2013-04-27

Soho, New York


O post anterior fez-me revisitar umas fotos que tirei em Nova Iorque em Outubro de 2011, o tempo voa, pensei que tinha sido no ano passado...

Começo por esta foto de uma rua, no bairro do Soho, acolhedor mas bastante caótico, como se pode constatar na imagem



Uma das coisas que não gosto em Nova Iorque é a forma como destratam o lixo, que se amontoa em sacos em cima dos passeios, neste caso do Soho, como se pode ver a seguir

    
Em Brooklyn vi caixotes de lixo de várias cores, cada um para o seu tipo de lixo, como é comum na Europa, mas em Manhattan só se viam estes sacos amontoados.

Uma vez apercebi-me que uma camião de lixo que passava numa rua recolhia sacos de lixo dumas portas mas não de outras. Fiquei a pensar que a recolha será feita por companhias privadas que recolhem apenas o lixo dos prédios que os contrataram. Não consigo deixar de pensar que é uma forma de recolha que gasta mais energia, vários camiões fazendo um mesmo percurso e cada um apanhando o seu subconjunto de sacos de lixo, é por essas e por outras que os E.U.A. gastam cerca do dobro da energia que gasta a Europa para uma produção equivalente.

Fui verificar na net se o lixo de Manhattan é reciclado e fiquei com a sensação que os sacos pretos conterão “Resíduos Sólidos Urbanos” (nome fino para restos de comida e outros items não recicláveis) enquanto os transparentes conterão ou papel e cartão, ou embalagens. Como são transparentes é fácil encaminhá-los para a reciclagem correspondente. Embora a situação da reciclagem não seja tão má como parece à primeira vista, mesmo assim a abundância de sacos pretos faz pensar que os nova-iorquinos separam pouco o lixo. E o amontoado de sacos em cima do passeio também não é uma boa solução.

Mas deixando o lixo por imagens mais interessantes, gostei desta esquina em que os prédios que lhe são adjacentes apresentam alguma harmonia arquitectónica, se bem que não completamente conseguida. Em cidades muito dinâmicas com Nova Iorque é muito difícil obter e depois manter alguma harmonia urbanística:



Existem muitos prédios em Nova Iorque com muita qualidade arquitectónica, encontra-se mesmo estas decorações barrocas a que acho graça desde que não seja em grandes doses



encontrando-se também uma ou outra árvore, neste caso parece-me que são Ginkgo Bilobas, numa praceta com um campo de jogos



A árvore com o verde mais claro não está a ganhar folhas de um verde claro como na Primavera mas em trânsito Outonal para os amarelos magníficos dos Ginkgo Bilobas. Enquadrando de mais próximo até quase que parece que saímos do meio urbano:



2013-04-25

25 de Abril de 1974


Há 39 anos eu estava a cumprir o serviço militar obrigatório na Guiné, na cidade de Bissau, aonde chegara em Outubro de 1973, pouco depois de o PAIGC ter declarado a independência do território em Madina do Boé, em Setembro desse ano.

O 25 de Abril além de ter libertado o país de uma ditadura de décadas e de ter possibilitado que as ex-colónias retomassem a autodeterminação encurtou a minha comissão militar de dois anos na Guiné-Bissau para apenas um. Regressei no último avião militar português que saiu de Bissau, salvo erro em 14 de Outubro de 1974.

Deixo aqui uma foto do clube de oficiais em Bissau nessa época



e da estrada que dava acesso à esplanada mostrada na imagem anterior bem como os apartamentos para os oficiais, na época bastante sobrelotados



Havia uma piscina ao pé deste edifício, foi a primeira vez em que ao mergulhar numa piscina tive apenas a sensação de ter ficado molhado mas não mais fresco. Possivelmente a piscina estaria em manutenção. As árvores que se vêem parecem-me papaias



Julgo que esta árvore estava no caminho para a piscina e abrigava uma arbusto muito florido



que fotografei noutro local, noutra altura



2013-04-22

Alegria, Wikipédia e anúncios provocadores


Gosto de ver montras, são uma espécie de sonho estático, uma tentativa de alcançar algum tipo de perfeição.

Numa passagem recente por Hamburgo gostei bastante desta montra com 3 jovens irradiando energia, custa-me a perceber como é que uns manequins completamente estáticos dão uma ideia tão boa de movimento, talvez seja falta de formação académica neste tema.




A loja é da firma “American Apparel”, uma indústria de confecções instalada nos EUA e referida na Wikipédia neste artigo.

