A propósito do ultimo post o Jaime Sanchiz observou num comentário que os Jesuítas foram expulsos de Portugal no ano 1759, mas também nos anos de 1834 e de 1910, perguntando se as consequências para o sistema educativo português nessas duas datas adicionais teriam sido semelhantes à primeira.
Responder a esta pergunta faz-me lembrar o Gotlib quando dizia na Rubrique-à-Brac que gostava sempre de partilhar a sua ignorância com os seus leitores, que é o que vou passar a fazer.
É comum dizer-se em Portugal que os Jesuítas foram expulsos duas vezes, pelo Marquês de Pombal e pela Primeira República, esta última fortemente anti-clerical.
Julgo que a expulsão de 1834 não costuma ser incluída porque não foi dirigida especialmente aos Jesuítas mas às ordens religiosas em geral, na sequência da vitória de D.Pedro, rei liberal, na guerra contra o seu irmão D.Miguel que pretendia o trono e governar de forma absolutista. As ordens religiosas tinham apoiado D.Miguel contra D.Pedro, de forma suficientemente forte para serem extintas quando a guerra acabou.
Mesmo assim essa extinção maciça aplicou-se directamente apenas aos frades, tendo as freiras sido deixadas dentro dos seus conventos, apenas impedidas de admitirem mais noviças, o que levou a população conventual a uma extinção por via biológica. Este tratamento especial das freiras parece-me uma medida sensata pois seria muito difícil reintegrar na sociedade um conjunto de freiras que tinham ido para ao convento mais por dificuldade em se casarem (por falta de dote ou por outros costumes sociais) do que por vocação religiosa. Quer a vocação religiosa estivesse presente ou ausente existiria uma grande dificuldade em se casarem e portanto em se integrarem na sociedade laica, pois a integração das mulheres na sociedade se fazia então predominantemente através do casamento.
Fui buscar estas informações sobre a extinção das ordens religiosas à Wikipédia mas constatei depois que vinham da
Agência Ecclesia, daqui.
Entretanto fui ver a História de Portugal do Oliveira Marques mas ele dedica pouco texto a este evento da extinção das Ordens Religiosas em Portugal em 1834. Reparei numa referência a uma maciça transferência de propriedades, dos religiosos para os burgueses que as compraram nos leilões. Vi contudo numerosas referências a crises económicas e financeiras, parece ser uma constante da nossa História, viver na periferia na Europa torna o desenvolvimento mais difícil.
Quanto aos
Jesuítas tenho dificuldade em compreender a obsessão que a ordem tem pela obediência, designadamente através da expressão “obedecer como um cadáver”, imagem que me repugna, os cadáveres são seres sem ânimo nem livre-arbítrio, claramente não humanos. O
Lutz tem uma carta terrível do S. Inácio de Loyola
que refere neste post. Claro que foi uma ordem religiosa que nasceu para combater a Reforma, donde alguma necessidade de disciplina mas estas regras parecem-me muito exageradas. Na interpretação mais benévola as regras seriam uma espécie de ”sound-bytes” da época, ou figuras de retórica. Continuando a partilhar a minha ignorância, parece-me um pecado grave uma pessoa religiosa prescindir do livre-arbítrio, que é para ela um dom de Deus. É uma tentação recorrente, e um assunto também recorrente neste blogue, de que
falei em vários posts.
Neste sítio tem um resumo da presença dos “
Jesuítas em Portugal”. Nele se constata que após a expulsão de 1910 os Jesuítas estabeleceram um colégio predominantemente para alunos portugueses em La Guardia, na margem espanhola do rio Minho. Conheci uma pessoa do Porto que estudou algum tempo lá em regime de internato, queixava-se do frio e de ter que estar longe da família.
Mas tenho respeito por vários Jesuítas, designadamente pelo
Matteo Ricci que viveu muito tempo na China, construindo pontes entre as culturas chinesa e europeia, falecendo em Pequim onde está o seu túmulo e pelo
Teilhard de Chardin que tentou conciliar a teologia católica com as teorias de Darwin. Com a tendência para o trabalho missionário os Jesuítas têm uma tendência acentuada para morrer longe da sua terra natal, é possivelmente o que vai acontecer ao actual papa argentino, que escolheu o nome “Francisco” em homenagem a S. Francisco de Assis. Foi também o que aconteceu a S. Francisco Xavier que tem o túmulo (suponho que de prata, com muitas janelinhas) na velha Goa, a poucos kilómetros de Pangim (ou Panaji), a capital do Estado da Índia e de que deixo aqui a imagem (slide de 1990, um bocado desfocado, posteriormente digitalizado) com que finalizo este post.