2012-08-30
2012-08-27
O fim do(s) trabalho(s) - 2
Estando actualmente em férias parece-me apropriado continuar a falar sobre o fim do trabalho. Num ensaio mais sério ter-se-ia que começar por definir melhor o conceito de "trabalho" mas aqui será definido simplesmente como uma actividade remunerada.
Custa-me a acreditar na tese de Jeremy Rifkin, expressa no livro "The End of Work" que referi em post anterior, de que o trabalho estaria em vias de extinção. A remuneração quando legítima de uma actividade corresponde a uma das formas existentes de manifestação de apreço da comunidade ou de seus representantes por essa actividade do trabalhador.
Seria estranho que a sociedade prescindisse num futuro próximo de qualquer forma de pressão sobre os seus membros para orientar a sua actividade. Mas à medida que aumenta a eficácia com que se conseguem obter os meios necessários a uma subsistência considerada aceitável em cada época, tem-se assistido a uma tendência para um menor tempo de trabalho ou, pelo menos, para uma menor penosidade do trabalho. Tentar inverter essa tendência geral representa uma resistência à mudança, compreensível quando a parte mais retrógrada da classe dominante consegue aceder ao poder, como acontece actualmente em Portugal.
Diria ainda que as crises económicas acompanhadas de grande desemprego, como a que vivemos actualmente, mostram uma incapacidade da classe dominante desempenhar o seu papel. Embora a criação de um exército de desempregados aumente o seu poder negocial na definição dos salários, a classe dominante enriqueceria muito mais se mantivesse a capacidade de orientar esse exército de desempregados para a criação de riqueza da qual se apropriariam de boa (ou mesmo da melhor) parte. Por vezes lá conseguem encontrar uma saída para a crise, outras vezes são substituídos por outras pessoas com mais ideias sobre o que se fazer.
Para ilustrar uma actividade que já não existe em Portugal mostro uma instantâneo que tirei no Verão de 1980 no cais de Portimão, quando um barco de pesca artesanal estava a ser descarregado enviando o peixe (suponho que sardinhas) dentro de uma canastra de vime, do barco para o cais. O processo exigia alguma perícia e muito bons músculos de quem estava no barco mas era raro ver peixes a cair da canastra e não me lembro de ter visto alguma canastra perder-se na sua viagem aérea. No barco vêem-se dois homens, que talvez se revezassem na tarefa mais pesada de arremesso da canastra, enquanto na recepção do lado do cais está apenas um homem, de avental e botas.
Como é habitual nestes gestos muitas vezes repetidos há uma elegância de movimentos e uma economia de energia que resulta do treino. De uma forma geral a canastra ia com a velocidade necessária para se imobilizar no ar ao alcance do homem no cais, momento em que ele a recolhia e despejava o conteúdo num tabuleiro com gelo previamente preparado.
A foto anterior é um detalhe desta versão mais completa que apresento a seguir. Nessa altura o cais de Portimão era usado para os barcos de pesca. Agora é usado para embarcações de recreio, tendo o porto de pesca passado para o concelho de Lagoa, na outra margem da ria do Arade.
Já nessa altura os Portugueses gostavam do trabalho, sempre que se vê alguém a trabalhar junta-se frequentemente uma pequena multidão de mirones admirando a actividade. Os barcos de pesca da foto ou foram convertidos para passeio ou foram para abate, já não se pesca em barcos daqueles, e não foi assim há tanto tempo.
2012-08-18
Calçada Portuguesa
Estou de férias o que explica uma menor regularidade nos posts deste blogue.
Entretanto no outro dia, ao passar pelo Chiado, vi este desenho nas pedras da calçada da Rua Garret, ao pé do café "A Brasileira", para o lado da Rua do Carmo:
Além de o ter fotografado tentei decifrar o que parecia ser um código QR com a aplicação do meu telemóvel, tendo obtido o endereço http://bin.pt/lx/ que me levou a esta página sobre a Calçada Portuguesa, onde me informaram que tinha acabado "DE LER O PRIMEIRO CÓDIGO QR DO MUNDO FEITO EM CALÇADA PORTUGUESA", a que se seguiam algumas informações para turistas.
Achei a ideia muito engraçada, deixo aqui uma imagem do código sem a deformação da tomada de vista:
Entretanto no outro dia, ao passar pelo Chiado, vi este desenho nas pedras da calçada da Rua Garret, ao pé do café "A Brasileira", para o lado da Rua do Carmo:
Além de o ter fotografado tentei decifrar o que parecia ser um código QR com a aplicação do meu telemóvel, tendo obtido o endereço http://bin.pt/lx/ que me levou a esta página sobre a Calçada Portuguesa, onde me informaram que tinha acabado "DE LER O PRIMEIRO CÓDIGO QR DO MUNDO FEITO EM CALÇADA PORTUGUESA", a que se seguiam algumas informações para turistas.
Achei a ideia muito engraçada, deixo aqui uma imagem do código sem a deformação da tomada de vista:
2012-08-10
O Fim do Trabalho
Talvez pela minha educação católica sempre mantive alguma distanciação em relação ao trabalho, que diz na Bíblia ser um castigo devido ao pecado original. Era portanto coisa que se tinha que suportar mas pela qual não era necessário ter grande entusiasmo. Nos anos 60 do século XX, nos tempos em que a cultura francesa ainda tinha uma presença significativa em Portugal, falava-se da Civilisation des loisirs que verifiquei agora ter uma entrada na Wikipédia que, curiosamente ou talvez nem tanto, existe apenas numa versão em língua francesa! Em Português diz-se “Civilização do Lazer” enquanto em inglês, os súbditos de sua majestade usam o termo “Leisure class”, sugerindo assim que o lazer se deveria restringir a uns happy few.
Já não me lembro se cheguei a ler “O Direito à Preguiça” de Paul Lafargue”, editado em português provavelmente pela Dom Quixote, mas de certeza que li pelo menos algumas passagens e que simpatizei com a ideia geral de que não se deve viver obcecado pelo trabalho.
Claro que existem trabalhos muito interessantes e absorventes mas, sendo infrutífero andar explicitamente à procura da felicidade, a via do trabalho obsessivo não será melhor do que qualquer outra.
Nesses tempos li que a “Civilização do Lazer” não seria nenhuma pêra doce, as pessoas habituadas a horários de trabalho muito extensos teriam dificuldades em se adaptar a horários mais reduzidos, pelo que me preparei cuidadosamente para a nova situação, infelizmente em vão.
Quando entrei na CPE (Companhia Portuguesa de Electricidade) em Maio/1976, o horário semanal dos engenheiros era de 36 horas. Entretanto, na criação da EDP em Julho/1976, houve um movimento de uniformização de horários de trabalho (existiam empresas que foram integradas na EDP em que alguns dos trabalhadores tinham 48 horas de trabalho semanal, 8 horas/dia, 6 dias/semana) adoptando-se o horário único de 40 horas/semana, com um ligeiro aumento do salário para compensar a passagem das 36 para 40 horas, aumento esse rapidamente erodido pela inflação elevada da época.
Na altura havia imenso desemprego (para os padrões de então...) e já nessa altura me parecia absurdo aumentar o horário de trabalho quando existiam tantos desempregados, mas parece ser uma idiossincrasia própria, nenhum governante alguma vez partilhou esta minha opinião.
Os sindicatos são também pouco sensíveis à redução do horário de trabalho, com consequente redução do salário, talvez receiem admitir que os trabalhadores poderiam viver com um salário ligeiramente menor.
