Embora uma parte importante da sociedade em que vivemos se sinta bastante feliz em apregoar aos quatro ventos que as nossas condições de vida se estão constantemente a degradar, tal não corresponde ao que se pode verificar. Por exemplo, até nos casamentos se constata que a internacionalização, antes reservada quase exclusivamente à grande nobreza, está hoje largamente acessivel à classe média.
A facilidade com que actualmente se viajam milhares de quilómetros e os milhões de pessoas que o podem fazer com facilidade, o preço reduzido das chamadas telefónicas internacionais, quando comparado com o custo de há uns anos atrás, a existência da internet facilitando todo o tipo de contactos entre outros factores, têm aumentado a probabilidade de uniões entre pessoas de nacionalidades diferentes, permitindo ao mesmo tempo que o elemento que foi morar para fora do seu país mantenha uma ligação forte ao seu país de origem.
Neste contexto a União Europeia é uma necessidade cada vez mais imperiosa, cuja construção tem que ser aprofundada e que sofreu agora um revés com o referendo da Irlanda.
Quando eu era mais jovem lembro-me de as pessoas de esquerda serem muito contra os referendos, que diziam então ser um método não democrático usado pela direita para "impor" os seus pontos de vista. Talvez tal se devesse à memória de que a Constituição Portuguesa de 1933, que instituiu o Estado Novo, tinha sido aprovada por referendo.
Actualmente noto um entusiasmo por referendos, de preferência sucessivos, tendo todos a possibilidade anular uma dada iniciativa europeia. A análise feita na klepsydra parece-me mostrar bem a vantagem que os opositores da construção europeia pretendem obter, a partir da realização sucessiva de referendos em vários países.
Essa análise peca quanto a mim por alegar que os políticos ignoraram os perigos dos referendos. Julgo que já estavam bastante conscientes dos riscos que correriam e foi por isso que apenas houve referendo no único país em que o referendo era legalmente inevitável.
Aprecio a energia e a qualidade dos argumentos com que a Helena e o Lutz, membros de uniões luso-alemãs, defendem a União Europeia. Já as propostas que fazem de Assembleias Constituintes parecem-me um pouco "far-fetched". Eu alinharia nelas mas parece-me que será provavelmente mais fácil continuar com as ratificações do Tratado de Lisboa e entretanto encontrar uma forma de ultrapassar o problema criado pela Irlanda.
Também não seria má ideia que os irlandeses alterassem a constituição deles para deixarem de ter esta obrigação constante de fazer referendos que atrapalham toda a Europa.
Entretanto, depois deste parêntesis sobre referendos e sobre três casais luso-alemães (os dos bloggers e o do Imperador mais a Infanta) regresso às pinturas italianas dos tempos em que " ... art was something you had to take a ship to Italy to see", citando Susan Neiman no seu magnífico último livro "Moral Clarity".
Apresento assim a pintura de Perugino, na parede da Capela Sistina, em que Cristo entrega as chaves do Reino dos Céus a S.Pedro. Eu estava a pensar neste quadro quando afirmei num post anterior que "A Ecologia não tinha ainda ganho a importância actual e o que importava verdadeiramente eram os seres humanos, que apareciam em primeiro plano, muitas vezes num ambiente completamente urbano de uma praça, depois umas obras arquitectónicas e lá para o fundo a paisagem com umas árvores mais ou menos realistas."
Reparo ainda que já nessa altura, mesmo quando ocorriam eventos importantes como este mostrado na imagem, alguns dos dignitários próximos parecem distraídos e muita gente está a correr e a brincar, completamente a leste do portentoso evento.
A seguir mostro as árvores do fundo com mais destaque. A minha preferida é a do lado direito da figura da esquerda mas as outras também são bonitas.
1 comentário:
Eu já tinha dito que duvido que o texto escrito pela assembleia constituinte fosse muito diferente, nos seus conteúdos, do texto do Tratado.
O post do Klepsydra é muito interessante. Não percebi aquelas contas do 90% de probabilidade em todos os países, mas deve ser problema meu - sempre tive dificuldades em perceber as lógicas da estatística.
Eu não tenho problema com a realização de referendos, desde que:
- as consequências atinjam o país que o realiza, e não os outros (no caso, o referendo irlandês devia ter perguntado: "quero que o meu país faça parte deste projecto?")
- as pessoas saibam o que está em causa
- (hoje estou a jogar alto) os políticos que fazem a campanha da desinformação sejam seriamente penalizados
Pelo que no entretanto percebi, o problema é que não há um plano B para o caso de algum país não aprovar. Depois da aprovação do Tratado é fácil sair da União, mas antes dela não é possível. Mais valia aprovar o tratado automaticamente, e fazer referendos em cada país, de preferência todos no mesmo dia, como propõe o Klepsydra (boa análise!), a perguntar se querem ficar ou se querem sair no dia 2 de Janeiro de 2009.
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