Anteontem tive muita pena quando tomei conhecimento de que a catedral Notre-Dame de Paris estava a arder.
Era um sítio que eu tentava sempre visitar de cada vez que passava por Paris e onde me sentia muito bem.
Acho que a minha última visita foi em 2009, quando numa excursão à China se fez uma escala em Paris implicando uma espera de 5 horas no aeroporto, que aproveitei para uma ida e volta no RER com visita curta à catedral de que então fotografei a fachada
e os dois vitrais do transepto que mostrei
neste post.
Parece estranho que um incêndio desta dimensão possa ocorrer, como parece mais provável, devido precisamente a obras em curso de reparação da catedral. Estes incidentes relembram-nos que quando as actividades humanas correm bem, esse facto não se deve apenas a vivermos no século XXI e numa civilização muito desenvolvida mas também porque nessa actividade específica foi colocada muita dedicação e cuidado pelos seres humanos responsáveis pela sua execução.
Tenho lido algumas notícias que tratam este evento como o fim desta catedral com centenas de anos, ou o sinal de decadência inexorável da França, da Europa , ou talvez mesmo da civilização ocidental. Esta forma de respeito pelo legado da História tem aspectos curiosos pois revela falta de conhecimento dessa mesma história.
Um monumento como a catedral de Notre-Dame cuja construção se iniciou no século XII e “terminou” no século XIV, sofreu certamente ao longo do tempo numerosas vicissitudes.
Na Wikipédia referem que a catedral chegou ao século XIX em bastante mau estado, tendo sido recuperada por obras que duraram 25 anos, datando dessas obras a espira que agora foi vítima do incêndio.
Nos anos 60 do século XX, com o abandono do uso do carvão no aquecimento das casas citadinas, substituído por combustiveis líquidos, por gás ou por aquecimento eléctrico, houve por toda a Europa uma operação de limpeza da pedra de numerosos monumentos e as catedrais de paredes negras regressaram finalmente à sua cor mais ou menos original. Durante décadas a população foi privada da cor da pedra usada na construção das catedrais, tendo de se contentar com uma cobertura preta incaracterística.
Certamente que imensos pormenores da catedral estão exaustivamente registados tornando possível uma recuperação da maior parte do que se perdeu, dando ainda lugar a animadas discussões sobre as obras necessárias.
No fundo o que se perdeu foi mais o usufruto pleno da catedral durante uns tantos anos.
Neste
sítio da BBC têm uma descrição bastante completa do que se passou e publicaram estas fotos elucidativas da evolução do incêndio
e mais estas do colapso do pináculo central
e este desenho mostrando as partes mais atingidas:
O incêndio parece ter começado no pináculo e propagou-se depois às numerosas vigas de madeira que suportavam o telhado da catedral. No entanto, boa parte dessas vigas não chegaram a cair no chão por terem ficado retidas pelas abóbodas em pedra que formam o tecto da catedral. Houve contudo parte dessa abóboda que cedeu ao peso do telhado.
Termino referindo outro post deste blogue intitulado “
Construindo e destruindo catedrais” em que tenho algumas imagens do magnífico livro do David Macaulay explicando como construíam as catedrais, e algumas fotos da destruição de Gdansk (antiga Dantzig).
Temos gozado décadas de paz na Europa devido à União Europeia e as guerras no continente eram bastante mais nefastas (para usar um eufemismo) para os edifícios em geral e as igrejas em particular do que estes incêndios acidentais.