2012-08-27

O fim do(s) trabalho(s) - 2


Estando actualmente em férias parece-me apropriado continuar a falar sobre o fim do trabalho. Num ensaio mais sério ter-se-ia que começar por definir melhor o conceito de "trabalho" mas aqui será definido simplesmente como uma actividade remunerada.

Custa-me a acreditar na tese de Jeremy Rifkin, expressa no livro "The End of Work" que referi em post anterior, de que o trabalho estaria em vias de extinção. A remuneração quando legítima de uma actividade corresponde a uma das formas existentes de manifestação de apreço da comunidade ou de  seus representantes por essa actividade do trabalhador.

Seria estranho que a sociedade prescindisse num futuro próximo de qualquer forma de pressão sobre os seus membros para orientar a sua actividade. Mas à medida que aumenta a eficácia com que se conseguem obter os meios necessários a uma subsistência considerada aceitável em cada época, tem-se assistido a uma tendência para um menor tempo de trabalho ou, pelo menos, para uma menor penosidade do trabalho. Tentar inverter essa tendência geral representa uma resistência à mudança, compreensível quando a parte mais retrógrada da classe dominante consegue aceder ao poder, como acontece actualmente em Portugal.

Diria ainda que as crises económicas acompanhadas de grande desemprego, como a que vivemos actualmente, mostram uma incapacidade da classe dominante desempenhar o seu papel. Embora a criação de um exército de desempregados aumente o seu poder negocial na definição dos salários, a classe dominante enriqueceria muito mais se mantivesse a capacidade de orientar esse exército de desempregados para a criação de riqueza da qual se apropriariam de boa (ou mesmo da melhor) parte. Por vezes lá conseguem encontrar uma saída para a crise, outras vezes são substituídos por outras pessoas com mais ideias sobre o que se fazer.

Para ilustrar uma actividade que já não existe em Portugal mostro uma instantâneo que tirei no Verão de 1980 no cais de Portimão, quando um barco de pesca artesanal estava a ser descarregado enviando o peixe (suponho que sardinhas) dentro de uma canastra de vime, do barco para o cais. O processo exigia alguma perícia e muito bons músculos de quem estava no barco mas era raro ver peixes a cair da canastra e não me lembro de ter visto alguma canastra perder-se na sua viagem aérea. No barco vêem-se dois homens, que talvez se revezassem na tarefa mais pesada de arremesso da canastra, enquanto na recepção do lado do cais está apenas um homem, de avental e botas.



Como é habitual nestes gestos muitas vezes repetidos há uma elegância de movimentos e uma economia de energia que resulta do treino. De uma forma geral a canastra ia com a velocidade necessária para se imobilizar no ar ao alcance do homem no cais, momento em que ele a recolhia e despejava o conteúdo num tabuleiro com gelo previamente preparado.

A foto anterior é um detalhe desta versão mais completa que apresento a seguir. Nessa altura o cais de Portimão era usado para os barcos de pesca. Agora é usado para embarcações de recreio, tendo o porto de pesca passado para o concelho de Lagoa, na outra margem da ria do Arade.



Já nessa altura os Portugueses gostavam do trabalho, sempre que se vê alguém a trabalhar junta-se frequentemente uma pequena multidão de mirones admirando a actividade. Os barcos de pesca da foto ou foram convertidos para passeio ou foram para abate, já não se pesca em barcos daqueles, e não foi assim há tanto tempo.


Sem comentários: