Para um citadino como eu a natureza aparece mais através dos filmes de documentário na TV e de quadros famosos de paisagens do que com o contacto visual directo, situação um pouco minorada recentemente com os meus passeios diários pelo bairro dos Olivais.
Mesmo assim já tenho tido contactos visuais directos com papoilas em passagens esporádicas pelos campos, é difícil não reparar no vermelho esfuziante das papoilas num campo quando elas estão presentes.
Por maioria de razão as papoilas não passam despercebidas (causam facilmente impressões aos impressionistas) aos pintores como, por exemplo, o Claude Monet neste quadro intitulado "Coquelicots, la promenade" que fui buscar à wikipédia aqui (e a que aumentei ligeiramente o contraste):
pintado em 1873 e actualmente no museu d'Orsay em Paris. Neste sítio referem muitas outras pinturas com papoilas ainda de Monet.
Encontro muito ritmo na palavra "Coquelicot" que sendo "papoila" em francês não passa duma onomatopeia para "cocorico", o canto do galo cuja crista tem a mesma cor das papoilas comuns, as vermelhas.
Van Gogh também pintou Campos de papoilas como se vê a seguir
e Klimt em vários quadros como neste (que fui buscar aqui)
de que apresento um detalhe com a cor em melhor estado (daqui)
Este quadro do Klimt foi pintado em em 1907 e chama-se Mohnwiese. Com a minha ignorância de alemão fui ver no Google tradutor qual seria a tradução para português (que estava ausente) ou para inglês que tão pouco existia. Suponho que apaguei a última parte da palavra (wiese) constatando que Mohn queria dizer "papoila". Vi depois que "wiese" queria dizer "prado".
Fiquei surpreendido do Google Tradutor ser incapaz de aproveitar o hábito, que julgo frequente na língua alemã, de formar palavras novas por agregação simples de palavras existentes. Em tempos li o artigo interessantíssimo "The Man Who Would Teach Machines to Think" de James Somers na revista The Atlantic sobre Douglas Hofstadter, Inteligência Artificial (e tradução automática) de que cito:
«...
Josh Estelle, a software engineer on Google Translate, which is based on the same principles as Candide and is now the world’s leading machine-translation system, explains, “you can take one of those simple machine-learning algorithms that you learned about in the first few weeks of an AI class, an algorithm that academia has given up on, that’s not seen as useful—but when you go from 10,000 training examples to 10 billion training examples, it all starts to work. Data trumps everything.”
The technique is so effective that the Google Translate team can be made up of people who don’t speak most of the languages their application translates. “It’s a bang-for-your-buck argument,” Estelle says. “You probably want to hire more engineers instead” of native speakers. Engineering is what counts in a world where translation is an exercise in data-mining at a massive scale.
...»
Mas regressando às papoilas notei noutro quadro do Klimt, "O Beijo" que na base do amoroso casal tem um prado cheio de flores a que eu não tinha dado a devida atenção. Fui buscar a reprodução seguinte à Wikipédia aqui:
Constatei que no poster que tenho em casa, com uma reprodução deste quadro e que muito aprecio por ter os dourados impressos como no original com um brilho metálico em vez do amarelo mais comum das outras reproduções, cortaram duas bandas laterais verticais, diminuindo muito a extensão do prado do lado esquerdo. Vejo umas tantas flores vermelhas que serão provavelmente referências a papoilas, a flor que também representa o amor no ramo do dia da espiga.
Voltando agora aos prados dos Olivais, vi no outro dia uma papoila,
o que não dá para pintar um campo de papoilas. No próximo post revelarei a minha conjectura sobre a baixa frequência de papoilas nos prados dos Olivais.
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