Embora a Wikipédia não tenha publicidade, vivendo exclusivamente de trabalho voluntário e de donativos para as despesas de funcionamento, estes artigos sobre organizações que perseguem o lucro são de uma natureza mais delicada. De qualquer forma parece-me melhor abordar a história das empresas na Wikipédia do que não o fazer e o texto sobre elas estará sujeito à crítica de toda a gente embora uma parte dos autores possa ter algum conflito de interesse.

Os leitores deste blogue terão reparado que eu faço numerosas ligações para a Wikipédia, sítio muito conveniente para um primeiro contacto com uma miríade de temas. O conhecimento não se obtém de forma directamente democrática, o facto de existir uma maioria de pessoas convencida da validade de uma determinada explicação dum fenómeno não é critério suficientemente bom para a sua validação, pois deve ser dado maior peso à opinião de pessoas que se interessaram mais pelo seu estudo. Os escritores da Wikipédia têm um interesse suficiente no que escrevem para escreverem e, embora não sejam imunes a erros, o resultado desta experiência colectiva da Wikipédia tem sido muito positiva. Admito que em questões mais próximas da Religião, como por exemplo os temas económicos, possam existir discussões mais acesas e com menor rigor mas os tratados sobre essas matérias não gozam necessariamente de maior objectividade nem estarão isentos de erros, mais difíceis de corrigir em papel do que na internet.
Naturalmente que a Wikipédia tem uma entrada sobre ela própria, em Inglês, em Português e noutras línguas, agora fiquei com curiosidade em ler a entrada sobre a Enciclopédia Britânica nessa enciclopédia mas, infelizmente, não tenho nenhuma em casa.

Mas regressando ao “American Apparel” fixei o nome numa viagem a Nova Iorque em que esta tabuleta me chamou a atenção, na Spring Street, Soho, Manhattan:



já a montra da loja não me deve ter impressionado porque não tirei nenhuma foto e o interior da loja surpreendeu-me mais do que me agradou, fotografei para efeitos documentais uma exposição dum número excessivo de elementos num cenário muito exíguo, inibindo-me de me interessar por qualquer um deles.



Por curiosidade fui à procura na net doutra versão do anúncio da tabuleta e encontrei uma versão mais completa num site que confirma a existência de um lado provocador em vários anúncios desta firma.

Mostro a seguir uma imagem desse site em que, além da versão mais completa sobre "Hosiery", mostra ainda mais dois anúncios:

2013-04-17

Mosaicos de espelhos







No escritório da minha casa guardo este simpático postal , que me apeteceu mostrar aqui como celebração da exuberância primaveril das plantas e das suas representações artesanais.


Tive a grata oportunidade de passar duas noites em 1993 e em 2001 no maravilhoso Lake Palace Hotel em Udaipur, na Índia, no estado do Rajasthan.


O postal é uma representação impressa dos painéis decorativos, feitos com imensa paciência, colocando muitos pequenos espelhos sobre gesso, formando motivos vegetais estilizados, painéis esses que alegram as paredes do hotel referido.


As imagens estáticas num écran de computador, ou numa fotografia banal de superfícies metálicas, dão uma representação muito incompleta dessas superfícies dado que o aspecto delas, sendo fortemente reflectoras, é fortemente influenciado pela luz incidente.


Fiz alguma correcção de cor, e reenquadrei a foto, com este resultado:


Neste caso o postal ou fotografia recorre a tintas metálicas pelo que apresenta o mesmo problema das superfícies metálicas polidas. Tentei que as folhas reflectissem a luz duma forma homogénea, para as revelar de uma maneira uniforme, mas como não fiquei inteiramente satisfeito com o resultado fiz também uma digitalização do postal, em que obtive esta imagem:


constatando-se que a luz do digitalizador incide sob um ângulo que leva a que os raios reflectidos pelas partes metálicas não sejam captados pelo sensor de luz, ficando consequentemente muito escuros.

Achei que um negativo desta imagem seria uma alternativa interessante:



deixando ao critério do leitor escolher a sua imagem preferida.

Além da beleza do conjunto parece-me difícil conseguir uma densidade tão homogénea da ocupação do plano pelos ramos, folhas e flores.

Fui depois à procura na internet de obras feitas com a mesma técnica e encontrei esta imagem ilustrativa dum fabricante indiano, em que os painéis estão em placas portáteis:


Os do hotel eram construídos directamente nas paredes, cada uma das soluções terá as suas vantagens e inconvenientes, gosto mais do motivo do mosaico do hotel.

Encontrei o nome “Tikri mirror glass work”, mas se “Tikri” designa uma localidade, não cheguei a apurar qual delas seria. Não encontrei mais informação sobre estes painéis tão curiosos.

Passados uns anos encontrei este painel no hotel Abbasi em Esfahan, no Irão:


O painel tem o mesmo espírito dos anteriores, parecendo contudo ter uma execução mais cuidada. Esta é uma árvore que dá frutos, enquanto as que eu vi em Udaipur mostravam flores.

É curioso notar também as diferenças na estilização das árvores, a iraniana parece mais próxima da versão natural, a indiana é mais abstracta.

Os decoradores iranianos usam os espelhos de forma maciça na decoração dos palácios, mas usando técnicas muito diferentes desta.

2013-04-12

Finalmente a Primavera?


No último domingo, por volta da uma, o sol assomou por entre as nuvens, iluminando os pequenos malmequeres de pétalas brancas que abundam agora nos canteiros dos Olivais




aqui e ali vêem-se tufos mais isolados destas flores amarelas




e hoje ao fim da tarde o Sol voltou, parece que para ficar por uns tantos dias, iluminando estas flores de trevo à beira do rio Tejo, ao pé da ponte Vasco da Gama:




Será que é desta que a Primavera veio para ficar?

2013-04-09

Encenação


Sinto-me cansado desta encenação permanente da vida política portuguesa.

Há uns tempos que se fala muito da existência ou não existência de um plano B para o caso do Tribunal Constitucional chumbar algumas das medidas do Orçamento do Estado para 2013. O governo sempre negou a existência de um plano desse tipo. Vários comentadores censuraram-no por não ter esse tal plano B. Por qualquer motivo que me escapa (normalmente o governo não faz o que devia) parece-me que desta vez o governo fez o que devia. Não faço ideia se o governo tem um plano B ou não mas parece-me do mais elementar bom senso negar publicamente a existência de qualquer plano pois admitir a sua existência corresponderia a admitir que elaborou um orçamento com medidas sobre cuja constitucionalidade teria dúvidas. Caso admitisse a existência dum plano B muita gente lhe cairia em cima por andar a fazer orçamentos que achava à partida de constitucionalidade duvidosa. A encenação da ausência do plano B era assim inevitável.

Já quanto à indignação e alegada surpresa do primeiro-ministro e dos seus apoiantes comentadores sobre o acórdão do TC, acho a situação completamente surreal.

O governo poderia (enfim, hoje sinto-me com uma boa vontade extraordinária) elaborar o orçamento considerando que todo ele era constitucional mas tinha a obrigação de ter reparado que a Presidência da República tinha fundadas suspeitas sobre a constitucionalidade de várias medidas e, dado que no ano anterior o presidente não tinha tido dúvidas sobre a constitucionalidade do orçamento e mesmo assim o TC tinha descoberto algumas não conformidades, o simples facto de o Presidente ter alterado a sua posição era um forte indício de que era quase certo que algumas das medidas fossem consideradas inconstitucionais. Já para não falar do grande número de pessoas que também manifestavam as maiores dúvidas sobre a constitucionalidade de diversas medidas do orçamento.

Talvez se devesse estabelecer um sistema de apostas, como se faz em Inglaterra, para deixar esse tipo de mercado informar o governo sobre as probabilidades das diversas possibilidades. Assim acho que o governo poderia fingir uma ligeira surpresa sobre o acórdão do TC mas nada de tão exagerado como a surpresa que encenou de forma tão desajeitada.

Além de não fazer sentido acusar o TC do que quer que seja. O governo tem ainda a obrigação de pedir desculpa por ter elaborado pela segunda vez um orçamento contendo medidas inconstitucionais, causando toda esta confusão.

Achei que os pintores surrealistas deveriam fornecer uma imagem adequada às reacções do governo ao acórdão do TC e encontrei esta do Magritte. Nela o governo, em vez de olhar para a realidade, prefere pintar uma figura em 3D como se ela fosse a realidade do mundo exterior à tela. Estas alegorias costumam conter ambiguidades e reparei que uma das mãos da figura está invisível, pelo que será possivelmente a famosa “mão invisível do mercado” que o governo está quase a tornar visível. O que veremos então? As agências de rating?




O quadro chama-se “La tentative de l’impossible” e data de 1928.

