Mais outra janela, esta pintada em 1990. É uma forma muito Portuguesa, bem como a imagem do casario reflectida na vidraça e suavemente perturbada pela presença dos cortinados.
Esta imagem vem neste livro, que já referi em post anterior
2011-02-26
2011-02-25
Maluda, Janela 29
As janelas da Maluda são fascinantes e julgo que muito apreciadas em Portugal. Por um lado as janelas são um elemento muito importante na caracterização de uma arquitectura. Quando uma pessoa vai, por exemplo, a Goa há uma sensação de familiaridade nos edifícios que julgo ser dada pelas janelas, semelhantes às que se vêem em Portugal. Por outro lado porque a pintora nos dá uma visão platónica de cada uma das janelas, um objecto perfeito livre de qualquer uma das impurezas das janelas reais, as pequenas manchas, alguma lasca na pedra da esquadria, os limites omitidos dos azulejos. As sombras formam-se sobre superfícies sem qualquer deformação, dando-lhes também um aspecto irreal. Finalmente os vidros das janelas são muitas vezes usados de forma que poderíamos considerar quase irónica. É completamente inverosímil que em frente desta janela se situe um prédio em que cada uma das janelas se reflectisse exactamente no centro de cada um dos pequenos vidros que constitui a janela que está a ser mostrada. Para compor a ilusão a pintora dá-se ao trabalho de sobrepor esses “reflexos” com as sombras dos caixilhos das janelas sobre as portas de madeira por trás da janela, uma delas entreaberta!
O nome do quadro tem a simplicidade habitual, chama-se Janela XXIX e foi pintado em 1987.
Esta imagem vem neste livro, que já referi em post anterior
O nome do quadro tem a simplicidade habitual, chama-se Janela XXIX e foi pintado em 1987.
Esta imagem vem neste livro, que já referi em post anterior
2011-02-24
Janelas da Maluda
Continuando no reino da Geometria, passo agora das simetrias e translações para variações dum mesmo tema.
Esta obra da pintora Maluda poder-se-ia intitular "Todas diferentes, todas iguais" mas tem um nome mais simples: "Janelas, 1973".
Assusta pensar que quando este quadro foi feito, há 38 anos, já o coronel Kadafi tinha feito o seu golpe de estado na Líbia há 4 anos, em 1969! Espero que mais esta ditadura venha a ser derrubada dentro em breve.
Esta obra da pintora Maluda poder-se-ia intitular "Todas diferentes, todas iguais" mas tem um nome mais simples: "Janelas, 1973".
Assusta pensar que quando este quadro foi feito, há 38 anos, já o coronel Kadafi tinha feito o seu golpe de estado na Líbia há 4 anos, em 1969! Espero que mais esta ditadura venha a ser derrubada dentro em breve.
2011-02-20
Janela de Isfahan – 2
Da análise que fiz da estrutura da janela mostrada no post anterior pensei se não seria possível fazer um padrão parecido recorrendo ao Microsoft Excel.
Aqui ao lado mostro o primeiro passo, desenhar as linhas da terça parte (superior) dum dos triângulos que marquei no post com a cor amarela.
Trata-se de um gráfico x-y em que as coordenadas x e y de cada ponto são achadas de forma casuística mas procurando alguma independência da foto, da qual se tiraram algumas medidas.
Por exemplo os lados inferiores do losango mais abaixo fazem 30º com o eixo dos xx, isso é essencial à forma, já a largura das réguas de madeira seguiu uma medida tirada numa impressão em papel da janela.
Uso apenas uma “data series”, fazendo a separação entre os vários polígonos usando uma linha em branco a separar os pontos de cada polígono.
Na segunda imagem mostro o segundo passo do processo, o triângulo amarelo obtêm-se fazendo duas rotações sucessivas de 120º do conjunto de pontos iniciais.
Para verificar o aspecto final do triângulo fiz um gráfico no Excel sem eixos nem grelha e usei um fundo preto na “plot area” do gráfico.
