As línguas de fogo do Espírito Santo sobre as cabeças dos apóstolos no mosaico de uma das cúpulas da Basílica de S.Marcos em Veneza fizeram-me pensar nestas damas com adornos nas cabeças que aparecem nesta imagem:
Trata-se da digitalização de um folheto muito antigo de propaganda médica que tenho em casa e que julgo ter visto também na numerosa colecção de fac-símiles existente no Metropolitan Museum of New York. O folheto tinha um texto que resumidamente dizia ser uma imagem da necrópole de Tebas, túmulo 51de Userhet, súbdito do faraó Seti I (19ª dinastia, cerca de 1300 AC), tratando-se dos “retratos” de duas damas da aristocracia, talvez a mãe e uma esposa de Userhet.
Quando vi a imagem pela primeira vez pensei que os adornos nas cabeças seriam penas de aves, um bocado como os índios da América do Norte. Só muito mais tarde, quando me veio parar às mãos uma compilação encadernada de revistas da National Geographic, aprendi que aquelas coisas em cima das cabeças eram cones de gordura perfumada que os egípcios ricos punham nas cabeças durante as festas.
Nessa compilação de parte do ano de 1941 constava um artigo bastante longo e profusamente ilustrado sobre o Antigo Egipto em que, além das reproduções das pinturas egípcias antigas, tinham também pinturas contemporâneas tentando representar as cenas das pinturas antigas através de técnicas de pintura da cultura ocidental predominantes desde o Renascimento até ao Impressionismo.
Para ilustrar melhor o que quero dizer mostro uma imagem dum cortesão caçando aves no Nilo no primeiro plano, enquanto ao fundo outro se dedica á pesca com arpão
Esta imagem é uma reinterpretação, feita pelo pintor Herbert M. Herget(1885-1950), de outra antiga que estava na revista do National Geographic a preto e branco mas a cores neste sítio, reproduzindo um fac-símile do MET, com mais umas observações interessantes sobre o conteúdo das imagens.
Em ambas as imagens aparecem os mesmos personagens, o caçador sobre um barco de papiro caçando aves, acompanhado pela mulher, ambos vestidos de branco, uma jovem sentada, um rapazinho em tronco nu e uma rapariga apenas com uma tanga reduzida, debruçada sobre a água. Na representação contemporânea o barco com o homem a pescar com arpão tem apenas duas personagens enquanto no original está mais gente.
Há um pormenor desagradável nesta pintura que parece ter sido vítima de iconoclastas, pois a parte mais danificada são os rostos, não havendo à partida nenhuma razão para os rostos se danificarem mais cedo do que as outras partes das pinturas.
Em casa tenho uma reprodução desta outra imagem que fui buscar ao site do MET:
dando a entender que era um tema recorrente em vários túmulos.
Gostei ainda das cores vivas e da variedade de aves representadas nesta outra imagem (além dum gato...) que estava aqui
Na procura de reproduções destas imagens encontrei menções mais frequentes do que as habituais a direitos de copyright. Acho um bocado estranho que cópias fotográficas dos fac-similes do Metropolitan Museum of Art possam ser protegidas por copyright, acho esse direito absurdo, pretender um direito de cópia sobre uma cópia!
Aliás acabo de ver na Wikipédia que nos EUA têm a mesma opinião, conforme se constata neste parágrafo: “In the U.S., reproductions of two-dimensional public domain artwork do not generate a new copyright; see Bridgeman v. Corel. Scans of images alone do not generate new copyrights—they merely inherit the copyright status of the image they are reproducing. For example, a straight-on photograph of the Mona Lisa is ineligible for copyright.”
Mesmo as imagens “naturalistas” do National Geographic Magazine, publicadas em 1941 já deveriam estar no domínio público.
Mas regressando aos adornos nas cabeças, diziam no texto que a gordura se ia liquefazendo ao longo da festa e que o óleo escorrendo pela pele daria uma sensação de frescura. À parte o aspecto de alguns óleos hidratarem a pele, o que deve dar muito jeito em atmosferas secas com a do Egipto, não me parece que no final das festas as pessoas estivessem com muito bom aspecto, se o hábito fosse bom teríamos pelo menos alguns sítios em que esse costume estivesse mantido. Mostro a seguir outra “reconstituição de H.M.Herget, desta vez de uma festa em que existem convivas com cones na cabeça:
Outro aspecto menos comum para os costumes ocidentais será a presença de bailarinas quase totalmente despidas. Pensando melhor, as bailarinas dos carnavais do Brasil também se apresentam com muito pouca roupa, será uma defesa nos países quentes contra o calor de quem tem que fazer muitos movimentos.
Para finalizar mostro uma imagem antiga que poderá ter inspirado H.M.Herget para uma parte da imagem acima:
Sem comentários:
Enviar um comentário