbanidade, proporcionando um agradável passeio pedestre com a vantagem de, ao seguir o curso do rio, ser praticamente de nível, sem subidas nem descidas.



Depois mostro esta linda inflorescência que, depois do que me disse o Paulo Araújo, do Dias com Árvoresneste post com uma foto bem focada (ao contrário desta), me parece ser uma Umbelífera cujo nome vem de Umbela


E finalizo este post com este fundo de riacho que me ajudou a ver que alguma da arte que parece abstracta poderá ter uma origem muito concreta




Julgo que os círculos seriam causados por uns insectos que em Portugal se chamam "alfaiates", da família Gerridae, uns insectos leves que se deslocam sobre a água aproveitando a existência da tensão superficial deste líquido. Alguns americanos chamam-lhes "Jesus bug". O texto em inglês sobre estes animaizinhos tem uma dimensão esmagadora em relação à versão em português, como é infelizmente frequente. A imagem seguinte é uma ampliação duma zona da imagem que a precede.



E a seguir fiz mais uma ampliação. Acho estas texturas fascinantes, hipnóticas, como comentaram neste blogue uma vez



2013-08-17

Nas margens do rio Lima - 2


Em Ponte de Lima vi esta ávore que me faz pensar em fogos-de-artifício. Antigamente chamaria a isto um chorão, agora já tenho dúvidas, a árvore parece diferente.

Achei que nesta altura de férias não ficariam mal umas imagens tipo bilhete postal e acho que esta ficaria bem nessa categoria.





Também gostei desta muralha verde com tons de por-do-sol, desta vez era mesmo fim de tarde. Notar os bancos vermelhos que votarão a aparecer na próxima imagem




Esta é a parede vegetal da imagem anterior mas vista por dentro, trata-se de um passeio magnífico à beira-rio, do lado do centro histórico de Ponte de Lima em que os raios de sol entravam com mais moderação do que a foto dá a entender, é o problema do ajuste automático da exposição que não consigo controlar porque, como normalmente essa exposição é adequada, não tenho incentivo para estudar a máquina fotográfica com detalhe.

Aqui eram plátanos muito grandes, a frescura era intensa, mesmo num dia bastante quente. A folhagem formava um túnel muito agradável, não só se via a luz ao fundo do túel como mesmo dos lados também havia iluminação.



Parecia um sítio bom para conversas em  passeios intermináveis ora para um lado ora para o outro.

2013-08-14

Nas margens do rio Lima


Estas flores amarelas são comuns em Portugal, talvez mais bravias do que de jardim, compartilho com os leitores mais uma vez a minha ignorância, pois não sei como se chamam, mas o conjunto é muito agradável à vista.




Tenho constatado alguma fixação da minha parte nestas plantas de folhas compridas e finas que abundam nos locais húmidos como as margens dos rios, talvez me façam pensar em pinceladas ou em cabeleiras soltas, nestas há uns tons de azul que possivelmente são reflexos da cor do céu.




A seguir as mesmas plantas mas em contra-luz. Dependendo da intensidade do écran do PC onde são vistas serão mais ou menos contra-luz, era bom que houvesse uma maior normalização das características dos monitores dos computadores mas é certamente um problema muito complexo, a começar pela vantagem de cobrir uma vasta gama de preços dos aparelhos e a acabar nas condições de iluminação ambiente de cada um, que  vão duma sala em penumbra a uma esplanada debaixo da luz do Sol.




E para finalizar, mostro não só as margens como o rio Lima propriamente dito, com o verde exuberante da vegetação e os reflexos prateados do que julguei ser um fim-de-tarde mas que constatei depois ser um fim-de-manhã com o Sol já muito alto



2013-08-09

Comentários breves e flores na Beira-Rio


É difícil resistir a comentar a actualidade de Portugal e farei assim 4 comentários em que serei breve:

1) A ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque, mentiu ao tentar convencer a opinião pública que tinha sido surpreendida pela existência de contratos swaps sobre os quais o anterior governo não lhe teria passado nenhuma informação, quando existem evidências esmagadoras do contrário. O grau de detalhe de cada uma das etapas do processo de transferência de informação é neste caso de muito pouco interesse.

