Julgo que esta antinomia entre os seres humanos por um lado e a Natureza por outro, muito presente na cultura ocidental, resulta dum tomar de consciência muito vivo da singularidade da nossa consciência, ao ponto de nos destacar, como seres humanos, da Natureza de que fazemos parte. A Bíblia cristaliza essa dicotomia entre o que é humano e o que é da Natureza.
Também o fazem os ecologistas mais radicais que têm uma visão do mundo que parece um negativo da visão bíblica: enquanto aí os seres humanos tinham o direito de usar e de abusar de todos os outros seres vivos, na deriva fundamentalista da ecologia o mundo ideal não teria seres humanos, só assim ficando verdadeiramente “Natural”.
Gostando muito de geometria e de formas perfeitas (o tal mundo platónico), não tenho contudo grande entusiasmo pelos jardins formais franceses, com os seus arranjos geométricos e a sua poda violenta das árvores e arbustos, como neste exemplo do Jardim do Retiro em Madrid.
Aprecio mais o jardim (ou talvez parque) tipo inglês que, na minha ingenuidade, cheguei a pensar que correspondia a um pedacinho da natureza que não precisava da intervenção humana, como nesta foto antiga do Hyde Park em Londres. Presumo que precisará de menos trabalho de jardinagem que um jardim francês, mas manter aqueles lindos relvados sem ervas de outras espécies requer certamente alguma intervenção.
Lisboa não terá grande abundância de zonas verdes, às vezes penso que não farão tanta falta assim, com a tendência actual de ao menor raio de sol ir toda a gente para a praia, mas existem jardins de qualidade mundial como, por exemplo, o jardim da Gulbenkian e o do alto do parque Eduardo VII, ambos desenhados pelo Arqº Ribeiro Telles.
Os espaços ajardinados recentemente à beira-rio, no Parque das Nações são também de grande qualidade, gosto muito das pequenas colinas artificiais que protegem do vento e fazem lembrar ondas, bem como da forma como estes espaços ajardinados se articulam com o rio.
Um exemplo dessa ligação bem sucedida é este conjunto de tufos de plumas, criando alguma separação entre o jardim e o rio mas evitando uma barreira opaca. Se fosse há uns anos não teria reparado na colocação cuidadosa destas plantas.
Gosto também de ver coisas com o céu no fundo, motivo porque noutro dia tinha destacado um dos tufos da imagem anterior.
Com o encurtar dos dias o meu passeio quase diário ocorreu uma vez após o sol posto, já no lusco-fusco, estando a lua cheia a nascer. Tirei assim esta foto ao conjunto de tufos de plumas.
Depois fotografei o reflexo da lua sobre o rio. Dado que ainda não controlo bem o telemóvel a imagem ficou com muito grão, o pormenor vermelho é uma bóia a sinalizar um canal de navegação no rio e a sombra na esteira luminosa uma ave aquática. O grão da imagem dá-lhe um aspecto “pointilliste”
Deixei para o fim a imagem de que gostei mais, com o mato da margem em tons outonais, três bandas horizontais com cores diferentes, “ligadas” pelo luar.