Digo outra vez que gosto muito de jardins. Há quem diga que são uma construção artificial, que correspondem a uma “humanização”, com uma carga negativa, da Natureza.
Julgo que esta antinomia entre os seres humanos por um lado e a Natureza por outro, muito presente na cultura ocidental, resulta dum tomar de consciência muito vivo da singularidade da nossa consciência, ao ponto de nos destacar, como seres humanos, da Natureza de que fazemos parte. A Bíblia cristaliza essa dicotomia entre o que é humano e o que é da Natureza.
Também o fazem os ecologistas mais radicais que têm uma visão do mundo que parece um negativo da visão bíblica: enquanto aí os seres humanos tinham o direito de usar e de abusar de todos os outros seres vivos, na deriva fundamentalista da ecologia o mundo ideal não teria seres humanos, só assim ficando verdadeiramente “Natural”.
Gostando muito de geometria e de formas perfeitas (o tal mundo platónico), não tenho contudo grande entusiasmo pelos jardins formais franceses, com os seus arranjos geométricos e a sua poda violenta das árvores e arbustos, como neste exemplo do Jardim do Retiro em Madrid.
Aprecio mais o jardim (ou talvez parque) tipo inglês que, na minha ingenuidade, cheguei a pensar que correspondia a um pedacinho da natureza que não precisava da intervenção humana, como nesta foto antiga do Hyde Park em Londres. Presumo que precisará de menos trabalho de jardinagem que um jardim francês, mas manter aqueles lindos relvados sem ervas de outras espécies requer certamente alguma intervenção.
Lisboa não terá grande abundância de zonas verdes, às vezes penso que não farão tanta falta assim, com a tendência actual de ao menor raio de sol ir toda a gente para a praia, mas existem jardins de qualidade mundial como, por exemplo, o jardim da Gulbenkian e o do alto do parque Eduardo VII, ambos desenhados pelo Arqº Ribeiro Telles.
Os espaços ajardinados recentemente à beira-rio, no Parque das Nações são também de grande qualidade, gosto muito das pequenas colinas artificiais que protegem do vento e fazem lembrar ondas, bem como da forma como estes espaços ajardinados se articulam com o rio.
Um exemplo dessa ligação bem sucedida é este conjunto de tufos de plumas, criando alguma separação entre o jardim e o rio mas evitando uma barreira opaca. Se fosse há uns anos não teria reparado na colocação cuidadosa destas plantas.
Gosto também de ver coisas com o céu no fundo, motivo porque noutro dia tinha destacado um dos tufos da imagem anterior.
Com o encurtar dos dias o meu passeio quase diário ocorreu uma vez após o sol posto, já no lusco-fusco, estando a lua cheia a nascer. Tirei assim esta foto ao conjunto de tufos de plumas.
Depois fotografei o reflexo da lua sobre o rio. Dado que ainda não controlo bem o telemóvel a imagem ficou com muito grão, o pormenor vermelho é uma bóia a sinalizar um canal de navegação no rio e a sombra na esteira luminosa uma ave aquática. O grão da imagem dá-lhe um aspecto “pointilliste”
Deixei para o fim a imagem de que gostei mais, com o mato da margem em tons outonais, três bandas horizontais com cores diferentes, “ligadas” pelo luar.
2008-11-30
2008-11-25
Flamingos
No passeio à beira-rio ao pé da ponte Vasco da Gama fui avistando com grande frequência pequenos bandos de flamingos (meia-dúzia a uma dúzia), na maré-baixa, juntando-se às gaivotas, à ocasional garça real solitária e a outros pássaros que se alimentam das pequenas criaturas que vivem no lodo.
Até há pouco tempo só tinha visto flamingos em filmes sobre a vida selvagem e em jardins zoológicos pelo que os fotografei com o meu telemóvel. Infelizmente as aves costumam manter uma boa distância entre elas e a terra firme e as fotos ficavam sempre muito más, com uns pontinhos brancos imperceptíveis.
Dada a regularidade da presença dos flamingos nas marés-baixas, fui ver uma tabela de marés na internet e fui tirar fotos com a minha máquina compacta. As fotos não ficaram grande coisa, era preciso mesmo uma teleobjectiva, mas fica aqui documentada a presença dos flamingos nestas paragens, na primeira foto mostra o enquadramento, a segunda imagem é um "crop" da primeira, na terceira imagem vêem-se os flamingos a afastar-se do fotógrafo, mesmo estando ele tão longe.
Até há pouco tempo só tinha visto flamingos em filmes sobre a vida selvagem e em jardins zoológicos pelo que os fotografei com o meu telemóvel. Infelizmente as aves costumam manter uma boa distância entre elas e a terra firme e as fotos ficavam sempre muito más, com uns pontinhos brancos imperceptíveis.
Dada a regularidade da presença dos flamingos nas marés-baixas, fui ver uma tabela de marés na internet e fui tirar fotos com a minha máquina compacta. As fotos não ficaram grande coisa, era preciso mesmo uma teleobjectiva, mas fica aqui documentada a presença dos flamingos nestas paragens, na primeira foto mostra o enquadramento, a segunda imagem é um "crop" da primeira, na terceira imagem vêem-se os flamingos a afastar-se do fotógrafo, mesmo estando ele tão longe.
2008-11-23
Beira-rio (Tejo)
Não sendo uma obrigação, gosto de manter uma associação de ideias, um fio-da-meada, entre dois posts adjacentes. Dado que já estava um pouco cansado de tantos lugares distantes, esta referência a Fátima, a filha do profeta Maomé, permite-me fazer a ligação à localidade portuguesa do mesmo nome e regressar a Portugal.
Tiro menos fotografias em Portugal do que fora do país, nomeadamente porque quando ando por fora ando mais acompanhado pela máquina fotográfica. No entanto, com os avanços dos telemóveis que, no meio de tanta nova função, felizmente ainda nos permitem fazer chamadas telefónicas, costumo agora andar sistematicamente acompanhado da câmara fotográfica do telemóvel que, embora de qualidade fraca, sobretudo em situações de pouca luz, permite às vezes guardar imagens de qualidade razoável.
Um dos motivos frequentes dessas imagens de telemóvel é precisamente a margem do rio Tejo, no troço entre a estátua da Catarina de Bragança e a foz do rio Trancão, em boa hora despoluído e regressado à vida normal.
Não me canso de louvar todos os que contribuíram de forma tão eficaz para o bom sucesso da área do Parque das Nações, proporcionando um ambiente extremamente agradável para passeios a pé.
Nesta primeira imagem, tirada em Mar/2007 ao fim da tarde, o rio estava como um espelho, reflectindo um céu basicamente cinzento mas com alguma variedade.
A segunda imagem, tirada em 04-Abr-2008 por volta do meio-dia, mostra um mar de malmequeres campestres sobre uma colina que é ironicamente formada pelos restos da estação de tratamentos de lixo que existia neste local antes da Expo 98. A colina ainda está envolta por uma vedação, presumo que o local ainda não esteja completamente descontaminado, mas já permite o crescimento em grande quantidade destas flores. È curioso como a Primavera chega cedo a Portugal.
Na terceira imagem, tirada em 9-Mai-2008, outra vez ao fim da tarde, regressamos a um enquadramento semelhante ao da primeira imagem deste post mas corria então uma brisa, a superfície do rio não era um espelho mas reflectia mesmo assim a claridade da protagonista principal desta imagem, a grande nuvem branca destacada no céu azul de Lisboa.
Constato que enquanto o Hole Horror tem maior tendência para as imagens matinais, ou mesmo de madrugada, do rio Tejo, nas minhas o sol ou vai alto ou está quase a pôr-se.
Tiro menos fotografias em Portugal do que fora do país, nomeadamente porque quando ando por fora ando mais acompanhado pela máquina fotográfica. No entanto, com os avanços dos telemóveis que, no meio de tanta nova função, felizmente ainda nos permitem fazer chamadas telefónicas, costumo agora andar sistematicamente acompanhado da câmara fotográfica do telemóvel que, embora de qualidade fraca, sobretudo em situações de pouca luz, permite às vezes guardar imagens de qualidade razoável.
Um dos motivos frequentes dessas imagens de telemóvel é precisamente a margem do rio Tejo, no troço entre a estátua da Catarina de Bragança e a foz do rio Trancão, em boa hora despoluído e regressado à vida normal.
Não me canso de louvar todos os que contribuíram de forma tão eficaz para o bom sucesso da área do Parque das Nações, proporcionando um ambiente extremamente agradável para passeios a pé.
Nesta primeira imagem, tirada em Mar/2007 ao fim da tarde, o rio estava como um espelho, reflectindo um céu basicamente cinzento mas com alguma variedade.
A segunda imagem, tirada em 04-Abr-2008 por volta do meio-dia, mostra um mar de malmequeres campestres sobre uma colina que é ironicamente formada pelos restos da estação de tratamentos de lixo que existia neste local antes da Expo 98. A colina ainda está envolta por uma vedação, presumo que o local ainda não esteja completamente descontaminado, mas já permite o crescimento em grande quantidade destas flores. È curioso como a Primavera chega cedo a Portugal.
Na terceira imagem, tirada em 9-Mai-2008, outra vez ao fim da tarde, regressamos a um enquadramento semelhante ao da primeira imagem deste post mas corria então uma brisa, a superfície do rio não era um espelho mas reflectia mesmo assim a claridade da protagonista principal desta imagem, a grande nuvem branca destacada no céu azul de Lisboa.
Constato que enquanto o Hole Horror tem maior tendência para as imagens matinais, ou mesmo de madrugada, do rio Tejo, nas minhas o sol ou vai alto ou está quase a pôr-se.
2008-11-21
Arte do Islão
O receio da idolatria presente com tanta força no Islão, levou a uma interdição quase absoluta da representação quer de seres humanos quer de animais. No cristianismo ocorreram ideias afins, como por exemplo nos iconoclastas em Bizâncio nos séculos 8 e 9 e, de uma forma mais mitigada, em alguns movimentos protestantes.
Existindo interpretações mais e menos estritas deste interdição (por exemplo, muitas miniaturas da Pérsia representam figuras humanas) a sua existência foi certamente um factor do desenvolvimento de padrões geométricos de grande complexidade e beleza para a pavimentação do plano e também das cúpulas, nomeadamente das mesquitas.
Neste grande plano da cúpula da mesquita e mausoléu do Kaid Bey, nota-se a sofisticação dos motivos geométricos que a ornamentam e que à primeira vista poderão passar despercebidos, dado que o contraste é dado apenas pelo relevo do desenho.
A imagem seguinte estava no site da BBC, mostrando a decoração de uma cúpula do santuário Darb-I Iman, em Isfahan, na Pérsia. O padrão geométrico tem praticamente a estrutura de um quase-cristal, sendo muito semelhante às pavimentações descobertas por Sir Roger Penrose alguns séculos mais tarde.
Ainda no site da BBC descobri este quadro aqui ao lado da artista palestina Laila Shawa, intitulada "Hands od Fatima" e que julgo ser propriedade do British Museum.
É pena que uma ideia boa e prática, proteger o cabelo e a cabeça da areia e do sol, se tenha tornado numa opressão para as mulheres nalguns dos países do mundo islâmico.
Não sei qual o significado do amuleto muito comum nos países islâmicos da "mão de Fátima (filha do profeta Maomé)", uma mão decorada com desenhos e com um olho.
Embora o quadro me transmita uma grande tristeza e melancolia, é de uma grande beleza.
Existindo interpretações mais e menos estritas deste interdição (por exemplo, muitas miniaturas da Pérsia representam figuras humanas) a sua existência foi certamente um factor do desenvolvimento de padrões geométricos de grande complexidade e beleza para a pavimentação do plano e também das cúpulas, nomeadamente das mesquitas.
Neste grande plano da cúpula da mesquita e mausoléu do Kaid Bey, nota-se a sofisticação dos motivos geométricos que a ornamentam e que à primeira vista poderão passar despercebidos, dado que o contraste é dado apenas pelo relevo do desenho.
A imagem seguinte estava no site da BBC, mostrando a decoração de uma cúpula do santuário Darb-I Iman, em Isfahan, na Pérsia. O padrão geométrico tem praticamente a estrutura de um quase-cristal, sendo muito semelhante às pavimentações descobertas por Sir Roger Penrose alguns séculos mais tarde.
Ainda no site da BBC descobri este quadro aqui ao lado da artista palestina Laila Shawa, intitulada "Hands od Fatima" e que julgo ser propriedade do British Museum.
É pena que uma ideia boa e prática, proteger o cabelo e a cabeça da areia e do sol, se tenha tornado numa opressão para as mulheres nalguns dos países do mundo islâmico.
Não sei qual o significado do amuleto muito comum nos países islâmicos da "mão de Fátima (filha do profeta Maomé)", uma mão decorada com desenhos e com um olho.
Embora o quadro me transmita uma grande tristeza e melancolia, é de uma grande beleza.
2008-11-16
Mausoléu e mesquita de Kaid Bey (ou Qaitbay)
No álbum das Maravilhas do Mundo havia muitos cromos com monumentos do Egipto.
Tinham escolhido os muito conhecidos templos de Abu Simbel, de Edfu e de Carnac, a avenida processional de Luxor, os Colossos de Memnon, o Vale dos Reis, o túmulo de Sneferu, a Grande Esfinge de Gizé, as Pirâmides e finalmente o não tão conhecido “Túmulo e Mesquita do Sultão Kaid Bey”.
Aqui à direita tem o cromo respectivo do álbum das maravilhas do mundo. Os textos que acompanhavam os cromos não eram grande coisa (também não tinham muito espaço...)e este não é excepção. O referido Kaid Bey era um Mameluco e reinou de 1468 a 1496. Foi portanto pouco depois da queda de Constantinopla (em 1453) e pouco antes da descoberta do caminho marítimo para a Índia pelos Portugueses (em 1498), que perturbou muito o comércio de longa distância através do mundo árabe.
Andei à procura deste mausoléu no Google Earth, tirei a latitude e longitude do local (N 30º 02’ 37.74”; E 31º 16’ 30”), pedi emprestado um GPS a um amigo, levei comigo algumas impressões de fotos aéreas do Google Earth e acabei por conseguir chegar ao local, com a ajuda do GPS e destes papéis que parecem um mapa do tesouro.
O Mausoléu situa-se num cemitério mas tal não é evidente aos olhos de um ocidental. O que é evidente é que a área está a precisar de muitos cuidados urbanísticos e de melhores acabamentos nos prédios vizinhos, como se constata nesta foto em que a mesquita referida está no centro.
O estado desta rua do Cairo, no caminho para a mesquita, mostra-nos que afinal a Câmara Municipal de Lisboa faz muita coisa. Numa transversal a esta rua havia lixo no chão a toda a largura dessa transversal mas quando ia fotografar houve um habitante da zona que se zangou comigo, transmitindo-me a ideia, mesmo sem eu saber árabe, que não devia fotografar essa parte menos arranjada do seu bairro.
Chegámos finalmente ao nosso objectivo pelo nosso pé, revivendo aquela sensação da infância de termos conseguido ir de A para B sem a tutela de ninguém.
Às vezes acho que a disseminação da língua inglesa por toda a parte tira um bocadinho do mistério que antigamente estava mais presente nas viagens. Claro que conseguir comunicar em inglês torna tudo muito mais fácil mas acho engraçado recorrer à mímica e a alguns desenhos em papel para comunicar, quando o inglês não está disponível. Na esmagadora maioria dos casos tenho encontrado um grande interesse por parte dos interlocutores em tentar compreender a mensagem que lhes estou a tentar transmitir. E é muito agradável ver a expressão de Eureka! quando a mensagem consegue passar. A seguir costuma seguir-se uma explicação na língua local do caminho a seguir, mesmo sabendo-se que o outro não percebe a língua, as pessoas não emudecem, mas os gestos de seguir numa direcção e depois virar à esquerda ou à direita costumam ser suficientes.
O espaço interior da mesquita e do túmulo valiam a visita e destaco esta foto do tecto, que acho que ficou muito bem.
Depois desta visita a um edifício que me parecia algo obscuro, numa envolvente urbana abandonada, constatei que afinal o edifício não era tão obscuro como isso pois consta na nota de uma libra egípcia, conforme se mostra na imagem a seguir:
Tinham escolhido os muito conhecidos templos de Abu Simbel, de Edfu e de Carnac, a avenida processional de Luxor, os Colossos de Memnon, o Vale dos Reis, o túmulo de Sneferu, a Grande Esfinge de Gizé, as Pirâmides e finalmente o não tão conhecido “Túmulo e Mesquita do Sultão Kaid Bey”.
Aqui à direita tem o cromo respectivo do álbum das maravilhas do mundo. Os textos que acompanhavam os cromos não eram grande coisa (também não tinham muito espaço...)e este não é excepção. O referido Kaid Bey era um Mameluco e reinou de 1468 a 1496. Foi portanto pouco depois da queda de Constantinopla (em 1453) e pouco antes da descoberta do caminho marítimo para a Índia pelos Portugueses (em 1498), que perturbou muito o comércio de longa distância através do mundo árabe.
Andei à procura deste mausoléu no Google Earth, tirei a latitude e longitude do local (N 30º 02’ 37.74”; E 31º 16’ 30”), pedi emprestado um GPS a um amigo, levei comigo algumas impressões de fotos aéreas do Google Earth e acabei por conseguir chegar ao local, com a ajuda do GPS e destes papéis que parecem um mapa do tesouro.
O Mausoléu situa-se num cemitério mas tal não é evidente aos olhos de um ocidental. O que é evidente é que a área está a precisar de muitos cuidados urbanísticos e de melhores acabamentos nos prédios vizinhos, como se constata nesta foto em que a mesquita referida está no centro.
O estado desta rua do Cairo, no caminho para a mesquita, mostra-nos que afinal a Câmara Municipal de Lisboa faz muita coisa. Numa transversal a esta rua havia lixo no chão a toda a largura dessa transversal mas quando ia fotografar houve um habitante da zona que se zangou comigo, transmitindo-me a ideia, mesmo sem eu saber árabe, que não devia fotografar essa parte menos arranjada do seu bairro.
Chegámos finalmente ao nosso objectivo pelo nosso pé, revivendo aquela sensação da infância de termos conseguido ir de A para B sem a tutela de ninguém.
Às vezes acho que a disseminação da língua inglesa por toda a parte tira um bocadinho do mistério que antigamente estava mais presente nas viagens. Claro que conseguir comunicar em inglês torna tudo muito mais fácil mas acho engraçado recorrer à mímica e a alguns desenhos em papel para comunicar, quando o inglês não está disponível. Na esmagadora maioria dos casos tenho encontrado um grande interesse por parte dos interlocutores em tentar compreender a mensagem que lhes estou a tentar transmitir. E é muito agradável ver a expressão de Eureka! quando a mensagem consegue passar. A seguir costuma seguir-se uma explicação na língua local do caminho a seguir, mesmo sabendo-se que o outro não percebe a língua, as pessoas não emudecem, mas os gestos de seguir numa direcção e depois virar à esquerda ou à direita costumam ser suficientes.
O espaço interior da mesquita e do túmulo valiam a visita e destaco esta foto do tecto, que acho que ficou muito bem.
Depois desta visita a um edifício que me parecia algo obscuro, numa envolvente urbana abandonada, constatei que afinal o edifício não era tão obscuro como isso pois consta na nota de uma libra egípcia, conforme se mostra na imagem a seguir:
2008-11-15
Cromos
Continuando no lago Bled, mostro agora uma vista mais desafogada do seu ex-libris, a pequena ilha com uma igrejinha com uma torre, num ambiente alpino cheio de montes arborizados e de águas límpidas e tranquilas.
Nesta outra imagem vê-se a ilha com mais pormenor.
A razão da minha deslocação a este sítio tão agradável, aproveitando uma viagem que tive que fazer a Ljubljana, teve a sua origem há décadas e consiste neste “cromo” da colecção “Maravilhas do Mundo”, editado pela Agência Portuguesa de Revistas, com desenhos feitos por Miguel Conde.
Nessa altura ainda existia a Jugoslávia. Acho interessante o uso de desenhos/pinturas em vez de imagens baseadas em fotografias, pois permite muitas vezes apanhar melhor o “espírito” do local/monumento.
Também permite deixar passar preconceitos: neste caso as coberturas das casas na ilha são representadas todas excessivamente vermelhas, incluindo a da própria torre da igreja que, sendo feita de cobre, será castanha escura ou verde conforme o estado de oxidação.
A colecção dividia-se em dois álbuns com os primeiros 125 cromos dedicados às “Maravilhas da Natureza” e os outros 125 dedicados às “Maravilhas criadas pelo Homem”. Os cromos eram vendidos em carteirinhas fechadas de 3 cromos cada. Este processo de compra “no escuro” destinava-se sobretudo a facilitar a socialização, ao criar a necessidade de trocar os cromos repetidos entre os amigos/colegas.
Quando faltavam menos de 30 cromos estes podiam ser encomendados usando um impresso que vinha com a caderneta (álbum), onde se colavam os cromos. Esta colecção está completa. Se faltar algum cromo a algum dos leitores posso digitalizá-lo e enviá-lo por e-mail.
Tenho prestado mais atenção ao conjunto dos monumentos do que ao da Natureza. O critério usado para a selecção tem bastante arbitrariedade mas todas as colecções costumam ter essa característica.
Costumo dizer que quando era pequeno coleccionava os cromos e agora que sou crescido colecciono as viagens aos mesmos. Engraçado como acontecimentos tão distantes no tempo continuam a influenciar as nossas vidas.
Nesta outra imagem vê-se a ilha com mais pormenor.
A razão da minha deslocação a este sítio tão agradável, aproveitando uma viagem que tive que fazer a Ljubljana, teve a sua origem há décadas e consiste neste “cromo” da colecção “Maravilhas do Mundo”, editado pela Agência Portuguesa de Revistas, com desenhos feitos por Miguel Conde.
Nessa altura ainda existia a Jugoslávia. Acho interessante o uso de desenhos/pinturas em vez de imagens baseadas em fotografias, pois permite muitas vezes apanhar melhor o “espírito” do local/monumento.
Também permite deixar passar preconceitos: neste caso as coberturas das casas na ilha são representadas todas excessivamente vermelhas, incluindo a da própria torre da igreja que, sendo feita de cobre, será castanha escura ou verde conforme o estado de oxidação.
A colecção dividia-se em dois álbuns com os primeiros 125 cromos dedicados às “Maravilhas da Natureza” e os outros 125 dedicados às “Maravilhas criadas pelo Homem”. Os cromos eram vendidos em carteirinhas fechadas de 3 cromos cada. Este processo de compra “no escuro” destinava-se sobretudo a facilitar a socialização, ao criar a necessidade de trocar os cromos repetidos entre os amigos/colegas.
Quando faltavam menos de 30 cromos estes podiam ser encomendados usando um impresso que vinha com a caderneta (álbum), onde se colavam os cromos. Esta colecção está completa. Se faltar algum cromo a algum dos leitores posso digitalizá-lo e enviá-lo por e-mail.
Tenho prestado mais atenção ao conjunto dos monumentos do que ao da Natureza. O critério usado para a selecção tem bastante arbitrariedade mas todas as colecções costumam ter essa característica.
Costumo dizer que quando era pequeno coleccionava os cromos e agora que sou crescido colecciono as viagens aos mesmos. Engraçado como acontecimentos tão distantes no tempo continuam a influenciar as nossas vidas.
2008-11-12
M.C.Escher: Três mundos
Este ambiente outonal fez-me lembrar a gravura "Três mundos" de M.C.Escher, em que o artista nos lembra através do título, que o que aparece num mesmo plano na imagem pertence na realidade a três mundos diferentes: o subaquático, onde vive o peixe, a superfície da água, onde flutuam as folhas caídas das árvores, e ainda as imagens reflectidas das árvores que vivem no ar.
A concentração de elementos de vários mundos numa mesma imagem é uma situação explorada com alguma frequência por Escher, como nesta "Poça de água".
Acho que foi a recordação dos "Três mundos" do Escher que me levou a tirar a fotografia seguinte, no lago Bled, na Eslovénia. A foto não pretende ser uma "duplicação" da gravura, foi tão-só uma associação de ideias/imagens.
2008-11-10
A existência como qualidade
Estive uns dias em Hamburgo na semana passada, o tempo estava nublado como julgo ser habitual, mas mesmo assim impressionou-me a pouca luz que havia durante o dia.
Há muito tempo que me interrogo sobre o que quererão dizer quando falam da luz extraordinária que existe na cidade de Lisboa. Estou cada vez mais convencido que, à parte os tons pastel de muitos edifícios, o céu muitas vezes azul, com as sombras nítidas, e os passeios brancos que amplificam a luz natural, a luz de Lisboa é boa simplesmente porque existe em grande quantidade.
Aqui ao lado tem uma foto do passeio ao pé do lago Alster, em tons outonais, e a seguir tenho o negativo estritamente a preto e branco (sem tons cinzentos) de uma árvore de Hamburgo, já sem nenhuma folha.
Prever o futuro com tanta ramificação possível é muito difícil. Este blogue ajuda a compreender melhor as sondagens sobre a opinião pública.
2008-11-07
Barack Obama
Por variadas razões este blog não costuma tratar temas da actualidade, embora seja influenciado por ela. Abro aqui uma excepção para não parecer excessivamente original, ao não me referir a este tema de que toda a gente fala
Depois da alegria e do alívio que constituiu para mim a vitória de Barack Obama nas eleições americanas deixo aqui alguns pensamentos que me ocorreram.
Os sistemas complexos são vulneráveis a grandes catástrofes. Por exemplo o corpo humano, uma maravilha de equilíbrios delicados mas ao mesmo tempo muito robustos, é capaz de sobreviver a enormes adversidades. No entanto, uns poucos miligramas de alguns venenos, bastam para provocar uma reacção em cadeia conduzindo à morte.
Quando o George W. Bush foi eleito (embora com aquele pormenor desagradável dos confettis dos boletins de voto da Florida) eu pensei que a América era uma democracia tão poderosa e robusta que podia dar-se ao luxo de colocar no lugar de presidente uma pessoa muito pouco dotada, um homem sem qualidades. Afinal, nem mesmo a poderosa América consegue evitar problemas gigantescos quando tem um presidente a tomar decisões erradas uma atrás da outra.
A própria Islândia, um país considerado entre os mais ricos do mundo, vê-se em menos de um mês numa situação financeira calamitosa.
Continuo surpreendido com a dificuldade que as sondagens tiveram de prever a vitória de Obama, que foi folgada no número de votos e esmagadora no número de eleitores.
Esta incerteza permanente e esta fragilidade de instituições que nos pareciam sólidas mostra-nos o cuidado que é preciso prestar ao que se passa à nossa volta e a necessidade permanente dos nossos contributos para que uma situação aparentemente boa e sólida não desabe de forma inesperada.
As últimas certezas sólidas que vi foram as dos amanhãs que cantam, do vento que soprava de leste e do horizonte que era vermelho e ultimamente dos mercados omnipotentes e omniscientes.
Como alusão à auspiciosa eleição de Obama deixo aqui uma imagem do "Moongate Garden", um jardim que existe no Smithsonian em Washington DC, inspirado nos jardins de Pequim que rodeiam o Templo do Céu, sendo um entre inúmeros exemplos da abertura do espírito americano às culturas dos outros povos do mundo.
Depois da alegria e do alívio que constituiu para mim a vitória de Barack Obama nas eleições americanas deixo aqui alguns pensamentos que me ocorreram.
Os sistemas complexos são vulneráveis a grandes catástrofes. Por exemplo o corpo humano, uma maravilha de equilíbrios delicados mas ao mesmo tempo muito robustos, é capaz de sobreviver a enormes adversidades. No entanto, uns poucos miligramas de alguns venenos, bastam para provocar uma reacção em cadeia conduzindo à morte.
Quando o George W. Bush foi eleito (embora com aquele pormenor desagradável dos confettis dos boletins de voto da Florida) eu pensei que a América era uma democracia tão poderosa e robusta que podia dar-se ao luxo de colocar no lugar de presidente uma pessoa muito pouco dotada, um homem sem qualidades. Afinal, nem mesmo a poderosa América consegue evitar problemas gigantescos quando tem um presidente a tomar decisões erradas uma atrás da outra.
A própria Islândia, um país considerado entre os mais ricos do mundo, vê-se em menos de um mês numa situação financeira calamitosa.
Continuo surpreendido com a dificuldade que as sondagens tiveram de prever a vitória de Obama, que foi folgada no número de votos e esmagadora no número de eleitores.
Esta incerteza permanente e esta fragilidade de instituições que nos pareciam sólidas mostra-nos o cuidado que é preciso prestar ao que se passa à nossa volta e a necessidade permanente dos nossos contributos para que uma situação aparentemente boa e sólida não desabe de forma inesperada.
As últimas certezas sólidas que vi foram as dos amanhãs que cantam, do vento que soprava de leste e do horizonte que era vermelho e ultimamente dos mercados omnipotentes e omniscientes.
Como alusão à auspiciosa eleição de Obama deixo aqui uma imagem do "Moongate Garden", um jardim que existe no Smithsonian em Washington DC, inspirado nos jardins de Pequim que rodeiam o Templo do Céu, sendo um entre inúmeros exemplos da abertura do espírito americano às culturas dos outros povos do mundo.
2008-11-03
Montras no Cairo e em Argel
Fiz um elogio da cópia para ser diferente da actual maioria que elogia a originalidade. Elogiei a cópia para ser original, para não ser uma cópia. A igualdade e a diferença criam tensão. Por um lado gostamos de ser como os outros, fazer parte de uma comunidade, por outro gostamos da diferença pois sem ela perdemos a nossa identidade.
A roupa serve os dois propósitos. Em casos extremos usamos uniformes para que pessoas diferentes pareçam todas iguais. Noutros casos introduzimos grandes variações nos vestuários para que pessoas parecidas fiquem diferentes. Num passeio pelo Cairo surpreenderam-me algumas montras que passo a mostrar.
Peço desculpa pelos reflexos nos vidros que não consegui evitar.
A primeira montra parece-me ser para a classe média. Todos os vestidos são até aos pés, na forma de túnica larga, mangas compridas ou curtas, decotes mais ou menos pronunciados. Existe uma quantidade excessiva de vestidos em exposição, o objectivo parece ser aproveitar todo o espaço de exposição disponível, dispondo aos vestidos em aproximadamente dois andares. É curiosa a supressão sistemática da cabeça em todos os manequins. Não sei se será uma ortodoxia islâmica se uma maior focagem nos vestidos. Com uma concentração tão grande de vestidos a presença de cabeças nos manequins poderia ser aqui um elemento de perturbação.
A segunda montra seria talvez para a classe média alta pois os vestidos têm bordados bastante mais elaborados que na montra anterior. Os manequins ou não têm cabeça ou então trazem todos um véu a combinar com o vestido. É patente a pressão social para usar o véu. Pressão essa bem sucedida pois são raras as mulheres que andam nas ruas do Cairo sem véu.
Nesta terceira imagem duma montra com roupa de criança constata-se que todas os manequins de crianças têm direito a ter cabeça. No entanto, como usam lado a lado muitos manequins idênticos , a cena adquire um tom estranho e não consigo prestar atenção à roupa deste exército de manequins risonhos. Curioso que os manequins das meninas tenham todos imitação de cabelo, com feixes de fibras, mas são todas loiras. Será para parecerem menos reais?
A quarta montra, também com roupa de criança, oferece uma variante da terceira, dando uma sensação, se possível, ainda mais irreal. Acho que ficaria muito bem como uma instalação num museu de arte contemporânea. Presumo que também poderia ser usado como exemplo do que não se deve fazer numa montra, num curso sobre desenho de montras no Ocidente.
Passando agora para Argel, achei interessante esta loja de vestidos para ocasiões formais. Os vestidos deixam ver uma superfície maior da pele, embora esta liberalidade seja por vezes mitigada pelo uso de blusas de algodão justas, muitas vezes de mangas compridas, por baixo dos vestidos. Essa situação era muito frequente no Cairo onde se viam vestidos ou tops de alças usados em conjunto com essas blusas. Aqui não sentiram a necessidade nem de suprimir a cabeça das mulheres nem de lhes pôr um lenço. Notar que os manequins não têm fibras a imitar cabelo e que o penteado está à vista. Como usam muitos manequins num espaço pequeno, acabam por aparecer as caras iguais lado a lado, replicando o efeito das lojas de roupa para criança do Cairo.
Na mesma loja, do outro lado, há uma concentração maior de bordados com fio dourado. Não será bem o gosto ocidental mas é interessante ver uma montra que seria difícil encontrar em Lisboa ou em qualquer cidade da Europa. Com a globalização cada sítio ficou com maior variedade mas mais parecido ao do vizinho. Aqui, ainda não é o caso.
A roupa serve os dois propósitos. Em casos extremos usamos uniformes para que pessoas diferentes pareçam todas iguais. Noutros casos introduzimos grandes variações nos vestuários para que pessoas parecidas fiquem diferentes. Num passeio pelo Cairo surpreenderam-me algumas montras que passo a mostrar.
Peço desculpa pelos reflexos nos vidros que não consegui evitar.
A primeira montra parece-me ser para a classe média. Todos os vestidos são até aos pés, na forma de túnica larga, mangas compridas ou curtas, decotes mais ou menos pronunciados. Existe uma quantidade excessiva de vestidos em exposição, o objectivo parece ser aproveitar todo o espaço de exposição disponível, dispondo aos vestidos em aproximadamente dois andares. É curiosa a supressão sistemática da cabeça em todos os manequins. Não sei se será uma ortodoxia islâmica se uma maior focagem nos vestidos. Com uma concentração tão grande de vestidos a presença de cabeças nos manequins poderia ser aqui um elemento de perturbação.
A segunda montra seria talvez para a classe média alta pois os vestidos têm bordados bastante mais elaborados que na montra anterior. Os manequins ou não têm cabeça ou então trazem todos um véu a combinar com o vestido. É patente a pressão social para usar o véu. Pressão essa bem sucedida pois são raras as mulheres que andam nas ruas do Cairo sem véu.
Nesta terceira imagem duma montra com roupa de criança constata-se que todas os manequins de crianças têm direito a ter cabeça. No entanto, como usam lado a lado muitos manequins idênticos , a cena adquire um tom estranho e não consigo prestar atenção à roupa deste exército de manequins risonhos. Curioso que os manequins das meninas tenham todos imitação de cabelo, com feixes de fibras, mas são todas loiras. Será para parecerem menos reais?
A quarta montra, também com roupa de criança, oferece uma variante da terceira, dando uma sensação, se possível, ainda mais irreal. Acho que ficaria muito bem como uma instalação num museu de arte contemporânea. Presumo que também poderia ser usado como exemplo do que não se deve fazer numa montra, num curso sobre desenho de montras no Ocidente.
Passando agora para Argel, achei interessante esta loja de vestidos para ocasiões formais. Os vestidos deixam ver uma superfície maior da pele, embora esta liberalidade seja por vezes mitigada pelo uso de blusas de algodão justas, muitas vezes de mangas compridas, por baixo dos vestidos. Essa situação era muito frequente no Cairo onde se viam vestidos ou tops de alças usados em conjunto com essas blusas. Aqui não sentiram a necessidade nem de suprimir a cabeça das mulheres nem de lhes pôr um lenço. Notar que os manequins não têm fibras a imitar cabelo e que o penteado está à vista. Como usam muitos manequins num espaço pequeno, acabam por aparecer as caras iguais lado a lado, replicando o efeito das lojas de roupa para criança do Cairo.
Na mesma loja, do outro lado, há uma concentração maior de bordados com fio dourado. Não será bem o gosto ocidental mas é interessante ver uma montra que seria difícil encontrar em Lisboa ou em qualquer cidade da Europa. Com a globalização cada sítio ficou com maior variedade mas mais parecido ao do vizinho. Aqui, ainda não é o caso.
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