2) O Secretário de Estado do Tesouro procedeu mal ao tentar que o Estado fizesse um contrato com o banco que representava que permitiria esconder dívida pública. O PSD e o CDS criticaram violentamente o anterior governo do PS por ter escondido dívida pública, escondendo dos Portugueses a grave situação financeira do país. É intolerável que no seio do governo do PSD e CDS esteja uma pessoa que desenvolveu esforços para que o Estado Português fizesse aquilo que tanto criticam.

3) Andou mal o Tribunal que se permitiu fazer considerações irónicas e despropositadas sobre os trabalhadores que tinham álcool a mais no sangue quando no seu posto de trabalho. Os juízes são irresponsáveis perante as partes que julgam, uma vez que os eventuais danos que causem, quando julgam bem, se devem às leis em vigor e não à aplicação correcta que fazem delas. Em casos como estes, que vão completamente contra o senso comum, os órgãos disciplinares dos juízes deveriam explicar à população em geral porque é que uma decisão que parece tão errada afinal é a mais correcta ou qual foi a pena disciplinar aplicada aos juízes por terem cometido um erro tão grosseiro. Mas nestes casos só se ouve o Silêncio. Deve ser isto o que chamam o Segredo de Justiça.

4) Andou mal o tribunal que não considerou como provado que o cão Zico matou uma criança. O cão devia ter sido abatido sem contemplações.

Com tanta observação desanimadora resta-nos contemplar estas lindas inflorescências bravias que captei à Beira-Rio, em Maio deste ano de 2013, no fim do estrado de madeira que parte de ao pé da estátua da Dª.Catarina de Bragança na direcção da Ponte Vaso da Gama.

Não me consegui decidir por nenhuma das fotos pelo que apresento as duas:







P.S. Num blogue é possível fazer post-scripts ligando posts escritos no futuro, como este em que refiro o item 3 da lista acima

2013-08-05

Escultura de Artur Rosa



Desde que vi esta escultura que a admiro, foi por assim dizer "amor à primeira vista". Trata-se de uma escultura na sede em Lisboa da Fundação Calouste Gulbenkian feita pelo arquitecto Artur Rosa.

Não conheço bem a obra deste arquitecto, exceptuando esta escultura, a de cubos vermelhos na Av. Conde de Valbom  e a estação de metro do Terreiro do Paço.

Se no post anterior apareciam sombras com ritmo, aqui trata-se de uma escultura com ritmo, melodia e harmonia espacial, muito adequada pela proximidade do Grande Auditório onde estas propriedades se manifestam no domínio temporal.




A limitação das imagens neste blog a uma largura de 800 pixels é por vezes inconveniente. A imagem seguinte, embora mostrada com 800 pixels no post baseia-se numa imagem com maior definição, que poderá ser acedida no álbum Picasa clicando nela




Disseram-me há muitos anos que a ideia principal desta escultura era a eliminação das barreiras entre espaço exterior e interior, ela existe realmente em ambos os espaços e o edifício da Fundação, com as suas amplas janelas sobre o jardim, facilita essa eliminação.

A escultura faz-me ainda lembrar a Banda Desenhada em que a exibição de um mesmo motivo em vários pontos do espaço cria uma sensação de movimento. Na imagem seguinte mostro o detalhe onde se dão as transformações que me parece mais importantes.




e finalizo com esta bela foto que fui buscar ao sítio da Fundação Gulbenkian.






2013-08-02

Sombras com ritmo


Na breve passagem pelo Porto fui surpreendido por esta fachada do hotel Ipanema Park, na zona da Boavista:



O Porto tem muitos dias luminosos e ensolarados mas não tantos como Lisboa. Compreende-se assim a relutância no uso de palas horizontais sobre as janelas para proteger do sol e a adopção destes conjuntos de lâminas que dando alguma protecção não são obstáculos à luz nos dias mais nebulosos. E estas palas constituídas por lâminas criam sombras com muito ritmo, que animam imenso a fachada, mostrada com uma ampliação um pouco maior a seguir: