2010-01-30

Véus, islâmicos?

Do jornal Expresso fiz há bastante tempo um "scan" de uma infografia com os vários tipos de véus "islâmicos", talvez tenha sido na altura da proibição do véu nas escolas francesas.








Entretanto no jardim Yu, uma atracção turística de Xangai construída há mais de 400 anos, num dia de Agosto de calor muito intenso mas de sol encoberto pelas nuvens, cruzei-me com este grupo de turistas em que a maioria das mulheres usava o véu "islâmico" mais simples, designado por Hijab.




Fiquei algo surpreendido com o "top" do homem mais jovem do grupo, com alças e um decote alargado, em forte contraste com o atabafamento da indumentária das mulheres, fazendo uma quase simetria com o que é mais habitual no Ocidente em que as mulheres usam frequentemente vestuário mais fresco do que os homens.

Recordei-me duma cena semelhante num hotel de Viena, também no Verão, em que o homem estava com uma blusa de alças e a mulher usava um Nikab, dificultando imenso a tomada do pequeno-almoço pois a porcaria do véu atrapalhava o trajecto da comida para a boca.

Do pouco que li sobre os preceitos do Islão em relação à forma de vestir ficou-me a ideia duma recomendação de recato e de uso de roupas não justas ao corpo, quer para homens quer para mulheres.

Destas duas vezes constatei portanto que enquanto as mulheres se iam submetendo a regras incómodas os homens se iam libertando delas. Enquanto no caso do Hijab me fico por esta crítica à eventual falta de conforto, considero o Nikab e a Burka num plano bastante diferente.

Considero um abuso a alegação de que o Islão exige o uso de tal indumentária, o regime de Purdah, de ocultação completa da mulher, tanto é seguido no Afeganistão e Paquistão por muçulmanos como no Noroeste da Índia por hindus, mas é muito pouco comum na Indonésia ou no norte de África. Dado que não faz sentido considerar que as muçulmanas magrebinas são más muçulmanas, somos levados à conclusão que a burqua e o nikab não passam de formas de opressão nascidas em certas zonas geográficas onde, por coincidência, se instalou o Islão.

O uso deste vestuário poderá fazer sentido num deserto, durante uma tempestade de areia, ou para proteger de ventos gelados, mas será sinal de opressão na maioria dos casos pelo que vejo com simpatia a sua proibição.

2 comentários:

Hanifa R. disse...

Achei informativo o seu post mas lamento que se refira ao véu como porcaria, pois para muitas mulheres tem um significado muito especial e íntimo. Reconheço que o véu que tapa o rosto não é uma obrigação, contudo as mulheres que o usam no Ocidente são na sua maioria mulheres que o usam por opção, aceitando de livre vontade o eventual desconforto que provoque em troca de uma recompensa a nível espiritual. Também é muito desconfortável usar saltos altos e roupa justa que quase impede os movimentos, contudo muitas mulheres aceitam esse sacrifício, mas é a escolha delas. Quando não é, isso já é outra história... Sou favorável sim à interdição e punição de todos aqueles que coagem uma mulher a tapar-se, seja com hijab ou niqab, seja a destapar-se e a usar roupa justa e desconfortável, para corresponder a um ideal machista de beleza, o que muitos empregadores fazem questão, e como já aconteceu comigo também. Agora em relação ao niqab, tenho uma grande amiga portuguesa que o usa por opção e é assim que ela se sente feliz,(mesmo com desagrado da família católica e indiferença da parte muçulmana) não a vejo limitada no seu dia-a-dia, bem pelo contrário, é das mulheres mais activas e inteligentes que conheço. Tendo isto dito, de forma geral apreciei o seu artigo e imparcialidade.

jj.amarante disse...

Hanifa R, o termo "a porcaria do véu" será indelicado mas ocorreu-me a propósito das dificuldades criadas pelo nikab durante um pequeno almoço num hotel. Não tenho nada contra o uso do véu como acessório útil de indumentária mas desagrada-me quando se transforma num fetiche incómodo ou quando é usado para isolar as mulheres dos outros seres humanos (caso apenas do nikab e burka). Acho estranho que o conforto espiritual dado alegadamente pelo véu não esteja objectivamente acessível aos homens, que nunca vi usarem nikab ou burka. Também me parece uma parvoíce que as mulheres usem saltos altos que lhes irão causar dores nas costas ou roupas que lhes dificultemm os movimentos e poderia ter dito também que estava farto da porcaria dos saltos altos.