A referência que fiz ao arcebispo de Cantuária no penúltimo post fez-me pensar em Amartya Sen, autor de origem indiana, prémio nobel da economia, cidadão do mundo que se insurge neste livro, escrito em inglês e editado em português pela Tinta da China em 2007, contra a política do multiculturalismo que tenta encerrar cada criança na comunidade em que nasceu, dificultando a sua integração na sociedade de acolhimento.
A argumentação principal diz que todos nós pertencemos a muitos grupos que constituem a nossa identidade e em classificar como errado e muito perigoso eleger apenas um desses grupos como a característica essencial que distingue os seres humanos.
Nessa situação é possível fazer uma classificação dicotómica, os nós e os eles, o que cria tentações, que não ocorrem quando as múltiplas classificações se sobrepõem.
Reconheço alguma dificuldade na aceitação desta tese para pessoas que vivam intensamente a sua religião, pois tenderão a considerar essa pertença como mais importante que qualquer outra.
Gosto da forma como ele escreve, aprecio a contribuição não ocidentocentrica e acho que é um homem de boa vontade. Recomendo a leitura.
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1 comentário:
Obrigada pela apresentação do livro - fiquei com alguma vontade de comprar. Quer dizer: eu com muita vontade, mas a minha carteira a retrair-se, que já se sabe como é quando vou a livrarias em Portugal...
Parece-me que o problema não é tanto a religião. Afinal de contas, há entre "nós" cristãos ultra-fundamentalistas que ninguém se lembraria de meter noutra gaveta do multi-culturalismo. Esta é mais para os "pretos" e os "árabes".
E o problema das gerações seguintes não é propriamente a cultura onde os arrumam, mas o facto de também os pais estarem desenraízados - no fundo, a ausência da cultura original, e a recusa da cultura do país onde vivem. Talvez isto explique o recurso ao fundamentalismo religioso como a única amarra forte.
(foi mais um bocadinho de "sociologia de café", especialidade minha)
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