Ao longo do tempo vamos ouvindo falar em Portugal com bastante frequência dos presidentes e dos primeiro-ministros de diversos países designadamente dos nossos vizinhos europeus, dos Estados Unidos da América e da U.R.S.S e depois da Rússia, dos de língua oficial portuguesa, do Médio Oriente, da União Indiana e também da República Popular da China.
Dada a história turbulenta da China nos séculos XIX e XX
conforme referi aqui a organização do país não se estabilizou em 1949, data da proclamação da República Popular da China por Mao Zedong.
Depois dum início de reconstrução dum país devastado por uma guerra civil longa e por invasões estrangeiras o país teve ainda que suportar a
Revolução Cultural (1966-1976) que referi aqui.
Durante esse período o líder supremo do país continuou a ser Mao Zedong que lançou a Revolução Cultural para recuperar o poder que deixara de ser tão absoluto.
Não sei se nessa altura já existia a figura política de “Presidente da República Popular da China”, desde Jiang Zemin o Presidente acumula este cargo com o de secretário-geral do PCC (Partido Comunista Chinês) e com a chefia das forças armadas chinesas
Tenho mantido interesse no que se passa na China mas, dada a ausência de obrigações profissionais ou pessoais, mantenho-me um curioso do que se passa num país com 1/5 da população mundial e que foi a civilização mais avançada do planeta durante muitos séculos.
Num breve curso que frequentei de introdução à língua chinesa a professora emprestou um livro com os pensamentos do presidente Xi Jinping. Na altura dei uma vista de olhos pelo livro e gostei de duas páginas ao ponto de as fotografar para memória futura, talvez mesmo para as mostrar neste blogue o que passo a fazer
Nestas páginas o autor procura as razões de a ciência e a tecnologia chinesas se terem atrasado em relação às ocidentais na transição da dinastia Ming para a dinastia Qing, referindo por exemplo que um mapa encomendado pelo imperador chinês aos missionários jesuítas acabou fechado no palácio imperial, enquanto era publicado na Europa, “fazendo com que, durante um período relativamente longo, o Ocidente conhecesse a geografia da China melhor do que os próprios chineses”.
E continua dizendo que esta história “demonstra que a ciência e a tecnologia devem combinar-se com o desenvolvimento social”, não basta estudar é preciso remover entraves institucionais existentes para fazer uma “transição para um crescimento com inovação”, título aliás do capítulo onde estão estas páginas, num livro intitulado “A Governança da China”.
Andei à procura do livro na net e constatei que está disponível na Amazon.co.uk na versão em português do Brasil bem como na Amazon do Brasil. Curiosamente não consta na Wook
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Isto faz-me lembrar um artigo longo (cerca de 8000 palavras, 12 páginas A4) que li na revista New Yorker, “
Making China Great Again”, com o subtítulo “As Donald Trump surrenders America’s global commitments, Xi Jinping is learning to pick up the pieces” pelo repórter Evan Osnos.
Nele se fala dos ambiciosos investimentos no exterior, numa altura em que os E.U.A se retraem. A China, além dos numerosos investimentos em África, onde vai buscar as matérias primas que antigamente se dirigiam às fábricas europeias e americanas, lançou o programa “
One belt, one road initiative”, onde se falam de 6 caminhos terrestres e um marítimo, que provavelmente se bifurcará em 2 quando o Árctico estiver navegável a maior parte do ano.
Nele a certa altura encontrei este texto
«
Across Asia, there is wariness of China’s intentions. Under the Belt and Road Initiative, it has loaned so much money to its neighbors that critics liken the debt to a form of imperialism. When Sri Lanka couldn’t repay loans on a deepwater port, China took majority ownership of the project, stirring protests about interference in Sri Lanka’s sovereignty. China also has a reputation for taking punitive economic action when a smaller country offends its politics. After the Nobel Prize was awarded to the dissident Liu Xiaobo, China stopped trade talks with Norway for nearly seven years; during a territorial dispute with the Philippines, China cut off banana imports; in a dispute with South Korea, it restricted tourism and closed Korean discount stores.
»
em que achei curiosa a referência à China ter emprestado tanto dinheiro que os críticos associam as dívidas a uma forma de imperialismo. Por exemplo quando o Sri Lanka não conseguiu pagar as dívidas contraídas para um porto de águas profundas a China tomou posse da maior parte do projecto.
Não me parece que a China seja original nesta área. Todas as potências dominantes emprestaram em excesso a países imprudentes criando dependência. Em tempos mais remotos os credores obtinham concessões de exploração de riquezas minerais, como por exemplo o petróleo, para cobrarem as dívidas, depois passaram a convertê-los em protectorados, como por exemplo o Egipto, com o mesmo fim, ultimamente o FMI e a União Europeia pressionam os Estados devedores a privatizar as empresas públicas que normalmente são vendidas a companhias com sede fora do país devedor dado que os capitalistas deste país não têm capital suficiente para as adquirirem.
Lembro-me da última fatia da privatização da EDP em que houve desilusão de alguns alemães que estavam à espera que essa parte fosse comprada por uma companhia alemã quando acabou vendida à Three Gorges, uma companhia propriedade do Estado Chinês. Antigamente os potenciais compradores eram todos de países ocidentais ricos, agora também é preciso contar com os chineses, com os árabes do petróleo, com os indianos, etc.
Este post fez-me ir ver à Wikipedia os sucessivos presidentes da RPC que apresento na tabela a seguir
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Nome
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(Nasc.- Morte)
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Presidente (Start-End) |
7º
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Xi Jinping
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(1953- )
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(Mar2013- |
6º
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Hu Jintao
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(1942- )
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(Mar2003- Mar2013) |
5º
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Jiang Zemin
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(1926- )
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(Mar1993- Mar2003) |
4º
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Yang Shangkun
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(1907-1998)
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(Abr1988-Mar1993) Repressão Tiananmen em Jun1989 |
3º
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Li Xiannian
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(1909-1992)
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(Jun1983-Abr1988) |
2º
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Liu Shaoqi
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(1898-1969)
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(1959-1968) Preso de 1967 até à morte |
1º
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Mao Zedong
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(1893-1976)
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(Set1954-Abr1959) Revolução Cultural 1966-1976 |
Deng Xiaoping (1904-1997), Chefe do CC do PCC (1982-1987), das Forças Armadas (1981-Nov1989), não foi presidente, tendo por isso ficado fora da tabela, mas foi a figura politicamente mais importante da R.P.C. após a morte de Mao.
Noto que os 3 últimos Xi Jinping, Hu Jintao e Jiang Zemin foram os mais citados nos media ocidentais, pessoalmente reconheço a imagem de Xi Jinping e de Jiang Zemin, curiosamente deste último ficou-me a memória de ter visitado os E.U.A.. Vi
aqui a história das visitas de estado de personalidades chinesas aos E.U.A. enquanto
aqui as visitas de presidentes americanos à R.P.C. .
A importância de Mao Zedong é óbvia, em 2009 um guia turístico chinês informou-nos que se considerava actualmente que 70% das acções de Mao foram positivas enquanto 30% teriam sido negativas. No entanto num artigo do Economist citado na Wikipédia aparece:
«
“Had Mao died in 1956, his achievements would have been immortal. Had he died in 1966, he would still have been a great man but flawed. But he died in 1976. Alas, what can one say?” That was how Chen Yun, for decades one of China's senior Communist leaders, tried to summarise the complex historical legacy of Mao Zedong.
»
Lembro-me de ter ouvido falar de Liu Shaoqi, como um renegado durante a Revolução Cultural, e como vítima uns anos depois. Dos 3º e o 4º presidentes não se ouviu falar muito, nessa altura a figura mais importante era Deng Xiaoping, que iniciou a política “um país dois sistemas” dando origem ao impressionante crescimento da ecomomia da R.P.C.
As primeiras grandes aquisições chinesas em Portugal foram:
- Three Gorges (companhia estatal da China) comprou 21,35% da EDP em Dez2011
- State Grid (companhia estatal da China) comprou 25% da REN em Mai2012
constatando-se na tabela acima que foram feitas durante a presidência de Hu Jintao, um presidente discreto.
Recentemente a instituição chinesa competente para essa decisão aboliu o limite de dois mandatos sucessivos para o cargo de presidente da R.P.C.
A força das sociedades altamente hierarquizadas como a chinesa reside na rapidez com que são executadas as boas decisões tomadas por líderes competentes. A sua fraqueza consiste na rapidez com que são executadas as más decisões tomadas por líderes incompetentes.
Considerando o enorme peso que representa a condução dum país com a China, esta decisão de prescindir da limitação de dois mandatos parece-me muito imprudente. Custa acreditar que o país não consiga encontrar um líder excelente a cada 10 anos, precisando de continuar a depender dum líder que vai envelhecendo.