2010-05-22

Meninas

A faixa branca a debruar o tchador, como aparece nestes exemplos fez-me lembrar uma












figura, do famoso quadro “As Meninas” pintado por Velazquez em 1656, em exibição no museu do Prado em Madrid.



Quando recentemente me voltei a interessar por este quadro, constatei aqui que a senhora com alguma idade que parece uma freira se trata na realidade da Camareira-Mor (ou guarda-mor da princesa) Dona Marcela de Ulloa, com uma touca de viúva. Constata-se assim que esta tendência para tapar o cabelo das mulheres não é propriamente uma originalidade islâmica. O que será mais específico das sociedades islâmicas actuais será a lentidão com que os costumes evoluem, ainda por cima com frequentes retrocessos.

Por vezes vemos coisas que no Ocidente já só nos quadros, outras vezes só na memória de pessoas mais crescidas, como eu, que me lembro de que muitas viúvas camponesas em Portugal, além de se vestirem sempre de preto, não dispensavam um lenço preto com um nó por baixo do queixo, como a senhora da segunda foto, neste caso com uma ligeira fantasia. Mesmo assim havia uma grande diferença porque a imposição resultava de uma pressão social intensa mas não fazia parte da lei, situação diferente do Irão actual, onde estes temas estão legislados.

Mas a razão porque me interessei recentemente por este quadro foi esta magnífica fotografia de publicidade do El Corte Inglés, acompanhada da frase “Bienvenido donde la moda es arte”



uma reinterpretação actual muito interessante do famosíssimo quadro, em que o pintor é agora um fotógrafo e as meninas são bastante mais crescidas, mantendo o ar “coquette” do quadro original. Curiosa a convergência para a adolescência dos protagonistas, as meninas mais novas a aumentarem a idade, a viúva e seu acompanhante a rejuvenescer o mesmo se tendo passado com o pintor/fotógrafo. Não sei porque é que o rapazinho que tocava com o pé no cão mudou de sexo. A touca de viúva foi substituída por um adereço para a cabeça, com a inestimável ausência de obrigatoriedade de uso.

Existe ainda outro traço comum entre os costumes de lá e de cá, que consiste num aumento do formalismo que é exigido à forma de vestir das mulheres, à medida que o tempo passa.

Nesta imagem tirada num jardim de Shiraz,



as meninas pequenas estão em turmas mistas com rapazes, podem usar cores garridas, manga curta ou mesmo cavas e cabelo ao vento mas as que tomam conta delas já estão com as calças, o casaco até acima do joelho e o véu a tapar o cabelo. Um dia destes talvez sejam pressionadas para usar o tchador.

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