O meu interesse por estes temas levou-me a ler recentemente o livro de Jeremy Rifkin “The End of Work”, publicado em 1995, em que o autor defende a tese que, enquanto nas revoluções económicas anteriores a supressão de postos de trabalho num sector era compensada pela criação de novos postos de trabalho noutro sector, estamos agora a assistir à supressão de postos de trabalho no sector de serviços a que não corresponde a criação de postos de trabalho em número equivalente em nenhum outro sector.
Dadas estas circunstâncias seria necessário desligar o acesso a um rendimento de subsistência da prestação de trabalho remunerado para uma parte significativa da população, incapaz de encontrar um posto de trabalho adequado às suas capacidades. Em Portugal, no final de Junho/2012 cerca de 339 000 pessoas recebiam o Rendimento Social de Inserção, número impensável há poucas décadas e que continua a crescer.
Não sei o que nos reserva o longo prazo quanto à evolução do número de pessoas a receber RSI ou uma prestação semelhante mas este mini-armazém robotizado que fotografei numa farmácia em Portimão
em que o funcionário ao balcão escrevia o nome do remédio no computador e a respectiva embalagem aparecia passados instantes numa abertura na parede por trás do balcão, não augura grande futuro de emprego, por exemplo, aos trabalhadores que antigamente arrumavam as embalagens dos remédios nas estantes das farmácias. Disseram-me depois que os próprios robots, além de irem buscar as embalagens, também as arrumam nas prateleiras!
2012-08-08
Mulher misteriosa
Gosto muito desta imagem a preto e branco de uma mulher com capuz, em princípio, dado parecer mais mulher do que homem:
Muitas vezes esta imagem é usada como pequeno ícone identificador de pessoas que optaram por não usar uma foto própria.
Trata-se de um caso de sucesso do minimalismo realista (acabo de inventar o termo), com bastante detalhe nos sombreados mas ao mesmo tempo restringindo-se ao essencial.
Acho que deveria ser mais fácil identificar o autor destas imagens aparentemente simples. Por exemplo no caso do logo da RATP (metro parisiense) ainda não sei quem foi o autor dum símbolo que aparece aos milhares por toda a cidade de Paris. "Arrastando" o nome dum ficheiro de imagem para dentro do rectângulo do "Google imagens" aparecem muitos sítios onde esta imagem é usada mas no caso deste tipo de imagens costuma ser difícil encontrar o autor.
Neste caso encontrei neste sítio uma versão sem gradiantes de cinzento
que modifiquei para reaver o fundo preto no canto inferior direito (em sítios onde o fundo não seja preto, neste blog que tem fundo preto, não se nota diferença...)
e vi neste sítio esta foto colorida
que podeira ter inspirado a primeira imagem deste post ou, ter sido inspirada por ela.
Este post mostra bem o carácter abstracto da primeira imagem (a minha preferida) em relação à última.
Muitas vezes esta imagem é usada como pequeno ícone identificador de pessoas que optaram por não usar uma foto própria.
Trata-se de um caso de sucesso do minimalismo realista (acabo de inventar o termo), com bastante detalhe nos sombreados mas ao mesmo tempo restringindo-se ao essencial.
Acho que deveria ser mais fácil identificar o autor destas imagens aparentemente simples. Por exemplo no caso do logo da RATP (metro parisiense) ainda não sei quem foi o autor dum símbolo que aparece aos milhares por toda a cidade de Paris. "Arrastando" o nome dum ficheiro de imagem para dentro do rectângulo do "Google imagens" aparecem muitos sítios onde esta imagem é usada mas no caso deste tipo de imagens costuma ser difícil encontrar o autor.
Neste caso encontrei neste sítio uma versão sem gradiantes de cinzento
que modifiquei para reaver o fundo preto no canto inferior direito (em sítios onde o fundo não seja preto, neste blog que tem fundo preto, não se nota diferença...)
e vi neste sítio esta foto colorida
que podeira ter inspirado a primeira imagem deste post ou, ter sido inspirada por ela.
Este post mostra bem o carácter abstracto da primeira imagem (a minha preferida) em relação à última.
2012-08-05
2012-08-01
Eficiência energética
Consumir menos energia consegue-se de várias formas. Uma via possível é usar máquinas com um melhor rendimento energético, por exemplo para o Ar Condicionado, melhores técnicas de construção e melhores materiais de isolamento térmico. Outra via é adoptar um estilo de vida menos consumidor de energia, por exemplo evitando usar pistas de gelo durante o Verão em países quentes, andar com roupas quentes no Inverno e frescas no Verão, etc.
Como no último post referi um exemplo negativo, no que respeita à eficiência energética, de um estilo de vida, desta vez vou referir um exemplo que me parece positivo, na mesma Praia da Rocha.
Aproveito para documentar a construção do bom exemplo, que ocorreu no ano de 2006. Nesse ano em Março as diversas construções precárias dos restaurantes e bares de praia tinham sido desmanteladas e procedia-se à instalação das canalizações necessárias numa sociedade civilizada:
posteriormente, em Junho de 2006 o passadiço de madeira já estava colocado, bem como a maior parte dos módulos dos bares e restaurantes e respectivos serviços de apoio. Notar que os arcos de madeira que iriam posteriormente suportar os toldos ainda estavam na areia:
Em Julho de 2006 as obras já estariam concluídas. Porém, só em Julho de 2008 tirei a última foto desta série, trata-se do edifício actual do Restaurante Bar Atlântico, estabelecido desde o ano de 1976, embora então numa construção menos bonita e mais em cima da falésia:
Para uma validação completa seria necessário ter acesso aos estudos sobre o ciclo de vida total desta construção mas à primeira vista parece uma solução muito boa, em que o tecto do restaurante está protegido dos raios directos do sol pelo toldo suportado pelas vigas curvas de madeira. A parte envidraçada está protegida do vento quando necessário. As peças de metal darão maior resistência e leveza ao conjunto.
Das muitas vezes que lá tenho comido, nomeadamente os filetes de peixe galo, o arroz de marisco e os camarões grelhados acompanhados de arroz branco sempre achei que, além da comida, a temperatura ambiente estava sempre muito agradável, não sendo necessário usar qualquer aparelho de ar condicionado.
Como no último post referi um exemplo negativo, no que respeita à eficiência energética, de um estilo de vida, desta vez vou referir um exemplo que me parece positivo, na mesma Praia da Rocha.
Aproveito para documentar a construção do bom exemplo, que ocorreu no ano de 2006. Nesse ano em Março as diversas construções precárias dos restaurantes e bares de praia tinham sido desmanteladas e procedia-se à instalação das canalizações necessárias numa sociedade civilizada:
posteriormente, em Junho de 2006 o passadiço de madeira já estava colocado, bem como a maior parte dos módulos dos bares e restaurantes e respectivos serviços de apoio. Notar que os arcos de madeira que iriam posteriormente suportar os toldos ainda estavam na areia:
Em Julho de 2006 as obras já estariam concluídas. Porém, só em Julho de 2008 tirei a última foto desta série, trata-se do edifício actual do Restaurante Bar Atlântico, estabelecido desde o ano de 1976, embora então numa construção menos bonita e mais em cima da falésia:
Para uma validação completa seria necessário ter acesso aos estudos sobre o ciclo de vida total desta construção mas à primeira vista parece uma solução muito boa, em que o tecto do restaurante está protegido dos raios directos do sol pelo toldo suportado pelas vigas curvas de madeira. A parte envidraçada está protegida do vento quando necessário. As peças de metal darão maior resistência e leveza ao conjunto.
Das muitas vezes que lá tenho comido, nomeadamente os filetes de peixe galo, o arroz de marisco e os camarões grelhados acompanhados de arroz branco sempre achei que, além da comida, a temperatura ambiente estava sempre muito agradável, não sendo necessário usar qualquer aparelho de ar condicionado.
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