2013-04-05

A virtude do Norte


Provavelmente a propósito das declarações infelizes do nosso ministro das finanças Wolfgang Schäuble, sobre alegadas invejas dos países do Sul, o João Pinto e Castro escreveu este texto que transcrevo na íntegra:

Após constatar que em vários países europeus existe uma narrativa popular que opõe, dentro de cada um deles, o norte ao sul, sendo o primeiro sinónimo de trabalho, seriedade e progresso e o segundo de ócio, despreocupação e atraso, Theodor Adorno confrontou este mito com duas pequenas dificuldades.Em primeiro lugar, como explicar a virtude do norte italiano, se ela está ao sul da negligência do sul alemão?Em segundo lugar, como explicar que em vários casos, de que valem como exemplos a Grã-Bretanha e Portugal, o sul é mais desenvolvido do que o norte?Adorno não tenta sequer resolver o paradoxo, deixando-nos por conseguinte o encargo de pensar melhor no assunto.Sabe-se que, no hemisfério norte, existe uma elevadíssima correlação entre latitude e produto per capita, sugerindo que a geografia conta muito na explicação de níveis díspares de desenvolvimento.Todavia, o que Adorno faz notar é que o preconceito anti-meridional ocorre mesmo quando tal correlação inexiste.Isso leva-me a pensar que a valorização ética do norte é no essencial do domínio do simbólico. Os infelizes povos do norte, castigados com invernos mais rigorosos e privados durante boa parte do ano da luz e do calor, tendem a fantasiar o sul como uma espécie de paraíso terrestre onde todos são eternamente felizes e abundantes fluem o leite e o maná.Em contrapartida, consolam-se acreditando que o seu sofrimento lhes assegura, nesta vida, o monopólio da virtude, e, na outra, quem sabe se um lugar privilegiado à direita de Deus Pai.O fundo do mito do sul preguiçoso por contraste com o norte industrioso proviria, assim, do ressentimento ou da inveja.

Para ilustrar o texto mostro uma cena do Sul da Alemanha onde, embora lá vão produzindo de vez em quando alguns BMW (poderiam produzir muitos mais a preços mais competitivos do que os actuais), têm uma quantidade imensa de mirones a observar uns surfistas treinando-se numa onda estacionária no rio Isar que atravessa o Englischer Garten.





2013-04-01

Ver para crer



A crónica do Pedro Mexia na revista Actual do Expresso de 29/Mar/2013, intitulada “Tomé, o obscuro”, fala sobre São Tomé e o episódio do desejo dele em colocar os dedos nas feridas dos cravos e a mão na ferida do lado do corpo de Jesus Cristo, para tirar dúvidas sobre a sua ressurreição.

Gostei muito do ensaio que fala do ver, do tocar, do acreditar, do que é um corpo e do que será um corpo ressuscitado, da força da palavra e da bem-aventurança dos que crêem sem a necessidade de ver.

Eu não sou um desses bem-aventurados que crê sem a necessidade de ver e sinto-me como o São Tomé, também o ver não me chega, preciso de tocar. Lembro-me dos meus tempos de criança em que os adultos me diziam com excessiva frequência “vê-se com os olhos e não com as mãos”, como se duvidassem da utilidade do sentido do tacto, numa atitude pouco respeitosa em relação à obra do Criador.

Claro que não se pode viver em sociedade sem confiar em muita da informação que vai sendo divulgada mas gostaria de viver num país em que não fosse necessário duvidar de tanta da informação que é publicada, quer porque foi coligida de forma negligente, quer porque na luta política são pouco penalizadas as distorções descaradas da realidade.

Lembrei-me dum post antigo da lida insana que dizia “O exercício do poder sobre alguém começa sempre assim. Confia em mim, que quer dizer, confia-te a mim.

Mas falar sobre o São Tomé fez-me também lembrar um post que escrevi a propósito da Basílica de São Tomé em Chennai, no sul da Índia, em que me chamou a atenção o Cristo do altar estar crucificado mas vestido, ao contrário do que é actualmente hábito no Ocidente. Vejo agora uma certa ironia na “ocultação” do corpo de Cristo, precisamente num local em que se celebra o apóstolo que queria tocar nesse corpo. Ou então é a celebração de que afinal São Tomé não precisou de ver para crer, como os bem-aventurados.

Depois de ter viajado tantos milhares de quilómetros para ver um Cristo crucificado vestido, acabei por descobrir outra imagem desse género muito mais ao pé de Lisboa, numa loja do centro histórico de Salamanca, feita pelo artesão Henrique Garcia Reino, já falecido, ou então pelo seu filho Luís Garcia Reino, que continua o trabalho do pai. Não consegui descobrir mais informação sobre estes artesãos na internet, nem tudo lá está.

Mostro um bocadinho da montra



e depois um rearranjo do crucifixo mais à esquerda: