Enquanto aguardo a ver se o Estado português entra ou não em incumprimento da dívida, aprovando (ou não) uma lei em que se recusa a cumprir os compromissos legalmente assumidos perante os pensionistas da função pública, veio-me a ideia de ir para o deserto, meditar e eventualmente pregar.
Numa das viagens que fiz à Grécia reparei que em muitas das igrejas ortodoxas que visitei aparecia uma imagem de uma mulher que era quase só pele e osso, agora dir-se-ia anoréctica. A auréola à volta da cabeça indicava ser uma santa e julgo que tomei nota de inscrições dizendo Hagia Maria ou Saint Mary, em conjunto talvez com uma referência ao Egipto. Já não me recordo como a localizei, provavelmente foi com o Google e a Wikipédia, que identifiquei a
Santa Maria Egípcia.
A imagem acima seria provavelmente uma das que vi nas igrejas, na maior parte dos casos a representação dos motivos na arte bizantina é muito estilizada, curiosas as costelas da santa bem como os abdominais, mostrando a ausência de qualquer adiposidade. O ombro tem uma forma quase esférica, as pernas são finíssimas e os pés desproporcionadamente pequenos. No meio do deserto corre um curso de água, aparecendo também uns arbustos raquíticos e uns montes, deviam fazer parte do cenário da história em que o santo Zosimus encontrou a Maria toda nua a vaguear e lhe cedeu uma capa para se cobrir.
Nesta outra imagem, do encontro de Zosimus e Maria aparecem os mesmos motivos que referi anteriormente mas a representação é muito mais realista, embora continue a ser estilizada. Parece-me que será uma imagem mais recente do que a primeira.
Tenho uma grande dificuldade em ordenar por data de execução as diversas imagens da Maria Egípcia que me trouxe o Google Images. Esta a seguir parece-me situar-se entre a primeira e a segunda imagem que apresentei, com o ombro esférico, as mãos mais estilizadas do que na 2ª imagem bem como as sombras da cara.
A seguir a esta imagem coloco esta, sobretudo pelo penteado que me parece mais contemporâneo e um maior recato na apresentação do corpo nu que agora está quase todo coberto
Para finalizar mostro esta versão com um cabelo à hippie, uma cruz que cruza o braço numa simetria perfeita, em que as costelas já estão ocultas pela roupa que passou duma capa simples para um vetido com um drapeado que parece alta costura moderna, com um decote de grande modéstia e um braço desnudo mas com uma cava que cobre parcialmente o ombro. Diria que se trata também de uma imagem contemporânea.
Segundo a wikipédia esta santa viveu de 344 a 421. Como a queda de Roma ocorreu em 476, a santa viveu num tempo de declínio do império, o que poderá contribuir para explicar este recolhimento no deserto desta santa e de mais vários eremitas.
Talvez estivessem fartos dos disparates dos políticos de então e da incapacidade do império se reformar.