Numa aplicação equivalente ao “Paintbrush” “enchi o exterior dos polígonos duma cor dourada, tendo obtido esta figura:
Fazendo uma simetria em relação a um eixo horizontal, seguida de uma translação para a direita, obtém-se uma simetria em relação ao lado direito do triângulo, resultando um losango:
Fazendo translações do losango, reflexões e mais translações, passando por esta fase intermédia
acabei por chegar a este gráfico no Excel:
que em fundo preto fica assim:
usando a técnica de preenchimento atrás referida obtemos esta variante.
e usando a cor branca/cinzenta ficamos com uma variedade que faz pensar num trabalho de crochet:
2011-02-16
Janela de Isfahan
Ainda na Mesquita do Xá em Isfahan passei por esta janela, que teria menos de um metro de largura, cujo trabalho em madeira me chamou a atenção.
Talvez influenciado pelos posts mais recentes deste blogue sobre as simetrias existentes nas calçadas de Lisboa, tracei umas rectas identificando alguns eixos de simetria
Depois “pintei” com cores transparentes triângulos com o mesmo desenho, uns de amarelo e outros de cor de laranja, para mostrar que uns são reflexões dos outros
Existe outro tipo de triângulo nesta janela, que pintei de cor azul
Todos os triângulos centrais se podem obter através de uma rotação de 60º do triângulo azul adjacente. Os bocadinhos que ficaram por pintar resultam de se ter que colocar esta estrutura numa esquadria rectangular
Mostro para finalizar a janela sem pinturas, deixando entrever o escritório que escondia / iluminava.
Talvez influenciado pelos posts mais recentes deste blogue sobre as simetrias existentes nas calçadas de Lisboa, tracei umas rectas identificando alguns eixos de simetria
Depois “pintei” com cores transparentes triângulos com o mesmo desenho, uns de amarelo e outros de cor de laranja, para mostrar que uns são reflexões dos outros
Existe outro tipo de triângulo nesta janela, que pintei de cor azul
Todos os triângulos centrais se podem obter através de uma rotação de 60º do triângulo azul adjacente. Os bocadinhos que ficaram por pintar resultam de se ter que colocar esta estrutura numa esquadria rectangular
Mostro para finalizar a janela sem pinturas, deixando entrever o escritório que escondia / iluminava.
2011-02-15
Pessoas de Isfahan
Voltaram as manifestações no Irão, provavelmente influenciadas pelo que se passou na Tunísia e no Egipto, possivelmente algumas das pessoas que estavam descansando neste parque ao pé da ponte dos 33 arcos em Isfahan, terão participado nessas manifestações, onde se corre risco de vida.
Às vezes penso que só vemos imagens destes países mais distantes quando houve alguma catástrofe natural ou decorre uma grande contestação ao poder estabelecido. Estas são imagens de um quotidiano mais frequente mas não necessariamente satisfatório.
A ponte dos 33 arcos é muito bela por fora mas este interior deixa um bocado a desejar, só de vez em quando se avista o rio. Uma das vantagens é que quem passa está mais abrigado do vento , quando ele não encana na direcção da ponte
O senhor de suspensórios (mas sem cinto) é um turista.
Às vezes penso que só vemos imagens destes países mais distantes quando houve alguma catástrofe natural ou decorre uma grande contestação ao poder estabelecido. Estas são imagens de um quotidiano mais frequente mas não necessariamente satisfatório.
A ponte dos 33 arcos é muito bela por fora mas este interior deixa um bocado a desejar, só de vez em quando se avista o rio. Uma das vantagens é que quem passa está mais abrigado do vento , quando ele não encana na direcção da ponte
O senhor de suspensórios (mas sem cinto) é um turista.
2011-02-10
Batedor de tapetes
As recentes manifestações no Egipto levaram-me a rever as fotos que tirei no Cairo em Abril de 2006. Entre elas encontrava-se esta pilha de objectos que já não via há imenso tempo, provavelmente desconhecidos dos leitores mais jovens deste blogue.
Trata-se de um batedor de tapetes, existia um exactamente igual a estes, com a mesma forma e a mesma cor, na casa dos meus pais no Porto. Tenho a vaga memória de a minha mãe dizer que tinha sido proibido bater os tapetes pendurados nas janelas que davam para a rua, pelo que a operação tinha que ser realizada no quintal ou numa janela das traseiras. Acho que ainda dei umas batidelas, num tapete colocado num arame no quintal, na altura não se falava tanto de alergias embora fosse talvez mais uma falta de consciência do que uma ausência.
Lembro-me também de terem comprado o primeiro aspirador de pó lá em casa, um aspirador Electrolux, que custou 1.200$00 nos finais dos anos 50. Redescobri aqui uma série longa do IPC, compilada pelo António Barreto, de 1960 a 1999, a partir de números do Banco de Portugal. Segundo as minhas contas, os valores de 1960 deverão ser afectados de um factor 60 para obter um valor “equivalente” em 1999, um aspirador de 1200$00 em 1960 “custaria” agora cerca de 350 €, um valor muito superior ao preço da maioria dos aspiradores actualmente comercializados, mais uma das numerosas evidências que se vive melhor agora do que há umas décadas atrás. E devido aos aspiradores já não é preciso bater nos tapetes.
No fundo da foto, num dos embrulhos tem escrito “Made in A.R.E”, querendo dizer Arab Republic of Egypt. Fiquei a pensar que é um bocado estranho qualificar uma república de “Árabe”. O que é que esta qualificação quererá dizer?
Trata-se de um batedor de tapetes, existia um exactamente igual a estes, com a mesma forma e a mesma cor, na casa dos meus pais no Porto. Tenho a vaga memória de a minha mãe dizer que tinha sido proibido bater os tapetes pendurados nas janelas que davam para a rua, pelo que a operação tinha que ser realizada no quintal ou numa janela das traseiras. Acho que ainda dei umas batidelas, num tapete colocado num arame no quintal, na altura não se falava tanto de alergias embora fosse talvez mais uma falta de consciência do que uma ausência.
Lembro-me também de terem comprado o primeiro aspirador de pó lá em casa, um aspirador Electrolux, que custou 1.200$00 nos finais dos anos 50. Redescobri aqui uma série longa do IPC, compilada pelo António Barreto, de 1960 a 1999, a partir de números do Banco de Portugal. Segundo as minhas contas, os valores de 1960 deverão ser afectados de um factor 60 para obter um valor “equivalente” em 1999, um aspirador de 1200$00 em 1960 “custaria” agora cerca de 350 €, um valor muito superior ao preço da maioria dos aspiradores actualmente comercializados, mais uma das numerosas evidências que se vive melhor agora do que há umas décadas atrás. E devido aos aspiradores já não é preciso bater nos tapetes.
No fundo da foto, num dos embrulhos tem escrito “Made in A.R.E”, querendo dizer Arab Republic of Egypt. Fiquei a pensar que é um bocado estranho qualificar uma república de “Árabe”. O que é que esta qualificação quererá dizer?
2011-02-04
Maluda (1934-1999)
A pintora Maluda, Maria de Lurdes Ribeiro nasceu em Pangim, no então Estado da Índia Portuguesa, viveu em Lourenço Marques de 1948 a 1963, ano em que veio para Portugal e em Paris de 1964 a 1967. Fixou-se depois em Lisboa onde morreu em 1999.
No outro dia fui à procura das famosos quadros de janelas e embora não tenha encontrado muitas imagens em formato jpeg com uma dimensão razoável (a maior parte era muito pequena), encontrei este sítio contendo um livro magnífico publicado em 2008, com a quase totalidade das suas obras, por Carlos Humberto Ribeiro e Ianus Unipessoal Lda. O livro até pode ser "descarregado" embora seja bastante grande, ocupando 89 Mbytes. Encontrei também "Um blog sobre Maluda"e no blog "Restos de Colecção" fiz esta procura com resultados interessantes.
As obras da Maluda parecem-me platónicas, no sentido em que representam uma forma idealizada da realidade, em certa medida mais perfeita do que esta, pois todas as arestas das casas são rectas perfeitas, as sombras são nítidas e sem penumbras as cores são sólidas e bem definidas. Na altura em que pintou boa parte das paisagens urbanas o uso dos computadores ainda não se tinha estendido à síntese de imagens arquitectónicas. Ao revisitá-las agora algumas parecem feitas por programas de computador simples.
É curiosa a existência destes movimentos em sentido contrário: por um lado, os programas de computadores apresentando cenas primeiro mais simples (por incapacidade de construir muitos detalhes) mas cada vez mais realistas, sendo actualmente difícil distinguir uma imagem sintética duma fotografia, por outro lado a pintora Maluda que observando uma imagem complexa a simplifica até a tornar quase abstracta.
A pureza geométrica dos elementos usados e a espantosa nitidez, que tranquiliza a minha condição de míope, são duas das características que me fazem gostar de muitos dos quadros dela.
Ultimamente não tenho ouvido falar muito da Maluda mas admito que possa ter andado distraído. As duas imagens anteriores denominam-se respectivamente Lisboa XXV (de 1983) e Lisboa XXX (de 1985). As duas seguintes têm os títulos Lisboa XXXI (de 1986) e Lisboa XXXV (de 1988).
Quem fotografa à Beira-Rio bem podia tentar fotografar os enquadramentos destas imagens.
No outro dia fui à procura das famosos quadros de janelas e embora não tenha encontrado muitas imagens em formato jpeg com uma dimensão razoável (a maior parte era muito pequena), encontrei este sítio contendo um livro magnífico publicado em 2008, com a quase totalidade das suas obras, por Carlos Humberto Ribeiro e Ianus Unipessoal Lda. O livro até pode ser "descarregado" embora seja bastante grande, ocupando 89 Mbytes. Encontrei também "Um blog sobre Maluda"e no blog "Restos de Colecção" fiz esta procura com resultados interessantes.
From Maluda |
As obras da Maluda parecem-me platónicas, no sentido em que representam uma forma idealizada da realidade, em certa medida mais perfeita do que esta, pois todas as arestas das casas são rectas perfeitas, as sombras são nítidas e sem penumbras as cores são sólidas e bem definidas. Na altura em que pintou boa parte das paisagens urbanas o uso dos computadores ainda não se tinha estendido à síntese de imagens arquitectónicas. Ao revisitá-las agora algumas parecem feitas por programas de computador simples.
É curiosa a existência destes movimentos em sentido contrário: por um lado, os programas de computadores apresentando cenas primeiro mais simples (por incapacidade de construir muitos detalhes) mas cada vez mais realistas, sendo actualmente difícil distinguir uma imagem sintética duma fotografia, por outro lado a pintora Maluda que observando uma imagem complexa a simplifica até a tornar quase abstracta.
A pureza geométrica dos elementos usados e a espantosa nitidez, que tranquiliza a minha condição de míope, são duas das características que me fazem gostar de muitos dos quadros dela.
Ultimamente não tenho ouvido falar muito da Maluda mas admito que possa ter andado distraído. As duas imagens anteriores denominam-se respectivamente Lisboa XXV (de 1983) e Lisboa XXX (de 1985). As duas seguintes têm os títulos Lisboa XXXI (de 1986) e Lisboa XXXV (de 1988).
Quem fotografa à Beira-Rio bem podia tentar fotografar os enquadramentos destas imagens.
2011-02-02
John Barry
Faleceu no passado 30/Janeiro John Barry, o compositor da música do "Out of Africa", um dos mais belos filmes do século XX. Rever as imagens acompanhadas apenas da música é uma experiência emocionante.
Visto aqui.
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