A crónica do Pedro Mexia na revista Actual do Expresso de 29/Mar/2013, intitulada “Tomé, o obscuro”, fala sobre São Tomé e o episódio do desejo dele em colocar os dedos nas feridas dos cravos e a mão na ferida do lado do corpo de Jesus Cristo, para tirar dúvidas sobre a sua ressurreição.
Gostei muito do ensaio que fala do ver, do tocar, do acreditar, do que é um corpo e do que será um corpo ressuscitado, da força da palavra e da bem-aventurança dos que crêem sem a necessidade de ver.
Eu não sou um desses bem-aventurados que crê sem a necessidade de ver e sinto-me como o São Tomé, também o ver não me chega, preciso de tocar. Lembro-me dos meus tempos de criança em que os adultos me diziam com excessiva frequência “vê-se com os olhos e não com as mãos”, como se duvidassem da utilidade do sentido do tacto, numa atitude pouco respeitosa em relação à obra do Criador.
Claro que não se pode viver em sociedade sem confiar em muita da informação que vai sendo divulgada mas gostaria de viver num país em que não fosse necessário duvidar de tanta da informação que é publicada, quer porque foi coligida de forma negligente, quer porque na luta política são pouco penalizadas as distorções descaradas da realidade.
Lembrei-me dum post antigo da lida insana que dizia “O exercício do poder sobre alguém começa sempre assim. Confia em mim, que quer dizer, confia-te a mim.”
Mas falar sobre o São Tomé fez-me também lembrar um post que escrevi a propósito da Basílica de São Tomé em Chennai, no sul da Índia, em que me chamou a atenção o Cristo do altar estar crucificado mas vestido, ao contrário do que é actualmente hábito no Ocidente. Vejo agora uma certa ironia na “ocultação” do corpo de Cristo, precisamente num local em que se celebra o apóstolo que queria tocar nesse corpo. Ou então é a celebração de que afinal São Tomé não precisou de ver para crer, como os bem-aventurados.
Depois de ter viajado tantos milhares de quilómetros para ver um Cristo crucificado vestido, acabei por descobrir outra imagem desse género muito mais ao pé de Lisboa, numa loja do centro histórico de Salamanca, feita pelo artesão Henrique Garcia Reino, já falecido, ou então pelo seu filho Luís Garcia Reino, que continua o trabalho do pai. Não consegui descobrir mais informação sobre estes artesãos na internet, nem tudo lá está.
Mostro um bocadinho da montra
e depois um rearranjo do crucifixo mais à esquerda:
1 comentário:
Interessante a questão da primeira imagem conhecida da cruxificação ter Cristo com um "colobium".
Talvez lhe possa interessar este apontamento:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2012/11/cristo-na-india.html
Cumprimentos
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